sexta-feira, 15 de julho de 2022

Os eternos Rolling Stones

Por Edmilson Siqueira 

Se você é um tanto quanto jovem, gosta de rock e já ouviu algumas músicas com os Rolling Stones, por certo tem curiosidade de conhecer um pouco mais desses eternos roqueiros que, embora sem três dos originais, ainda lotam estádios por aí.  Em 2002, foi lançado um CD duplo, com 40 músicas das mais expressivas do grupo, num trabalho de compilação que passou por várias gravadoras.  


Ali está um resumo, pelo menos até 2002 (20 anos depois os caras ainda estão aí, produzindo e fazendo shows) de tudo que eles fizeram em 40 anos (40 anos em 2002, bem entendido) de carreira. O CD é meio caça-níquel, meio relíquia, pois das 40 músicas apenas quatro eram novas naquele ano. Mas é uma delícia botar pra rodar.  


O primeiro disco só tem clássicos dos anos 60. Começa com "Street Fighting Man", de 68 (não haveria ano mais apropriado) e segue com "Gimme Shelter", de 69, passando pela inevitável "Satisfation", de 65. Todos os hits dos anos 60 estão lá, inclusive "Let´s Spend the Night Together" que a pudica televisão dos EUA, em 1964, os obrigou a cantar, em 1967, "Let´s Spend 'Sometime' Together".  

Não poderia faltar a enigmática "Wild Horses" ou a eterna "Ruby Tuesday" e "Paint It Black", que se tornou música-tema de uma ótima série chamada "Vietnã" que andou passando na tv brasileira há uns anos, mas não fez qualquer sucesso.  


Para quem que, como eu, discutia nas rodinhas nos intervalos das aulas do velho Culto à Ciência quem era melhor, Beatles ou Rolling Stones, o CD duplo vem a calhar. Claro que a discussão jamais terminou e ninguém chegou a conclusão alguma. Mas era ótima achar "Satisfation" melhor que "I Wanna Hold Your Hands", ou "If I Fell muito melhor que Under my Thumb". Mas "Simpathy for the Devil" era imbatível, principalmente depois que soubemos que, dizia a lenda, Mick Jagger a compôs inspirado nos batuques que ouviu nos terreiros de umbanda e candomblé brasileiros. 


O segundo disco já começa com um sucesso de 81 e quem vinha abrindo muitos shows dos Stones nos últimos anos: "Start Me Up". E também está cheio de clássicos dos anos 70 e 80, como a delicada "Angie" (composta por Keith Richard para uma enfermeira que o tratou numa clínica de desintoxicação) ou o ‘hino’ "It´s Only Rock’n’Roll". Ou ainda as embaladas "Mixed Emotions" e "Love Is Strong". 


Enfim, quem curtiu os Stones desde a década de 60 como eu, tem em mão uma coletânea irrepreensível, num CD cuja produção é típica de pop-star: encarte com várias fotos das inúmeras fases pelas quais eles passaram e com as diferentes formações. Hoje, Mick Jagger e Keith Richards foram os únicos que sobraram da formação original, que hoje é completada com Ron Wood, e já teve Brian Jones e Bill Wyman quando começaram; Mick Taylor na segunda formação no lugar de Brian Jones, depois Ron Wood no lugar de Mick Taylor. Com a saída de Bill Wyman, o grupo ficou restrito aos outros quatro, até a morte do baterista Charlie Watts em agosto do ano passado. Mas os outros três - Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood - contrataram um baterista e continuam por aí. Por enquanto. E sei lá até quando. 

Os CD duplo está à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=DAWyIvcGPIs .

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Larica musical (ou essência sem sal) ao Pixinguinha

 Por Ronaldo Faria

Sertão, com alazão ou não. Boa noite. Boa vida. Morte e remissão. Paixão. Menino a correr seus pastos com caminhão de madeira e senão. Suas queimadas e vestes pequenas para uma vida de sofrer e dor. Coisinha pequena e de torpor. Cabeçudo, quando no Nordeste cabeça grande é sinal de inteligência. Na premência da vida, carência de lembrar. Coisa boa e sinal de chegar. Na feira, cheiros e coisas, Quasimodo de derrear. Sertanejo no passado, carioca ao acaso, alguma coisa paulistana no descaso. Vestígios de estranhos prazeres embriagados e noturnos afazeres: escrever, sofrer, relembrar além do bar e ser. No mais, caminhadas ofegantes e arfadas, garfadas de bacalhau que já não existe, subscritas saudades inauditas. No som de fundo, Pixinguinha a sorver o tempo profundo. O que assim não o for, faça-se imundo. Desça aos córregos seus ralos infindos e profundos. Aonde chegar, se desfaça inaudível e em largar. Daqui, sorverei apenas o mais clérigo jamais ser. No som, Elvis que não está aqui teima em não morrer...

quarta-feira, 13 de julho de 2022

O grande samba-raiz de Monarco e seus amigos

 Por Edmilson Siqueira 

 Todo mundo sabe que o samba agoniza, mas não morre, como disse o compositor Nelson Sargento, num samba memorável. Vira e mexe, sem trocadilho, o samba deixa a agonia para imperar solene na voz de uma nova geração de sambistas.  


Mas, para viver há tanto tempo e superar todas as agonias, muita gente batalhou por ele, criou escolas de samba e escreveu grandes músicas que embalaram o povo, seja na avenida em desfiles, seja nos shows em teatros e outros locais ou seja ouvindo mesmo no rádio ou no celular e computadores pelos streaming por aí. 


As grandes escolas de samba são, em grande parte, responsáveis pela eternidade do samba. Elas reúnem dois tipos de criadores que mantêm a chama, seja a Ala dos Compositores que fazem o enredo que a escola vai cantar na avenida, seja a Velha Guarda, que já compôs e continua compondo grandes sambas que, muitas vezes, o país inteiro canta.  


Uma dessas grandes escolas é a Portela que mantém uma Velha Guarda das mais criativas. E tanta inspiração junta acaba provocando a produção de discos para registrar a produção desses baluartes samba. 


É o caso de um disco gravado em 1980 pelo Estúdio Eldorado. A partir de um grande compositor ligado à Portela, a gravadora produziu uma excelente amostra do que esse pessoal é capaz de fazer. E o disco, apesar de levar o nome do grande Monarco, tem em suas faixas grande variedade de compositores. 

Diz o encarte assinado por Homero Ferreira: "Convidado pelo Estúdio Eldorado para gravar um disco seu, ele [Monarco] quiz que fosse assim. Com músicas para fazer mais de um LP, preferiu ceder metade de seu disco para as composições dos velhos companheiros: Paulo, Caetano e Rufino, Mijinha, Alcides Lopes, o malandro histórico, Alvarenga, num samba cuja segunda parte andava esquecida e foi lembrada pelo filho Altair, Josias, Pernambuco e Chati, Hortênsio Rocha, que morreu no anonimato e que poucos reconhecem sob  H. Rocha na autoria do "Diz que fui por aí", Doca, a dona do terreiro, e, numa homenagem à Mangueira, Mestre Cartola, num samba sem segunda parte, feito em 1932 e que até hoje não estava editado." 


O resultado desse clube de amigos é sensacional. São os chamados samba-raiz, com letras inacreditáveis e aquelas melodias que só compositor de morro carioca sabe fazer.


São sambas pouco conhecidos do grande público, mas a empatia com todos eles é imediata. Na primeira vez que ouvimos, já dá vontade de sair cantando o refrão. 


O clima que se sente no disco, conforme Homero Ferreira, é de um "terreiro em Oswaldo Cruz, onde alguns dos velhos compositores da Escola De Samba Portela costumam se reunir para cantar os seus sambas. São antigos companheiros, compadres, parceiros dos que fundaram em 1926, naquele subúrbio carioca, o Conjunto Carnavalesco Escola de Samba Oswaldo Cruz. Muitos deles fizeram parte do núcleo original da Escola e em vários carnavais foram deles os sambas com que a Portela desceu à cidade." 


Monarco morreu em 2021, aos 98 anos, e é considerado um dos maiores nomes do samba em todos os tempos. 


O disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=JXgXwSRSZOE . E também está à venda nos bons sites do ramo. 

terça-feira, 12 de julho de 2022

À Anavitória

Por Ronaldo Faria

Balada quase acamada, dessas que a cama sai a rodar de um canto a outro do quarto. Coisa de passado na passagem que existe entre esquecer e ser. Revivida saudade em que o tempo para de passear. Cancioneiro descoberto entre lençóis e cobertas. Beijos calcinados no calor da paixão, invasão de métricas tétricas e rimas sem saber, a ver. Coisa de malfadadas poesias que parecem azias de fim de madrugada. Versos como amplexos. Corpos entrecortando sexos.

Balada dispersa daqui até a Pérsia. Ultimato que vai da pele ao olfato. Besteiras recortadas por golfadas vazias entre a língua e a cisma. Coisa de se lamber, suar, sentir, reter, largar, lembrar, reter. Se possível, um dia esquecer. Senão, querer apenas não ser. No céu, uma lua que se desmancha de esmiuçar um brilhar derradeiro do fim. Cadenciado, o coração reverbera pétalas de rosas e gérberas. Planaltos e planícies estão logo ali, no derradeiro e brejeiro fim.

Balada cravada no renascer da sempre desigual sina. Logo ali, defronte, uma esquina. Um canto cansado e finito, bebidas sobre a mesa onde um pé parece menor do que os outros três. Cambaleante, na toalha perdida entre tantos ou outros poemas nunca feitos ou descritos, o poeta profetiza ser comível na verdade um prato de canções infindas. Ao fim de tudo, no curvilíneo abstrato crer, um pouco ou nenhum gemer. Entre quase nada e pouco, só resta viver.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Toquinho e MPB4: um show de boa música

Por Edmilson Siqueira 

Na música norte-americana é comum que dois astros se juntem para fazer um disco. Aqui no Brasil houve raras gravações desse tipo até a década de 1970 mais ou menos. Depois a moda andou pegando, primeiro com participações especiais de um cantor no disco do outro, como aconteceu com Chico Buarque e Milton Nascimento cantando "O que será", embora com letras diferentes, já que Chico escreveu nada menos que três versões para a música que ele chamou de "Abertura", "À Flor da Pele" e "À Flor da Terra". A primeira foi gravada por Simone. A segunda saiu no disco "Meus Caros Amigos", de Chico, e a terceira no disco "Geraes", de Milton.  


Vários outros artistas gravaram com outros, principalmente um cantor com vários outros dando uma "canja" no disco. Miltinho fez isso com grande qualidade na série "Convida" que andou juntando cantores e compositores os mais variados.  


Mas surgiram também os discos em que dois artistas dividem o trabalho todo e um desses exemplos é a comemoração de mais de 40 anos de música que completaram, no início do século, Toquinho e o MPB4. O trabalho que juntou o grupo com o cantor e compositor aconteceu em 2008, foi um grande sucesso de público, gerou até um DVD e o registro em CD aconteceu nos dias 25 e 26 de setembro desse ano no Teatro Fecap em São Paulo. 



A longa carreira de Toquinho foi cheia de sucessos, desde sua parceria com Jorge Benjor ("Que Maravilha"), suas apresentações históricas no Rio com Jobim e Chico e pela grande parceria, por uma década, com Vinicius de Moraes, que geraram canções que até hoje são presença obrigatória em todos os seus shows, inclusive esse com o MPB4. 


Já o conjunto vocal de maior sucesso no Brasil, começou, como Toquinho, em festivais dos anos 1960 e se firmaram gravando grandes músicas, bem como acompanhando Chico Buarque por muito tempo.  


A reunião dessas duas grifes da música popular brasileira não podia gerar outra coisa que um grande disco, onde não faltam as enormes qualidades vocais do conjunto, as grandes composições de Toquinho e homenagens a ícones da nossa música como Jobim, Dorival Caymmi, Paulinho Nogueira, Baden Powel e Vinicius de Moraes. E ainda mostra composições de Noel Rosa, Cazuza, João Bosco e Aldir Blanc, Herbert Viana e Paula Toller, Edu Lobo, Gonzaguinha, Fernando Lobo e Antonio Maria. 


"Tarde em Itapoã", "Se Todos Fossem Iguais a Você", Iolanda", "Quem Te Viu, Quem Te Vê", "Gago Apaixonado", "O Que É, O Que É?" "Como Dizia o Poeta", "Pra Viver m Grande Amor", "Regra Três" e muitas outras músicas que vivem na memória do brasileiro que gosta da boa MPB estão no disco.  


O disco esta à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=N4GQ61D80WA . 

Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...