domingo, 25 de maio de 2025

Teatro, jazz e obras primas: West Side Story *

Por Edmilson Siqueira


 
O disco que tenho é uma cópia num CD que um amigo copiou e me deu de presente há vários anos. Caprichoso, ele reproduziu a capa do LP original para o tamanho de um CD, frente e verso. E no verso há um longo artigo, em português e sem assinatura que, por tomar toda a contracapa do LP, na versão CD diminuiu tanto o tamanho das letras que se torna necessário o uso de uma lupa para lê-lo. 
As obras-primas compostas pelo genial Leonard Bernstein são todas tocadas no disco pelo também genial Oscar Peterson Trio. O resultado dessa união de gênios da música não poderia dar em outra coisa: o disco é uma obra-prima que traduz, com rara sensibilidade e técnica, a essência de um dos maiores musicais da Broadway para a linguagem do jazz instrumental. 
Lançado em 1962, West Side Story do Oscar Peterson Trio, com a trilha da peça homônima de 1957 (e imortalizado no cinema em 1961), o álbum é mais do que uma simples adaptação: é uma reinvenção que homenageia e transcende o original.
 O disco foi gravado por aquela que é considerada a formação clássica do Oscar Peterson Trio: Peterson no piano, Ray Brown no contrabaixo e Ed Thigpen na bateria. Esta formação, ativa entre 1959 e 1965, ficou marcada pelo equilíbrio técnico e pela musicalidade fluída entre os músicos, com cada integrante contribuindo de maneira essencial para a sonoridade do grupo. Brown, com seu contrabaixo ágil e profundo, oferece uma base sólida e melódica, enquanto Thigpen traz uma abordagem sutil, de refinamento quase orquestral, com o uso magistral das escovas e dos pratos. No centro, Peterson atua como maestro e solista, exibindo sua impressionante combinação de virtuosismo, swing e lirismo.
Leonard Bernstein compôs a trilha de West Side Story com forte influência do jazz, da música erudita e dos ritmos latinos. A história moderna de Romeu e Julieta (é disso que se trata West Side Story) ambientada em Nova York oferecia um pano de fundo perfeito para experimentações sonoras. Peterson e seu trio, ao reinterpretar esse repertório, não apenas respeitam o material original como também o transformam com uma liberdade criativa característica do jazz.
 

A primeira faixa é “Something’s Coming”, marcada por mudanças de tempo, acentos rítmicos e uma sensação de expectativa que Peterson traduz com frases rápidas e mudanças súbitas de dinâmica. 
“Somewhere”, a segunda e talvez a faixa mais conhecida do musical, ganha um arranjo vibrante e rítmico, com o trio explorando sua estrutura polirrítmica em compassos alternados. Peterson faz uso do piano percussivo para evocar o espírito enérgico da peça, enquanto Thigpen introduz elementos rítmicos que remetem à música latina, mas sempre dentro do contexto do swing.
Em “Jet Song”, a terceira faixa a irreverência dos Jets ganha uma leitura cheia de groove e síncope, com destaque para o diálogo entre baixo e piano.
Faixas como “Tonight” (quarta) e "Maria" (quinta) revelam o lado mais lírico do trio. Em “Tonight”, a interpretação é marcada por uma beleza contida, com nuances que capturam a urgência romântica da canção original. Já em “Maria”, Peterson explora a melodia com delicadeza, evitando exageros e deixando espaço para a emoção aflorar nas pausas e nos toques sutis. O piano canta, por assim dizer, substituindo a voz com pleno domínio expressivo. 
A sexta faixa é "I Feel Pretty", um exercício bem-humorado do trio que esbanja entrosamento, marcado pelo ótimo improviso de Peterson e pela base forte de bateria e baixo. 
A última (são só 7 faixas, infelizmente), "Reprise" retoma o lirismo em que o trio se encaixa tão bem. Tomando ares de valsa-jazz em alguns momentos, a melodia escapa para nuances perfeitas, muito bem concatenadas, revelando que o disco West Side Story é mais do que um exercício de transposição de gêneros. Ele representa um verdadeiro diálogo entre dois mundos musicais: o teatro musical e o jazz de câmara. 
Oscar Peterson tinha vasta experiência em transformar standards da Broadway em peças jazzísticas, mas este álbum se destaca pelo desafio específico que representa: adaptar um musical inteiro, com suas mudanças de clima, ritmo e emoção, sem o uso da palavra cantada.
Aliás, por falar em palavra cantada, todas as músicas têm letras, que aqui não é oc aso, de Stephen Sondheim, considerado um dos reinventores do musical norte-americano.
Em suma, West Side Story com o Oscar Peterson Trio é um disco que, mais de seis décadas após seu lançamento, continua relevante e encantador. É uma ponte entre mundos, estilos e épocas, e um tributo à força da melodia, da improvisação e do encontro entre grandes mentes musicais.
O disco todo pode ser ouvido no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=LGb2wuT1p9o e pode ser encontrado em CD ou LP no Mercado Livre.
 
*A pesquisa para este artigo foi auxiliada pela IA do ChatGPT.

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