Por Edmilson Siqueira
"Começamos nesta estrada há mais de anos, quando nos
reunimos pela primeira vez, mais ou menos por acaso, um pouco à mesma maneira
como acontece, nos anos 1930 com o grupo que nos serviu de inspiração, o
quinteto do Hot Club de France."
Assim Ernani Teixeira, o violino do Hot Jazz Club, inicia
o texto do encarte que acompanha o disco Caravane, gravado em 2014. O grupo é
de Campinas e é mais uma mostra da excelente produção musical da cidade, com
suas centenas de bares com música ao vivo, e com a Orquestra Sinfônica
Municipal e da Unicamp, além do curso de Música também da Unicamp a atraírem
cada vez mais talentos e dar a eles a oportunidade de se firmarem em carreiras
musicais distintas.
O Hot Jazz Club que deve ter se formado por volta de
2004, é um desse grupos que alia talento e criatividade numa formação um tanto
inusitada: violino, violão cigano, guitarra e contrabaixo acústico.
Com essa formação, a influência maior, além do Hot Club
de France, não poderia ser outra além de dois gênios da música em geral e do
jazz em particular. O próprio Ernani nos revela no texto do encarte: "A
longa tradição do jazz em 'soirées' dançantes em hotéis de luxo ao redor do
mundo produziu o encontro de Django Reinhardt e Stéphane Grappelli em Paris,
assim como fez com que nos reuníssemos em Campinas. Não foi apenas a própria
instrumentalização inusitada do grupo, mas sobretudo a nossa admiração pelos
patriarcas do gênero que nos levou à escolha natural do jazz 'manouche' e do
swing parisiense como repertório de base".
Daí foi só juntar essas preferências a outras, como a
música popular brasileira para que o som do grupo se tornasse quase único, sem
perder a universalidade da música bem feita.
O disco começa com um som aparentemente antigo, tirado de
um velho disco já bastante usado, com aquele chiado característico. Mas se
trata apenas de uma vinheta de alguns segundos em cima de "Sandra Rosa
Madalena", o sucesso de Sidney Magal.
A segunda faixa já é um clássico da dupla Baden Powell e
Vinicius de Moraes: "Samba em Prelúdio".
As faixas seguintes estão recheadas de sucesso
internacionais: "Nature Boy (Eden Ahbez); Feeling Good (Anthony Newlwy e
Leslei Bricusse); "Skyfall" (Adele e Paul Epworth) e "Billie
Jean" (Michael Jackson).
As duas faixas seguintes são de dois geniais compositores
brasileiros: de Cartola, "As Rosas Não Falam" e "Lamentos"
de Pixinguinha, ambas com o devido tratamento "cigano" do grupo que
lhes casa muito.
"Swing a La Plage", a faixa 9, é do próprio
Ernani Teixeira, uma agradável surpresa, pois e trata de jazz puro acomodado
dentro do estilo do grupo. Destaque para o improviso do violão.
A faixa seguinte é de inspiração clássica. O grupo foi
buscar o primeiro movimento do "Concerto em Ré Menor" de ninguém
menos que J. S. Bach para traduzir em violino, violão cigano, guitarra e
contrabaixo.
A homenagem ao ídolo Django Reinhardt vem a seguir com
"Nuages" e, na faixa 12, com "Minor Swing" (essa em
parceria com o outro ídolo Stephani Grappelli).
A última faixa do disco, "Dias em Piracicaba" é
de autoria de outro membro do disco: Fernando Seifarth, que toda um dos dois
violões ciganos. Além de Ernani Teixeira ao violino, os outros membros do Hot
Jazz Club são Marcelo Modesto (violão cigano e guitarra) e Gilberto de Syllos
(contrabaixo acústico).
O CD pode ser ouvido no YouTube Music em
https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kI0y6knl-vfoeLoK_itSc9PDDC9HjM44Q e em outras plataformas musicais. E pode ser
comprado nos bons sites do ramo.