Por Ronaldo Faria
-- Há anjos decaídos?
-- Com certeza. Eles são os anjos que, ao cobiçarem um poder que está acima daquilo que podem ter se entregam às trevas e ao pecado. Por isso mesmo são expulsos do Paraíso.
-- E o que acontece com eles?
-- Sei lá. Estou longe de ser um anjo. E nem nasci para sê-lo. Vivo em total desmazelo. Não me cabe profetizar sobre anjos. Talvez, quem sabe, falar de demônios. Esses atônitos seres que vivem aos prazeres carnais e fatais.
João e José, debruçados sobre a vida e a mesa de um bar, falavam de Antenor, amigo querido que deu adeus à vida há centenas e centelhas de dias antes.
-- Você acha que o Antenor foi pro céu?
-- O que é o céu?
-- Não sei dizer direito. Mas acho que deve ser algo bom. Desses lugares que vale a pena estar. Como aqui. Eu enxergo o céu como uma grande e fraterna mesa de bar. Onde pecadores, querubins, santos e nós possamos nos reunir e contar todas as mazelas e quimeras vividas. E entre um gole e outro nos entregamos à derradeira luxúria, sem tristezas ou lamúria.
-- Até que seria bom se fosse assim.
-- Mas deve ser. Ou esperemos que o seja. Afinal, há que se pensar o melhor para, quando encontrarmos a foice do fim, sabermos que nem tudo foi tão ruim.
-- Bem pensado.
-- Mas esqueçamos da morte e pensemos na vida. Amanhã, tal que foi hoje, será outro dia. Aves acordarão logo cedo para cantar ou piar, gente estará nas conduções lotadas para enfrentar duras horas de trabalho, mais bebês explodirão ao primeiro suspiro e outros tantos seres se perderão ao derradeiro respiro. Enfim, a roda da vida a seguir o rumo no seu prumo, desde que o mundo é mundo.
-- É verdade. Um brinde, portanto, à vida!
-- Um brinde!
-- Que o próximo minuto seja o início contínuo de tantos outros muitos e os vários outros tantos muitos.
Numa casa próxima soa Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565. Johan Sebastian Bach, do alto da eternidade, além de onde podemos crer ou imaginar, rege o órgão missal e um cravo. Logo mais o sol virá aplaudir a música das nuvens e, a se espreguiçar, verá que bonança chegará.
-- Com certeza. Eles são os anjos que, ao cobiçarem um poder que está acima daquilo que podem ter se entregam às trevas e ao pecado. Por isso mesmo são expulsos do Paraíso.
-- E o que acontece com eles?
-- Sei lá. Estou longe de ser um anjo. E nem nasci para sê-lo. Vivo em total desmazelo. Não me cabe profetizar sobre anjos. Talvez, quem sabe, falar de demônios. Esses atônitos seres que vivem aos prazeres carnais e fatais.
João e José, debruçados sobre a vida e a mesa de um bar, falavam de Antenor, amigo querido que deu adeus à vida há centenas e centelhas de dias antes.
-- Você acha que o Antenor foi pro céu?
-- O que é o céu?
-- Não sei dizer direito. Mas acho que deve ser algo bom. Desses lugares que vale a pena estar. Como aqui. Eu enxergo o céu como uma grande e fraterna mesa de bar. Onde pecadores, querubins, santos e nós possamos nos reunir e contar todas as mazelas e quimeras vividas. E entre um gole e outro nos entregamos à derradeira luxúria, sem tristezas ou lamúria.
-- Até que seria bom se fosse assim.
-- Mas deve ser. Ou esperemos que o seja. Afinal, há que se pensar o melhor para, quando encontrarmos a foice do fim, sabermos que nem tudo foi tão ruim.
-- Bem pensado.
-- Mas esqueçamos da morte e pensemos na vida. Amanhã, tal que foi hoje, será outro dia. Aves acordarão logo cedo para cantar ou piar, gente estará nas conduções lotadas para enfrentar duras horas de trabalho, mais bebês explodirão ao primeiro suspiro e outros tantos seres se perderão ao derradeiro respiro. Enfim, a roda da vida a seguir o rumo no seu prumo, desde que o mundo é mundo.
-- É verdade. Um brinde, portanto, à vida!
-- Um brinde!
-- Que o próximo minuto seja o início contínuo de tantos outros muitos e os vários outros tantos muitos.
Numa casa próxima soa Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565. Johan Sebastian Bach, do alto da eternidade, além de onde podemos crer ou imaginar, rege o órgão missal e um cravo. Logo mais o sol virá aplaudir a música das nuvens e, a se espreguiçar, verá que bonança chegará.