Por Ronaldo Faria
-- Reduzi o remédio do tédio
ao meio. Descobri que ele atacava o fígado. Pode um fármaco ser tão famigerado?
-- Não, não pode.
Quase de bode, Belisário, emissário de si mesmo, concorda com tudo que ainda o faz acordar. De acordo com as premissas que nem o padre consegue dissecar na missa, segue impoluto. Um mero puto, diriam.
-- Lembrar do Leblon, do Méier, da Tijuca, das desventuras e bem-aventuranças do passado é um erro?
-- Acho que não. Mas quem sou eu, um não-sonhador, para responder?
Cheio de nenhuma resposta e postas de peixe que nunca chegaram para ele comer, Belisário é apenas uma pena volátil que cai do céu onde nunca saberemos o fim. O pássaro que a largou em pleno voo poderá ser uma mera pomba pública e voraz ou um beija-flor no seu parar de asas a rimar poesia e fútil cruz.
-- Amanhã será já sabemos como. Mas fugir do seu destino em desatino é muita covardia?
-- Essa eu sei responder. É!
Menino e solitário, no sacrário que o destino concebeu, Belisário permanece concebido e enternecido, renascido, no silêncio que a noite traz. O que lhe apraz? Pouco ou nada. Rouco quando redescobre a alegria de viver nas mesas de bar, cercado de gente que à pena ser, seu caminho é um desritmado surgir de tempos em tempos, transversos caminhos fúteis, famigerados e famélicos aninhos entre os seios da amada, a acordar na madrugada para fazer a cama, enlouquecida, viajar e rodar no quarto.
-- O
amor pode resistir à distância, mesmo que ela esteja perto?
-- Com certeza. Na frieza da realidade, a fugidia ternura dormirá retinta de sangue que o coração apaixonado ainda tinge a cada madrugada vadia.
Depois de tal explicação, Belisário, arcaico senhor de suas saudades suadas e ímpias, entre lagoa de sapos e porres de vodka nas ondas do mar, se submete à vida. Logo mais dormirá, terá pesadelos, anginas, prazeres refeitos. Será, enfim, um ser normal. No local, ninguém, em sã consciência, dará aval.
-- Não, não pode.
Quase de bode, Belisário, emissário de si mesmo, concorda com tudo que ainda o faz acordar. De acordo com as premissas que nem o padre consegue dissecar na missa, segue impoluto. Um mero puto, diriam.
-- Lembrar do Leblon, do Méier, da Tijuca, das desventuras e bem-aventuranças do passado é um erro?
-- Acho que não. Mas quem sou eu, um não-sonhador, para responder?
Cheio de nenhuma resposta e postas de peixe que nunca chegaram para ele comer, Belisário é apenas uma pena volátil que cai do céu onde nunca saberemos o fim. O pássaro que a largou em pleno voo poderá ser uma mera pomba pública e voraz ou um beija-flor no seu parar de asas a rimar poesia e fútil cruz.
-- Amanhã será já sabemos como. Mas fugir do seu destino em desatino é muita covardia?
-- Essa eu sei responder. É!
Menino e solitário, no sacrário que o destino concebeu, Belisário permanece concebido e enternecido, renascido, no silêncio que a noite traz. O que lhe apraz? Pouco ou nada. Rouco quando redescobre a alegria de viver nas mesas de bar, cercado de gente que à pena ser, seu caminho é um desritmado surgir de tempos em tempos, transversos caminhos fúteis, famigerados e famélicos aninhos entre os seios da amada, a acordar na madrugada para fazer a cama, enlouquecida, viajar e rodar no quarto.
-- Com certeza. Na frieza da realidade, a fugidia ternura dormirá retinta de sangue que o coração apaixonado ainda tinge a cada madrugada vadia.
Depois de tal explicação, Belisário, arcaico senhor de suas saudades suadas e ímpias, entre lagoa de sapos e porres de vodka nas ondas do mar, se submete à vida. Logo mais dormirá, terá pesadelos, anginas, prazeres refeitos. Será, enfim, um ser normal. No local, ninguém, em sã consciência, dará aval.