Por Ronaldo Faria
As ruelas eram estreitas naquilo
que manda serem as ruelas de favela. Se as portas abrissem para fora, alguém
teria de esperar um entrar pra sair ou sair pra poder entrar. Nelas, nem preá
conseguia fazer rodízio de cria. Mas Veneranda, dessas que se venera desde o
nascimento, conseguia seguir por todas como fosse cabrocha em dia de desfile de
escola de samba. Driblava cada esquina no seu microscópico tamanho de milímetros
quadrados, onde até quadrilátero de palmos era de difícil existir, como fosse
uma das tantas moscas que habitavam o lugar. E ia com as coxas a brilharem no
sol sob o céu que coloria cada passo que dava. Por onde passava até as
biqueiras pediam para o movimento parar. Algo mais importante que trocar gramas
por cédulas ou cartões de crédito estava a acontecer. Veneranda descia o morro
para o asfalto à sua beleza se render.
O mês era de fevereiro. Quente como todo fevereiro brasileiro, a ver descer chuva vez ou outra a derramar águas, encher ruas e desaguar em esgotos cheios de entulhos. Nessas horas a moçada tinha de correr para salvar os bagulhos. E quem tinha janela que pudesse fechar se mandava de um cômodo ao outro para cerrar a vista do concreto do vizinho defronte. Mas, se Veneranda estivesse na rua, o tal de Pedrão do Céu, esse que dizem cuidar do departamento de águas do além, segurava a válvula e xingava o anjo mais puxa-saco que quisesse ver o tempo cair. “Seu babaca de asas de bosta, quer molhar aquilo que Deus resolveu fazer como exemplo maior de beleza? Está suspenso por um século. Vá pro limbo pensar na merda que queria fazer!” E assim o tempo escurecia, carregava de nuvens negras, mas continuava límpido até que Veneranda chegasse ao seu destino.
Um dia, porém, nesses dias que nem o Criador consegue ter explicação plausível, Veneranda encontrou Fausto, ser infausto que ninguém consegue dizer a que veio. De metrô, mototáxi, alternativo ou busão? Ninguém conseguia responder. Sabia-se apenas que ele estava lá, próximo dos olhos de Veneranda, a desbotar da cena que podia se esperar no desesperar do fim. Ser que se não tivesse conseguido vingar do parto difícil que sua mãe (Quitéria o teve quase como diarreia), não teria feito falta nenhuma ao mundo. Contudo, nesses absurdos que a trama da escrita dá, perpetuou sua chegada. E conquistou a mulher que todos, todas e todes mortais queriam ter. Nele, Veneranda entregou tudo aquilo que tinha. E fez-se amante e única. Virou joguete do destino e sua voz, em falsete, disse que era dele até a morte todo o seu viver. O mundo estava fadado a perdê-la ao sempre. Mas, para sorte do texto, sem pretexto milicianos invadiram o local e numa bala achada o peito de Fausto se encontrou. No enterro, além dela, linda, viúva nunca casada em cascatas de lágrimas, um surdo batia e marcava a felicidade de milhares de olhos que sabiam que o luto um dia iria acabar. E nesse cessar, Veneranda de novo seria a imaginação da fábula milenar. Do alto, até a lua resolveu brotar para festejar...
O mês era de fevereiro. Quente como todo fevereiro brasileiro, a ver descer chuva vez ou outra a derramar águas, encher ruas e desaguar em esgotos cheios de entulhos. Nessas horas a moçada tinha de correr para salvar os bagulhos. E quem tinha janela que pudesse fechar se mandava de um cômodo ao outro para cerrar a vista do concreto do vizinho defronte. Mas, se Veneranda estivesse na rua, o tal de Pedrão do Céu, esse que dizem cuidar do departamento de águas do além, segurava a válvula e xingava o anjo mais puxa-saco que quisesse ver o tempo cair. “Seu babaca de asas de bosta, quer molhar aquilo que Deus resolveu fazer como exemplo maior de beleza? Está suspenso por um século. Vá pro limbo pensar na merda que queria fazer!” E assim o tempo escurecia, carregava de nuvens negras, mas continuava límpido até que Veneranda chegasse ao seu destino.
Um dia, porém, nesses dias que nem o Criador consegue ter explicação plausível, Veneranda encontrou Fausto, ser infausto que ninguém consegue dizer a que veio. De metrô, mototáxi, alternativo ou busão? Ninguém conseguia responder. Sabia-se apenas que ele estava lá, próximo dos olhos de Veneranda, a desbotar da cena que podia se esperar no desesperar do fim. Ser que se não tivesse conseguido vingar do parto difícil que sua mãe (Quitéria o teve quase como diarreia), não teria feito falta nenhuma ao mundo. Contudo, nesses absurdos que a trama da escrita dá, perpetuou sua chegada. E conquistou a mulher que todos, todas e todes mortais queriam ter. Nele, Veneranda entregou tudo aquilo que tinha. E fez-se amante e única. Virou joguete do destino e sua voz, em falsete, disse que era dele até a morte todo o seu viver. O mundo estava fadado a perdê-la ao sempre. Mas, para sorte do texto, sem pretexto milicianos invadiram o local e numa bala achada o peito de Fausto se encontrou. No enterro, além dela, linda, viúva nunca casada em cascatas de lágrimas, um surdo batia e marcava a felicidade de milhares de olhos que sabiam que o luto um dia iria acabar. E nesse cessar, Veneranda de novo seria a imaginação da fábula milenar. Do alto, até a lua resolveu brotar para festejar...