domingo, 22 de junho de 2025

O talento prodigioso de Marcus Roberts *

Por Edmilson Siqueira


 
Eu já escrevi aqui sobre um disco do pianista Marcus Roberts. O disco foi "Gershwin For Lovers", onde o artista se dedica exclusivamente ao grande compositor norte-americano e o faz com maestria.
Mas, para quem não conhece muito a obra desse ótimo instrumentista e compositor, a pedida é ouvir "The Collected", lançado em abril de 1988. É uma coletânea que resgata as primeiras fases da carreira do pianista, reunindo gravações realizadas entre 1988 e 1992 em estúdios e apresentações em cidades como Nova Iorque, Nova Orleans e Tallahassee 
Esta coletânea é um excelente convite para mergulhar na obra de um pianista que alia técnica, sensibilidade histórica e inovação. E se você já o acompanha, "The Collected" revela nuances de um período fértil, onde Roberts lançava as bases de sua identidade musical — sólida e profundamente jazzística.
Nascido em Jacksonville (Flórida) em 7 de agosto de 1963, Roberts, cego desde os cinco anos, emergiu como um prodigioso talento no jazz, ainda jovem integrando o grupo de Wynton Marsalis em meados dos anos 80 
A partir dessa experiência, Roberts aprofundou-se em estilos que mesclavam o swing tradicional, o bebop e o piano stride (estilo de jazz desenvolvido nas grandes cidades da Costa Leste dos Estados Unidos, principalmente Nova York, durante os anos 1920 e 1930) e influências de gigantes como Thomas Waller, Thelonious Monk e George Gershwin.
Nos períodos cobertos por "The Collected", Roberts passeava entre a presença marcante de suas composições autorais e reinterpretações de clássicos. O resultado é uma coletânea que envolve sua evolução musical num momento em que ele consolidava sua identidade como líder de trio e intérprete de repertório histórico.
A coletânea traz 12 faixas com composições próprias e releituras cuidadosas. As faixas sem o nome do compositor são do próprio Roberts. 
- “The Arrival” - abertura impactante de mais de 9 minutos.
- “The Truth Is Spoken Here” - outro original, com lirismo e swing. 
- “Blue Monk” – clássico de Thelonious Monk onde Roberts destaca sua capacidade de dialogar com as dissonâncias monquianas. O que não é pouco.
- “Country by Choice” - mais um tema original que revela seu talento poético ao piano.
- “Crepuscule with Nellie” – balada de Thelonius Monk em interpretação precisa.  
- “Nebuchadnezzar” - outra composição com mais de 9 minutos, com passagens dramáticas e contrastes rítmicos. 
- “The Jitterbug Waltz” - do baterista Thomas Waller, com swing refinado e espaço para improvisos elegantes.
- “Preach, Reverend, Preach” - parceria de Roberts com o trompetista Nicholas Payton, com rara riqueza harmônica.
- “E. Dankworth” – homenagem de Roberts a um compositor menos conhecido.
- “Embraceable You” – standard romântico de Gershwin, com interpretação delicada de Roberts.
“The Governor” e “Go Tell It on the Mountain" (faixa 12) combinam originalidade autoral com arranjo de espiritual americano. 


Essa seleção evidencia dois aspectos centrais na obra de Roberts: sua veia criativa — por meio de composições como “Nebuchadnezzar” e “The Arrival” — e sua reverência pelas raízes do jazz, especialmente Monk, Gershwin e Waller.
Roberts emergiu como um dos principais expoentes do chamado jazz neo-clássico, que os críticos consideram com um legado de seu trabalho com Marsalis: "Embora tenha se dedicado a músicas tradicionais, ele sempre buscou imprimir uma marca própria, seja nas estruturas rítmicas, nas variações métricas ou no uso criativo de contrapontos: seu estilo de trio privilegia a interação telepática entre os músicos, com liberdade para que baixo e bateria se expressem com autonomia. 
Essa visão de conjunto se reflete diretamente em "The Collected" — as gravações revelam uma banda que dialoga de forma sofisticada, sem centralizar o piano, utilizando as três vozes como partes iguais de um organismo musical, criando texturas ricas e imprevisíveis como se fossem uma orquestra compacta."
Embora "The Collected" não tenha gerado singles de impacto comercial, o álbum serviu para reforçar sua reputação entre críticos e fãs de jazz mais erudito, valorizando-o como pianista criador e intérprete sensível.
Como destaca sua biografia, "The Collected" foi lançado entre outros discos importantes como The Joy of Joplin (1998) e In Honor of Duke (1999), estabelecendo Roberts como um artista interessado em homenagens e pesquisa musical. 
No Mercado Livre tem o CD para vender e deve ter em outro bons sites do ramo. E pode ser ouvido na íntegra no Spotify em https://open.spotify.com/intl-pt/album/2kzpxA6iIPR1F7VNNt028t .
 
*A pesquisa para este artigo foi auxiliada pela IA do ChatGPT.

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