quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Ao som do Bolero de Ravel

 Por Ronaldo Faria

Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Em mim, um passado de te ouço e não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Te ouço. Não te ouço mais. Um dia haverei e haverás...


terça-feira, 30 de agosto de 2022

Os "misteriosos" Wilburys

Por Edmilson Siqueira 

Quando eles se reuniram pela primeira vez, foi apenas para gravar uma música - "Handle With Care"- que seria o lado B de um compacto simples, tendo "This Is Love" (do LP "Cloud Nine") do outro lado. Só que o clima da gravação no estúdio de Bob Dylan em Santa Monica, na California, foi tão bom, que George Harrison, Tom Petty, Roy Orbison e o dono do estúdio, resolveram gravar um disco inteiro. A eles se juntou Jeff Lyne. Rapidinho juntaram suas músicas inéditas e, em dez dias, as gravações estavam prontas.  


Então os cinco resolveram lançar o disco num completo "anonimato". Ao grupo deram o nome de Traveling Wilburys e seus membros passaram a se chamar Nelson Wilbury (George Harrison), Lefty Wilbury (Roy Orbison), Otis Wilbury (Jeff Lynne), Charlie T. Wilbury Jr. (Tom Petty) e Lucky Wilbury (Bob Dylan).  


O volume 1 saiu em outubro de 1988 e alcançou o posto número 79 da lista dos 100 melhores discos dos anos 1980 publicada pela revista musical Rolling Stone. Posteriormente, seria indicado como Álbum do Ano no prêmio Grammy. 

Dois meses depois do lançamento, um dos "Wilbury" - Roy Orbison - morreu, mas, apesar do triste acontecimento, o grupo gravou um último álbum, mudando os pseudônimos de cada um, mas conservando o sobrenome Wilbury. Orbison foi homenageado na gravação do videoclipe da canção "End Of The Line": uma guitarra e um retrato dele aparecem no vídeo.

 

O segundo álbum, lançado em 1990, foi chamado de Traveling Wilburys Vol. 3, e seria o último trabalho do grupo. Pular irreverentemente a sequência cronológica ao nomear o álbum de "Vol.3" ao invés de "Vol.2" foi uma sugestão tipicamente beatle de George, bem ao estilo da sua ilustre banda anterior. O falecimento de Roy Orbison e a onipresença compositora de Bob Dylan no segundo álbum (mais da metade das canções foram compostas por ele), contribuíram para um final amistoso do grupo. 

Os dois discos fizeram bastante sucesso, chegando a paradas em vários países. Onze anos depois, em junho de 2001, os dois discos foram publicados em formato CD junto a um DVD adicional. 

E os dois discos são ótimos em se tratando do excelente pop rock que os membros produziram durante toda a vida. E, diga-se, os que sobreviveram continuam produzindo. Neles se encontra uma espécie de mistura dos vários estilos dos autores - todos compositores e cantores com carreiras mais que sólidas - sem que a individualidade seja prejudicada. Percebe-se claramente, para quem conhece um pouco da música produzida por eles, quem compôs e quem está cantando. Uma das músicas - "Reading For The Light" - que tocou bastante no Brasil, é de George Harrison e a gravação não fica nada a dever aos Beatles, já que George manteve o estilo que sua banda anterior impunha em cada música.  

Enfim, trata-se de um trabalho que os fãs de George Harrison, de Bob Dylan, de Roy Orbison, de Tom Petty e de Jeff Lyne vão gostar muito. Eu tenho os dois discos e ele vivem tocando aqui em casa.  


No YouTube eles estão presentes em profusão. Basta colocar o nome do grupo e aparecerão músicas dos dois discos além de cinco videoclipes de músicas dos álbuns e um documentário sobre as gravações, tudo reunido num DVD lançado em 2007. 



segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Ao Paulinho Pedra Azul

 Por Ronaldo Faria

Olhares vagos e fátuos, largados entre dois olhos que pouco se veem, duas bocas que já quase não se beijam, dois peitos que ainda batem e rebatem além de um tempo sem areia, sem praia, sem céu azul a cair no negror da noite que vem tardeira. Antes da madrugada, a tragada que se larga no tédio da tarde, as mulheres que se entregam aos braços dos amados, a incerteza do final desigual do amor.

Olhares unidos entre retinas e íris que se juntam por um segundo ao menos. Entre as mesas de bar, perfídias se sobressaem. Em entregas esparsas, fugas desiguais, filmes sem vagalumes e lumes. Alhures, um pedaço de mãos dadas à beira-mar, areia a queimar os pés, igrejas de mil fés. Antes do amanhecer que vem aquecer, brilhos de luzes que perpassam nuvens no fugaz além do sentimento atroz.

Olhares ambidestros, catatônicos e transversos, à espera dos próximos versos, cansados de olhar para o além, vivem de recordações e vintém. Ao desejo, dão seu amém. E sonham em fazer o tempo voltar, o calendário queimar na parede e na rede. O dia, num frigir de ovos, tempera de temperos mil as têmporas à lua cris. Quem sabe um talvez, a tez que se cola e acaricia, o corpo desnudo da vida.

Olhares e frases soltas ao vento, acalanto ou lamento. Uma chuva que dá de presente o beijo do ausente a brincar de fugir e chegar. Na cena final, um gargalhar. Dois corpos ocos a oscular o que a vida olvida deixar. Suor que respinga no vazio que há entre dois seres e os anseios em praguejos voláteis e táteis. No interregno de tudo, quem sabe um bêbado mudo, um homem sisudo, o tempo a desvanecer...

sábado, 27 de agosto de 2022

Renato Teixeira

 Por Ronaldo Faria

Violeiro que toca e dedilha o violão, dá à tua mão um tanto de viola e canção. Canta à voz que partiu o trinar do tiziu, se este houver no horizonte em anil Brinca de tempo parado, de gesto largado, de andar pela estrada entre curvas e estradas. Fosse no asfalto da cidade, esquina haveria e faróis forrariam passos e arrancadas do coração num piscar sem parar. O lugar? O que há de ser lugar ou largar? Por isso o violeiro rasga os dedos nas cordas de aço e traz sensações e canções. Alguém, num dado desandar, saberá tais caminhos traçar.

Moça que se entrega aos insondáveis desejos do amante dissonante da vida deixa que a inverdade se invada de histórias e histriônicas saudades. Não deixe que o sono vire sonoridade desperta e dispersa. Sororidade inversa. Durma com a certeza de que amor maior não há. E se Deus existir, feito igual, ele nada terá feito ou fará. Nem mesmo com as certezas de um terço que a beata reza sem olhar. Na luz do lampião, o candeeiro saberá se iluminar. Deitada na sua cama azul, arreganhada, Nina vê o tempo canino discorrer, voar e nunca chegar.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

A bossa dos Stones

Por Edmilson Siqueira 

 O rock dos Stones, quem diria, virou bossa-nova e electro-lounge ou qualquer coisa parecida, entre as centenas de nomenclaturas que hoje permeiam a música em todo o mundo. Como sou do tempo do rock, do samba, do baião, do tango essas coisas meio antigas - o negócio agora é acid, heavy, hard, disco, rap, hip hop, o que não é bom nem ruim, vai depender sempre da qualidade musical da obra – estranhei um pouco ao ver música que curti adoidado como autêntico exemplar da mais pura rebeldia dos anos 60, cantadas num sussurro, acompanhadas de alguns sons elétricos, de uma bateria tímida e de um violão imitando João Gilberto.  


Essa introdução toda aconteceu em 2006, quando escrevi sobre os CDs "Bossa N' Stones - The Electro-Bossa Songbook Of The Rolling Stones Volumes 1 & 2". Era, são na verdade, a versão bossanovista dos maiores sucessos do grupo inglês, bem arranjados e bem cantados, se bem que suavemente, ao contrário do que costuma fazer Mick Jagger e sua turminha.  


E, claro, ficou bem. O pessoal que resolveu “domesticar” a música dos Stones - que era rebelde, sim, mas hoje soa como totalmente inserida no contexto, pra usar uma expressão consagrada pelo Pasquim, jornal famoso no Brasil nos anos 1960-70 - é competente.  

A única falha do CD é que não tem uma ficha técnica adequada. À época, pesquisei no Google, mas acabei encontrando pouca coisa. Hoje também é difícil achar referências, mas os dois CDs estão à disposição no YouTube (endereço abaixo).  


A melhor referência que encontrei estava em inglês, num site chamado Antartica: “Once again, a number of musicians from different latitudes have joined forces to bring a different perspective and have created a must-have album for all who enjoy really great music”. (De novo, músicos de diferentes latitudes juntaram forças para mostrar uma perspectiva diferente e criar um disco obrigatório para todos que realmente apreciam a boa música). No caso, o comentário é do segundo disco da série, por isso o "once again", mas vale também para o primeiro. 


 Os músicos de “latitudes diferentes” parecem comportar alguns brasileiros. Há, pelo menos, nomes como Banda do Sul, Astrud C., São Vicente, Corcovado Freqüency, Groove da Praia que soam como nossos.  

A escolha das músicas atravessa boa parte do que de melhor os Stones fizeram ao longa dessas intermináveis décadas de LPs e shows. Hoje só há três dos mais antigos (dois originais - Jagger e Richard) e um que chegou um pouco depois (Ron Wood).  

São 24 músicas, 12 em cada CD, desde "Fool To Cry" até "You Can't Always Get What You Want", passando por "Let's Spend The Night Together", "Ruby Tuesday", Jump Jack Flash", "Paint It Black", "It's Only Rock'N Roll" e muitas outras.  


Os CDs ainda estão à venda nos bons sites do ramo e podem ser ouvidos no YouTube nesse endereço: https://www.youtube.com/watch?v=Q6N9-2f1xYQ (volume 1) e nesse: https://www.youtube.com/watch?v=DBar49TCsCM&t=604s (volume 2). 

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Raul Seixas

 Por Ronaldo Faria

Três pontinhos para cravar que nada sei, sabia ou saberei... Porque quero crer que a ignorância de saber seja o maior aprender. Nem que tivesse nascido há dez mil anos atrás saberia algo por ser. Três pontos a crucificarem e vivificarem o que houver de haver... a ver. Afinal, cada um de nós tem vida própria e propriedades que ninguém terá, seja em DNA ou naquilo que foi, é ou será. Sejamos, portanto, uma metamorfose ambulante. Afinal, se a humanidade assim não o fosse, estaríamos ainda na Idade da Pedra. Uga, uga... agá, agá. Bom sono e madrugada, tragada ou letárgica, a todos nós. Do alto, São Raul Seixas há de nos reverenciar. Ou não. Vida longa, por tanto e portanto, na rapidez do tempo, ao que for ou vier. No viés de renascer e morrer.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O samba de Délcio Carvalho

Por Edmilson Siqueira 

Se ao ouvir o nome de Délcio Carvalho você perguntar "quem?", não tenha muita vergonha, não. Eu também perguntei, há uns 20 anos, ao dono do bar Tonico's, o Paulo, durante um almoço, a quem ele se referia, já que o moço ia fazer um show ali e ele praticamente exigia a minha presença. Ele disse que era um sambista carioca, autor de vários sucessos e gente finíssima.  


Pois alguns dias depois, um sábado, estávamos, Zezé e eu, frente a frente com Délcio Carvalho, um sambista da mais pura cepa carioca.  O show era pra comemorar seus 65 anos de vida. Sucessos? Bom, pra começo de conversa ele era parceiro de Dona Ivone Lara, o que, de cara, já o credenciava. Depois, antes do show começar, vi Chiquinho do Pandeiro e outros sambistas de Campinas chegando. Aí tive certeza de que iria assistir a um grande show.  


Délcio subiu ao placo com uma certa responsabilidade, pois o Quarteto de Cordas Vocais que o acompanharia – que nessa noite era sexteto, pois já é quinteto e estava acrescido de uma cuíca sensacional – tinha feito uma apresentação cheia de aplausos entusiasmados.  


Délcio foi logo dizendo que era um tipo de compositor que muita gente conhecia as músicas, mas não conhecia o autor. E ele estava ali para que todos o pudessem conhecê-lo. E começou a cantar músicas suas com outros parceiros, como, além de Dona Ivone, Ivor Lancelotti, Mário Lago Filho, Capiba, Elton Medeiros, Maurício Tapajós, Noca da Portela, etc., mostrando que compõe só com cobra criada, como diria o grande Adelzon Alves, o amigo da madrugada, na Rádio Globo dos anos 1970. 


Com sua voz suave, ele foi desfiando lindos sambas, alguns grandes sucessos como "Esperanças Perdidas" e "Sonho Meu", além de outros que caíam na hora no gosto da plateia que não se inibia de cantar junto o refrão, principalmente em alguns sambas de roda feitos com aquele toque que só o compositor carioca sabe dar.   


No fim do ótimo show, comprei o CD "A Lua e o Conhaque" que ele estava vendendo e fiz questão do autógrafo. E é esse CD, com 17 músicas da mais fina estirpe do samba carioca, que estou ouvindo agora. Tem samba, samba canção, samba de roda... Tem hora que parece Cartola, outra hora parece Paulinho da Viola, às vezes Nelson Cavaquinho, mas são todos Délcio Carvalho, um sambista que nos deixou em novembro de 2013 e que, sem aparecer como outros grandes sambistas, deixou uma obra que encanta a todos aqueles que não são ruins da cabeça nem doentes do pé.  

Não encontrei o CD na íntegra pra ser ouvido, mas ele está à venda nos bons sites do ramo. 

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...