Por Ronaldo Faria
Na esteira da contrapartida que nem a efeméride da vida dá, o orfeão
mostra que o ouvir das falácias se torna realidade a quem pensa ser feliz...
Quase um Quasimodo, personagem em viagem eterna na busca da essência, sem a malemolência que precisaria ter, sabe que está só. Na solicitude de si, toca os dias e diásporas como se ainda quisesse viver. Mas ele sabe que tudo isso é mero enguiço do carro que nunca dirigiu e frigiu seus pneus e ovos numa pantomina irrisória e simplória.
No bar enegrecido e perdido no mundo que pranteia mil plateias inexistentes e tardias, Belisário bordeja nas bordas que se formam entre a sanidade e a loucura. Logo mais chegará um novo e velho dia. Desde logo ele saberá ser um eterno passado. O segundo do presente é secundário e o futuro é somente uma semente que não germina infinda.
No passado que se faz passadio interminável, a intragável chegada da alma penada que se arrasta em correntes e tormentas no imbricado sortilégio do acaso. Talvez uma alva alma transtornada e atávica. Senão, o menino a se esconder em cobertas rasgadas, nos rasgos que são mais do que um ventre que no primeiro choro externo se põe a vender.
Belisário, ator, diretor, autor e plateia da casa de espetáculos com seus mil tentáculos, rompe a temporalidade que é ser. Entre aplausos e vaias, bilheteria perfeita e cadeiras vazias, merdas ditas em vão no camarim, segue a viver. Na semeadura inglória do terreno seco se faz a planta morta que decide renascer e se encher de flores amarelas e vivas, vívidas de beijar.
Na inerte veste, vetusta tragicomédia, o reviver que nem a melhor cena da extinta Cinédia traria ao lugar. Na criação da ação longínqua, a ilusória e utópica mansidão que só os anos que se foram e não mais virão dão. Mas, na incrédula célula que sobrevive, os sons etéreos e efêmeros que povoam a loucura genética e frenética de não se saber e sequer viver.