quarta-feira, 9 de abril de 2025

A Cazuzar

 Por Ronaldo Faria


Na Zona Sul, depois que o azul do céu já deixou o lugar, bêbados, sonhadores, fumeiros, poetas, profetas e milagreiros infestam o Baixo Leblon. Talvez um desabrigado de tetos, o saudoso de tetas, desafetos da vida, batalhão de auto-homicidas (se é assim que se escreve) ou suicidas. Pouco importa. Na porta fechada ninguém bate. E coração estraçalhado não se abre.
Ps.: coloque-se tudo acima no feminino e tudo que todes podem ser...
A ver as ondas reverberarem o barulho de espumas e mares ou marés, José e Kátia, catadores de sílabas e sons, solidões e tons, seguem a pisar a noite em grãos de areia e infinitas saudades. As maldades ficaram bem atrás, num mundo que ninguém mais traz. Sonhar? Saber-se-á. No raiar do amanhã, no afã de querer estar noutro lugar, talvez ambos ainda percorram os muitos bares que o bairro dá. O cheiro de brisa que vem do oceano e dos cigarros ciganos é só o que faz as luzes dos postes prostrar a solidão. Na imensidão que posterga o fim logo ali na frente, o infame drama daqueles que buscam a sensação de poder ser. Na Avenida Delfin Moreira, o definhado mendigo pede trocados e piedade. Nos prédios de milhões, a dúvida é chegar na meta ou dobrar depois que ela chegar.
José e Kátia tomam a chuva fina que cai dos céus da vida e das emoções. O lugar que os acolheu, não há mais. Os tempos mudaram. Fratricidas de si mesmos, descobrem que não há porque se machucarem pela pessoa errada. No mundo, não existe contos de fadas. Fodas talvez. E apenas sofismas em cataclismos de lábios conectados e a frase para a amiga da Barra: “Dedicaram um livro pra mim!” Por fim, no fim de correr e percorrer a Floresta da Tijuca, factível ensejo do desejo da índia primeira, as curvas do carro transbordam de certeza e sina a cisma de saber que não há para onde chegar. Ao fim de tudo, apenas o mar, sorrisos, corpos limítrofes a se tocar, carícias de abrir e fechar o lugar que Tom Jobim fazia questão de estar. Assim, personagens e performances abruptos rompidos e rasgados sem saber em que horas estão, viram passado, histórias histriônicas a relembrar saudades desmesuradas em engano. Porquanto, só pra rimar, a incerteza de que alguém voltará a atender o telefone e, após milhões de dias dizer, resoluta: “José?”

Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito

 Por Ronaldo Faria Óculos trocado porque o outro estava embaçado. Na caça da catraca de continuar a viver ou da contradança do crer vai ag...