Por Ronaldo Faria
No cordel de um fogo encantado
e encarnado o tropel atropela a estrada suja do pó que levanta das patas. O
sol, que se esfria ao vento que bate nos galhos sem folhas, se prepara para
sorrir raios amarelos nos farelos da tapioca a dormirem no fogão a queimar
gravetos que um dia respiraram florir. No sorrir sem dentes da mulher
iconoclasta, há muito nascida e parida à luta da vida, não há lugar para o
luto. Da panela de barro sobe um cheiro que se esgueira nos buracos de pau a
pique onde o barbeiro que nunca fez bigode e nem barba espera para picar. No
alpendreos filhos correm com seus carros de boi em sabugos de milho. A
lavoura pega fogo no preparo do próximo plantar. Santiago, pintado do negror da
fuligem que um dia foi terra virgem, roça os últimos pedaços onde a vida ainda
é bem-vinda.
Logo chegará outro escurecer de estrelas mímicas de si mesmas e mimetizadas para clarear o tanto de escuro nas terras de Agripina. Depois, no após apocalíptico que sugere apóstrofe no texto onde não caberá, o sol voltará. É hora de laçar o jumento que reclamará no seu jeito o lamento de tanta carga carregar e levar a colheita à feira, trocar por farinha, carne seca, feijão de corda e algum trocado que ficará largado na mesa à espera da quermesse do padre João. “Nesse dinheiro ninguém toca! É para São Jerônimo nos dar algum sinônimo pra viver!” – dizia o boiadeiro de pouco estudo, mas muito atino. Logo perto um preá corre atrás do pé de capim que, teimoso, resolveu brotar.
-- Agripina, deu pra colocar a galinha velha pra cozinhar?
-- Deu não, Santiago. Deu dó da coitada, que tanto ovo já pôs na nossa mesa. Agora que está velha, deixa ela ciscar em paz.
-- Então é fava e arroz de novo?
-- É não! Tem ovo, da filha da coitada da galinha. E amanhã, eu já vi, posso fazer a carne seca que você trouxe.
-- Tudo bem, mulher. Vamos na fé...
Do quarto, a filharada (são quatro) dorme à luz do lampião que queima cheiroso no querosene volátil que não enxerga o clamor tátil de dois corpos – Agripina e Santiago – a trazer outro rebento para o mundo. Mas, no fundo, lá no fundo do poço de onde se cata água em cacimba, esse sabe, a ver romper seu cordão, que não será o último. Novos filhos virão sem prever a barriga prenha ou se na mesa tem fartura e peleja. Na igreja, padre João dá a hóstia sagrada e sacramentada para o povo da ribeira. No momento onde ainda há o mínimo de consciência, a ciência do sertão se atira de cabeça, corpo e membros à solidão...
Logo chegará outro escurecer de estrelas mímicas de si mesmas e mimetizadas para clarear o tanto de escuro nas terras de Agripina. Depois, no após apocalíptico que sugere apóstrofe no texto onde não caberá, o sol voltará. É hora de laçar o jumento que reclamará no seu jeito o lamento de tanta carga carregar e levar a colheita à feira, trocar por farinha, carne seca, feijão de corda e algum trocado que ficará largado na mesa à espera da quermesse do padre João. “Nesse dinheiro ninguém toca! É para São Jerônimo nos dar algum sinônimo pra viver!” – dizia o boiadeiro de pouco estudo, mas muito atino. Logo perto um preá corre atrás do pé de capim que, teimoso, resolveu brotar.
-- Agripina, deu pra colocar a galinha velha pra cozinhar?
-- Deu não, Santiago. Deu dó da coitada, que tanto ovo já pôs na nossa mesa. Agora que está velha, deixa ela ciscar em paz.
-- Então é fava e arroz de novo?
-- É não! Tem ovo, da filha da coitada da galinha. E amanhã, eu já vi, posso fazer a carne seca que você trouxe.
-- Tudo bem, mulher. Vamos na fé...
Do quarto, a filharada (são quatro) dorme à luz do lampião que queima cheiroso no querosene volátil que não enxerga o clamor tátil de dois corpos – Agripina e Santiago – a trazer outro rebento para o mundo. Mas, no fundo, lá no fundo do poço de onde se cata água em cacimba, esse sabe, a ver romper seu cordão, que não será o último. Novos filhos virão sem prever a barriga prenha ou se na mesa tem fartura e peleja. Na igreja, padre João dá a hóstia sagrada e sacramentada para o povo da ribeira. No momento onde ainda há o mínimo de consciência, a ciência do sertão se atira de cabeça, corpo e membros à solidão...