Por Ronaldo Faria
Nem tudo que a gente sonha vira realidade. Na verdade, tudo vira apenas
saudade.
Josué, ensimesmado e pasmado, aperreado
e tragicômico, atônito e descerebrado, estava prostrado e agônico no limite
entre a agonia e fotofobia. Fóbico e antropofágico, convivia com suas alegrias
e sangrias mentais a torcer de que fossem somente alegorias do tempo que se esvaem
em volátil teia. Nela, a aranha arranha o último tecer do seu périplo em tear.
Josué, no féretro que cada dia
nos dá, procura à altura do seu crer o caminho a percorrer. E segue nos
descaminhos comovidos e vividos em próceres aquém. Vívidos quiçá (quiçá é tão bonito,
poético e definitivo que dá vontade de colocar em todo texto, quiçá). Um dia Josué
certamente será alguém. Afinal, para tudo há um decrépito e infindo amém.
Josué, no céu a lutar contra o
dono de lá, seja ele quem for, perpetua sua finitude para escrever em nome de
tantos mais que o fazem subscrever coisas que a morte não deixou outros e
outras a fazer. E aceita o limite entre a loucura e a sanidade. Sabe que a
orgia de um velho xaxado termina no visionário e incrédulo dicionário do certo
derrear.
Josué, meio bêbado no momento
em que o tormento se faz a morte de um ser vivo, viaja em virgens que se deitam
nuas e virginais para as incertas orgias sem fim. Na sóbria realidade que se esconde
em recônditos nunca descobertos, cobertas de cetim cobrem os corpos anciões que
um dia urgiram algo mais do que a angina. No derredor, em dó maior, o cantor
diz que a sombra a tudo ilumina. No futuro, a fúria de saber que para escrever
há de sobreviver à dor.
(Com o Grande Encontro 3)