O disco que tenho é uma cópia num CD que um amigo copiou
e me deu de presente há vários anos. Caprichoso, ele reproduziu a capa do LP
original para o tamanho de um CD, frente e verso. E no verso há um longo
artigo, em português e sem assinatura que, por tomar toda a contracapa do LP,
na versão CD diminuiu tanto o tamanho das letras que se torna necessário o uso
de uma lupa para lê-lo.
As obras-primas compostas pelo genial Leonard Bernstein
são todas tocadas no disco pelo também genial Oscar Peterson Trio. O resultado
dessa união de gênios da música não poderia dar em outra coisa: o disco é uma
obra-prima que traduz, com rara sensibilidade e técnica, a essência de um dos
maiores musicais da Broadway para a linguagem do jazz instrumental.
Lançado em 1962, West Side Story do Oscar Peterson Trio,
com a trilha da peça homônima de 1957 (e imortalizado no cinema em 1961), o
álbum é mais do que uma simples adaptação: é uma reinvenção que homenageia e
transcende o original.
O disco foi
gravado por aquela que é considerada a formação clássica do Oscar Peterson
Trio: Peterson no piano, Ray Brown no contrabaixo e Ed Thigpen na bateria. Esta
formação, ativa entre 1959 e 1965, ficou marcada pelo equilíbrio técnico e pela
musicalidade fluída entre os músicos, com cada integrante contribuindo de
maneira essencial para a sonoridade do grupo. Brown, com seu contrabaixo ágil e
profundo, oferece uma base sólida e melódica, enquanto Thigpen traz uma
abordagem sutil, de refinamento quase orquestral, com o uso magistral das escovas
e dos pratos. No centro, Peterson atua como maestro e solista, exibindo sua
impressionante combinação de virtuosismo, swing e lirismo.
Leonard Bernstein compôs a trilha de West Side Story com
forte influência do jazz, da música erudita e dos ritmos latinos. A história
moderna de Romeu e Julieta (é disso que se trata West Side Story) ambientada em
Nova York oferecia um pano de fundo perfeito para experimentações sonoras.
Peterson e seu trio, ao reinterpretar esse repertório, não apenas respeitam o material
original como também o transformam com uma liberdade criativa característica do
jazz.
A primeira faixa é
“Something’s Coming”, marcada por mudanças de tempo, acentos rítmicos e uma
sensação de expectativa que Peterson traduz com frases rápidas e mudanças
súbitas de dinâmica.
“Somewhere”, a segunda e talvez a faixa mais conhecida do
musical, ganha um arranjo vibrante e rítmico, com o trio explorando sua
estrutura polirrítmica em compassos alternados. Peterson faz uso do piano
percussivo para evocar o espírito enérgico da peça, enquanto Thigpen introduz
elementos rítmicos que remetem à música latina, mas sempre dentro do contexto
do swing.
Em “Jet Song”, a
terceira faixa a irreverência dos Jets ganha uma leitura cheia de groove e
síncope, com destaque para o diálogo entre baixo e piano.
Faixas como “Tonight” (quarta) e "Maria"
(quinta) revelam o lado mais lírico do trio. Em “Tonight”, a interpretação é
marcada por uma beleza contida, com nuances que capturam a urgência romântica
da canção original. Já em “Maria”, Peterson explora a melodia com delicadeza,
evitando exageros e deixando espaço para a emoção aflorar nas pausas e nos
toques sutis. O piano canta, por assim dizer, substituindo a voz com pleno
domínio expressivo.
A sexta faixa é "I Feel Pretty", um exercício
bem-humorado do trio que esbanja entrosamento, marcado pelo ótimo improviso de
Peterson e pela base forte de bateria e baixo.
A última (são só 7 faixas, infelizmente),
"Reprise" retoma o lirismo em que o trio se encaixa tão bem. Tomando
ares de valsa-jazz em alguns momentos, a melodia escapa para nuances perfeitas,
muito bem concatenadas, revelando que o disco West Side Story é mais do que um
exercício de transposição de gêneros. Ele representa um verdadeiro diálogo
entre dois mundos musicais: o teatro musical e o jazz de câmara.
Oscar Peterson tinha vasta experiência em transformar
standards da Broadway em peças jazzísticas, mas este álbum se destaca pelo
desafio específico que representa: adaptar um musical inteiro, com suas
mudanças de clima, ritmo e emoção, sem o uso da palavra cantada.
Aliás, por falar em palavra cantada, todas as músicas têm
letras, que aqui não é oc aso, de Stephen Sondheim, considerado um dos
reinventores do musical norte-americano.
Em suma, West Side Story com o Oscar Peterson Trio é um
disco que, mais de seis décadas após seu lançamento, continua relevante e
encantador. É uma ponte entre mundos, estilos e épocas, e um tributo à força da
melodia, da improvisação e do encontro entre grandes mentes musicais.
O disco todo pode ser ouvido no YouTube em
https://www.youtube.com/watch?v=LGb2wuT1p9o e pode ser encontrado em CD ou LP
no Mercado Livre.
*A pesquisa para este artigo foi auxiliada
pela IA do ChatGPT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário