sábado, 19 de abril de 2025

Trovadores urbanos

 Por Ronaldo Faria


O lampião de gás mal ilumina a calçada em que está. Nela, casais voltam do cinema com ódio dos lanterninhas a irritarem e evitarem o primeiro beijo fortuito roubado. Mas, agora, defronte do portão, ninguém impedirá os lábios de se tocarem. Porém, como um sortilégio do destino, a mãe espera quase de véspera a moçoila chegar.
-- Gabriela! Já pra dentro!
A menina quase mulher feita de todo, obedece a matriarca. O jovem, rapaz que ainda irá demorar a virar um homem inteiro, sai de fininho do lugar. Ele sabe que é hora de esperar. A boca de Gabriela ainda lhe voltará ofegante a chegar. De tantos dias que faltam para a vida virar, é certo que isso acontecerá.
Na rua, chorões tocam para a amada que, deitada na cama com lençol de cetim, sonha em ser como as mulheres que se escondem na casa de luzes vermelhas e sons de vitrola de 86 rotações esganiçada e real. No poste prostrado até que a rua vire avenida e seja derrubado, o cachorro vira-lata urina um mijo quente e fortuito. No boteco perto, amigos se embriagam em tragos homéricos. Logo, em périplo, seguirão para suas casas. Todos soturnos e macambúzios chegarão decerto nalgum lugar. Sobre eles, um utópico e róseo luar. Talvez a estrada que trilhamos, mas nunca conseguiremos findar. Ao meio dela haverá um coração que irá parar, uma poesia taciturna que não findará, um amanhecer que chegará sem o respirar. No largar do tempo, o lagar fugidio e misterioso que as respostas que fazemos no “se fosse diferente” não têm respostas postas.
-- Gabriela, te amo!
O grito, entre quatro paredes, paradoxo da paixão, surge surdo para aquela que se deseja. Mas ela saberá do que foi dito e redito. Famigerado e esfomeado de línguas e cuspes que adentram a garganta infanta, o poeta ouve o tango cantado de um paulistano que ouvimos sem saber o destinatário real. Sem olvidarmos o mal, translúcidos e lúcidos ao dia que logo irá raiar sem muito a dizer ou virar, ficamos à espera de um alvorecer disseminado de lampejos de canções.

Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito

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