domingo, 29 de dezembro de 2024

Da Austrália para o mundo

 Por Edmilson Siqueira


Sarah McKenzie nasceu na Austrália, numa cidade chamada Bendigo que, em 2016, tinha 92 mil habitantes. Ali, a partir dos cinco aninhos, começou a ter aulas de piano. Quando tinha nove, um professor apresentou a ela o rock, o blues e o boogie-woogie. Aos 15 anos ela ouviu um disco de Oscar Peterson - "Night Train" - e aconteceu o que ela chamou de momento da virada. "Era uma música tão alegre que eu soube na hora que era aquilo que eu queria fazer na minha vida". 
Ela também gostava de Gene Harris e Ahmad Jamal desde o início, mas foi se tornando uma pianista de jazz muito habilidosa e uma cantora altamente atraente. Por cerca de cinco anos, ela trabalhou semanas inteiras tocando em clubes, hotéis e casamentos, construindo seu repertório e seu estilo musical individual.
Como pianista e cantora, suas principais inspirações foram Shirley Horn, Nat King Cole, Harry Connick Jr. e Blossom Dearie.  Ela afirma que “todos eles contam histórias por meio de seu canto e os ouvintes acreditam devido à sua sinceridade. Eles me inspiraram a me preocupar mais em contar a história da música e alcançar os ouvintes. A música é sobre evocar emoções e tem como objetivo tocar as pessoas.”
Depois de alguns prêmios na Austrália, ela recebeu uma bolsa integral para a famosa Berklee School of Music em Boston.  Não demorou para que ela assinasse um contrato com Impulse!, gravasse e fizesse turnês pelo mundo todo, realizando um de seus sonhos ao tocar no Montreux Jazz Festival. Ela passou períodos vivendo e trabalhando em Paris e Londres, e gravou cinco álbuns bem recebidos: "Don’t Tempt Me", "Close Your Eyes", "We Could Be Lovers", "Paris In The Rain" e "Secrets Of My Heart". O sexto - "Without You" - foi lançado o ano passado e, em breve, será motivo de um novo artigo sobre essa excelente cantora, pianista e compositora de jazz, mesmo porque ele está recheado de músicas brasileiras.
Por enquanto vamos falar de "Paris in the Rain" que me conquistou logo de cara pelo nome, já que, além de amar Paris sobre todas as coisas, andei bastante por lá na chuva (no verão, claro) e depois assisti ao filme de Woody Allen (“Meia-Noite em Paris”, ótimo, por sinal) onde ele diz que Paris na chuva é ainda mais bonita. E é mesmo. 
Vai daí que um disco com uma cantora bonita na capa e com esse título, me conquistaria fácil, como de fato ocorreu. Só que o recheio dele, com 12 ótimas interpretações de meia dúzia de standards e outra meia dúzia de autoria dela, deixou tudo mais bonito.
"Paris in the Rain" foi gravado em junho de 2016 em Nova York para a gravadora Impulse! e dele participaram os músicos Reuben Rogers (contrabaixo), Gregory Hutchinson (bateria), Dominick Farinacci (trompete), Scott Robinson (sax alto), Ralph Morro (sax tenor), Jamie Baum (flauta), Mark Whitfield (guitarra), Warren Wolf (vibrafone) e o brasileiro Romero Lubambo no violão).
 

O disco abre com um clássico: "Tea for Two" (Vincent Youmans e Irving Caesar) e Sarah aparece muito à vontade, passeando pela rápida melodia sem problema algum. O solo do trompete completa o ótimo trabalho.
A segunda faixa é da própria Sarah e é a que dá nome ao disco. "Paris in the Rain" é deliciosamente suingada, com Sarah, autora da letra também, misturando inglês com francês e também mostrando que entende de improviso ao piano. 
A seguinte faixa é de Sarah também, "One Jealous Moon". Com um arranjo inicial mais pesado, a "lua ciumenta" de Sarah se desenvolve lisa pela batida jazzista, com o devido auxilio do saxofone alto.
A quarta música, "Little Girl Blue" (Richard Rodgers e Lorenz Hart) tem um início que nos leva ao pop, mas logo se percebe o forte blues serpenteando na melodia ao som apenas do piano e do contrabaixo, com a bateria entrando apenas de leve para manter o clima. Ótima faixa. 
"I'm Old Fashioned", a quinta faixa, nos leva para um tempo mais antigo, como o próprio nome diz, com os metais fazendo o contraponto como nas antigas orquestras.
O ritmo latino prevalece na sexta faixa, a balançada "When in Rome" (Cy Coleman e Carolyn Leigh) que nada perde para um bom bolero. 
Na sétima faixa, Sarah homenageia um de seus amores musicais, no nosso maestro soberano Antonio Carlos Jobim. "Triste" tem o acompanhamento adequado de piano, violão, flauta e bateira. Ela canta a versão em inglês e não fica devendo nada às cantoras brasileira e norte-americanas que também gravaram o sucesso mundial de Tom Jobim.
Outro clássico abre a faixa seguinte:"Embraceable You" (George e Ira Gershwin). Respeitando os compositores, Sarah canta lentamente o eterno sucesso dos irmãos Gershwin, acompanhada somente do violão de Romero Lubambo. É o momento intimista, com muita classe, do disco.
 "In the Name of Love" (Kenny Rankin e Levitt Estelle) é a nona faixa, essa já com um trio muito afinado composto por guitarra, bateria e contrabaixo. Destaque justamente para o solo de guitarra, onde Mark Whitfield mostra rara habilidade.
Outra música de Sarah invade a décima faixa: "Don't Be a Fool", uma canção lenta, mais próxima do pop do que do jazz, mas que não fica devendo em qualidade às outras da autora.
A faixa número onze é outra de Sarah, "Onwards and Upwards!". Como o próprio nome indica é uma canção rápida e otimista, onde Sarah pode demonstrar também seu talento ao piano. Os destaques vão para os belos improvisos de Jamie Baum na flauta e de Dominic Farinacci no trompete.
A volta dos clássicos acontece na faixa número doze, com "Day In Day Out" (Rube Bloom e Johnny Mercer) que Sarah interpreta como uma veterana da canção, se acompanhando ao piano. O solo de sax de Ralph Moore também é ótimo.
Por fim, encerrando os trabalhos, "Road Chops", também de Sarah. E, surpresa! trata-se de um instrumental que, tanto Sarah ao piano como toda a trupe de músicos se encarrega de dar uma aula como se uma orquestra fosse. Sensacional!
O CD está à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_n1JE1je1zmxD-n8hSnMS3KzWTmTihzI-s.

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