quinta-feira, 14 de abril de 2022

Trilhas de rock

Por Edmilson Siqueira 

No início dos anos 1990, o formato Compact Disc, popularmente conhecido como CD, reinava absoluto. Os velhos LPs de vinil eram coisa do passado e, embora ainda estiveram em uso na casa de muita gente, já era difícil encontrar lojas que o comercializassem.  


Uma das grandes vantagens do novo formato era que nele cabiam muito mais músicas (70 minutos perto dos 30 a 40 muitos de um LP) e as gravadoras aproveitaram para colocar no mercado inúmeras coletâneas de grandes astros ou coletâneas com um

conteúdo específico. 


O Melhor da Bossa Nova, Os Grandes Sucessos dos anos 60, 70 ou 80, o Melhor dos Mamas & Papas e muitos outros títulos que vicejaram por aí, trazendo muita coisa boa, mas muito lixo musical também. 


Eu tenho na coleção de CDs muitas dessas coletâneas que, se não são um aforam de conhecer profundamente a obra de um artista ou o que realmente aconteceu numa década, trazem, de modo geral, um apanhado importante daquilo que se pretende mostrar. Mas, claro, que muitas gravadora aproveitaram para, junto com material de primeira, desovar faixas que estariam encalhadas para sempre caso o vinil não fosse substituído pelo CD. 


Uma dessas coletâneas que considero das mais representativas e muito bem elaboradas é a "Rock & Roll From The Movies". O CD que tenho foi editado pela Movie Play de Portugal. A Movie Play é uma empresa belga e existe também no Brasil. Mas não encontrei um exemplar brasileiro à venda, só importado. 

Richard Loyd, que escreve no encarte do CD, afirma que os filmes onde os rocks fizeram parte da trilha sonora podem não ser clássicos, mas as 24 faixas são "rock & roll" puros e mágicos.  


Nem todos são nomes conhecidos no Brasil, aliás. alguns filmes nem devem ter sido exibidos por aqui. Mas a linguagem universal da música e do rock em particular, se incumbe de deixar o ouvinte com aquela cara de satisfação a cada faixa. 

Lollipop, uma baladinha que andou fazendo sucesso por aqui há muitas décadas, abre o disco, nas afinadas vozes do grupo The Chordettes, do qual, sinceramente, jamais ouvi falar. Mas é gostoso ouvir. Foi rilha do filme Stand by Me. 


Rock mesmo está na segunda faixa, com o clássico Blue Sued Shoes, na voz de Carl Perkins, que mantém a tradição das boas versões dessa música. Porky's Revenge (Porky's Contra-ataca) foi o filme que ela ilustrou. 


As trilhas prosseguem com The Kingsmen cantando Louie Louie, do filme Animal House (Club dos Cafajestes); Gene Chandler canta Duke of Earl, do filme Hairspray, de 1988. Nova versão do filme foi feita em 2007 que, por aqui, recebeu o nome de Em Busca da Fama.  


The Dixie Cups canta Chapel of Love, do filme Full Metal Jacket (Nascido para Matar);  Fontella Bass apresenta Rescue Me, do filme Sister Act (Mudança de Hábito); The Countours canta o sucesso Do You Love Me para o filme Ritmo Quente e Bill Haley, um dos pioneiros do rock, canta Shake, Rattle and Roll, para o filme Hot Bubblegum, batizado por aqui de Paquera e Curtição. 


Baby Love, filme de 1968, tem Eddie Cochran com Summertime Blues; Sam Cook, outro pioneiro, canta Wonderfull World, para o filme Witness, de 1985; Phil Philips canta a décima-primeira faixa do disco, trilha de um filme da pesada, com grande elenco: Sea of Love (Vítimas de uma Paixão).  


The Dubs canta a balada Could This Be Magic, do filme Coupe De Ville (Cadilac Azul); Chuck Berry, um dos reis do rock, aparece com School Day do filme Rock 'N' Roll High School; Bo Diddley canta Who Do You Love, um rock apressado do filme La Bamba.  


The Exciters canta Who Do You Love, trilha do filme The Big Chill (O Reencontro), com um elenco estrelado; Little Richard - o enfant terrible do rock, nos traz Tutty Frutti, sucesso mundial, que esteve presente na rilha de Down and Out in Beverly Hills (Um Vagabundo na Alta Roda). 


Gene Pitney canta Town Without Pity, também do filme Hairspray, de 1988; Frank Avalon canta Venus, da trilha do grande sucesso Born On The Fourth of July (Nascido em 4 de Julho); Gen Vincent traz Be-Bop-a-Lula, do filme Wild At Heart (Coração Selvagem). 


The Cadillacs cantam Speedo do violento filme The Good Fellas (Os Bons Amigos); a dupla Santo & Johnny cantam Sleep Walk, do filme Mermaids (Minha Mãe É Uma Sereia); Jerry Lee Lewis, outro dos grandes do início do rock, aparece com seu sucesso Great Balls of Fire do filme do mesmo nome e que aqui se chamou A Fera do Rock, que é a biografia do cantor. 


The Flamingos aparecem com a melosa I Only Have Eyes For You do filme My Girl (Meu Primeiro Amor) e, por fim, The Capitols cantam Cool Kerk do filme Home Alone 2 (Esqueceram de Mim 2). 


O CD está à venda nos bons sites do ramo e há preços que variam de 13 reais a 90 reais. 

quarta-feira, 13 de abril de 2022

A Waly Salomão 1

 Por Ronaldo Faria

Castelos, vapores, odores, dores, orações de semióticas flores. Canções e poemas a queimarem ardores e amnióticos horrores. Nas blasfêmias efêmeras, as fêmeas a se digladiarem com um ser abstrato e volátil, morto e vivo. Aos eufemismos, as migalhas do mesmo, no mimo...

terça-feira, 12 de abril de 2022

Uma dupla genial num disco único

Por Edmilson Siqueira 

Nos Estados Unidos o costume de unir dois grandes artistas num só disco é mais comum que no Brasil. Aliás, houve também uma série de discos com um artista principal e, em cada faixa, um convidado para cantar junto. Foram os famosos "duets", que envolveram Frank Sinatra, Tonny Bennett e muitos outros. O Brasil andou copiando com bons resultados.  


Como o costume nos EUA é mais antigo, pesquei nas gavetas um CD reeditado em 1988, proveniente de um LP gravado em 1961, com ninguém menos que Ray Charles e Betty Carter. O resultado do encontro desses dois artistas é um disco histórico com 12 faixas deliciosas (mais três como "plus", só com Ray Charles).  


O CD teve sua versão nacional, pela Movie Play, mas "daquele jeito". O texto em inglês reproduzido não chega ao final. Então, pelo CD não ficamos sabendo seu autor, nem se fazia parte do LP original ou foi escrito apenas para o CD. Tive que pesquisar a venda do LP no Mercado Livre e, numa foto da contracapa, descobrir que o texto está lá na gravação original, é muito mais longo do que aparece no CD e foi escrito por Sid Feller, em 1961. Descubro também que esse disco é o único com a dupla, o que o torna ainda mais precioso. 


A seleção começa Ev'ry Time We Say Goodbye, um clássico de Cole Porter. Mas não é o único clássico do jazz norte-americano que aparece no disco. Side by Side, de Harry Woods, Baby, It's Cold Outside , de Frank Loesser, For All We Know, de Lewis-Coots, Alone Togheter, de Dietz e Schwartz, são algumas das ótimas faixas que Ray e Betty transformam em pérolas musicais. 


Gravado em 13 e 14 de junho de 1961, quando ele tinha 31 anos e ela 32, o disco acaba por deixar um registro desses dois autores no auge da capacidade de interpretar uma canção. O resultado é uma união perfeita entre a voz límpida e cristalina de Betty e o som meio gutural de Ray. A essas qualidades todas, juntaram uma ótima orquestra e o The Jack Halloran Singers, fazendo um back-vocal extraordinário em várias faixas.  

No encarte, Sid Feller afirma que "resumindo, gostaria de deixar registrado que a gravação deste pacote ocupará um nicho em minha memória como uma tarefa verdadeiramente memoráveis de um trabalho prazeroso. Ambos, Ray e Betty, renderam performances inequivocamente inspiradas em cada faixa. A inspiração provou ser contagiante, espalhando-se nos músicos, nos assistentes técnicos, na equipe de engenharia - e, principalmente, em mim!" 


Com esse depoimento, acho que não preciso me alongar mais sobre as qualidades do disco. Ambos, Ray e Betty, gravaram muitos outros discos, memoráveis, também, depois desse. Mas esse é especial, não só pelo fato de ser o único da dupla, mas também pela inspiração de ambos num momento tão criativo. 


O CD está inteiro no YouTube: https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_lQdH7dIpbftAJsWH3mBN5CYgS6dOcM2DI 


E também pode ser adquirido (inclusive o LP) nos bons sites do ramo. 

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Às torquatálias que viram dálias

 Por Ronaldo Faria

Ser Torquato após um ato qualquer, de que vale? Talvez o revés de um viés inócuo em solilóquio quieto e calado. Passagem sem paragem, leve em mim, leviana a se desdobrar em barbáries e bestiais paráfrases. A levar lavras e frases inexatas, cascatas de suores e vozes viscerais intermediadas em si. Sinfonias bastardas. Versos insones que revoam corações voláteis em drones. Na topografia que a grafia desdiz, o ágrafo desejo de correr entre estradas e perigos. No suor derradeiro que se desdobra de pingos, o umbigo. Uma língua a se desmilinguir de passeios e asseios entre o amor e o signo. A quase chegar, um domingo. Na esquina pede comida carcomida o mesmo mendigo. A vestir a moda passada, um sessentão e seu índigo blues. Sob o negror da noite, rasgos de muitos azuis. Caminhando entre o passado e o presente, um ausente aprendiz a comer seus últimos neurônios. Acrônicos, tardios e cômicos, eles volatilizam o mesmo caminho. Há escaninhos e descaminhos na biblioteca que o esteta fez.

A Torquato Neto, eu - um poeta em feto. No resto que nunca romperei ao cordão umbilical e fatal. Apenas gracejos ao próximo beijo. Tardio, o descalabro entrelaçado em pele crua... 


sábado, 9 de abril de 2022

Djavaneando outra vez

Por Ronaldo Faria

E quando te perguntam porque ainda viver? Há respostas sábias, sabiás a cantarolarem palmeiras e poetas do passado a fervilharem poeiras, quiçá, como diria o profeta, rajadas inócuas de vento ou ira de tubarão.

Por isso não te perguntam mais coisas sem nexo. Não haverá um açaí sequer que tenha o gosto do teu corpo, o limiar dos teus beijos, o toque e o sorriso procrastinados a virarem poesia numa madrugada inerte sem madrigais.

No mais longínquo cordão encarnado, um pedaço de pêndulos coloridos que fazem perdurar o choro de profanas unções que nem o mais desbragado e louco bêbado farão existir numa história histriônica por ser ou ter. 

Por isso, “valei-me Deus”. Afinal, essa moça, pela sua graça, não há de fazer feliz. Só não a quero vê-la infeliz. Estradas descompensadas e distantes em décadas e caminhos, apenas são a margarida que, bisonha, não nasceu.

De um lado, a mais linda flor que alguém possa ter plantado ou suscitado um dia plantar. O que de mais lindo há ou haverá. Do outro, um descompensado ser, que segue suas esquinas sem saber sequer o que é chegar ou voltar.

Por isso, a Djavanear, numa alma mais perdida no cheiro da noite que se apregoa infinda à madrugada, vai-se a teclar (no tempo que era datilografar) para ver se, ao findar do limiar, nos descubramos outra vez a vida amar.


sexta-feira, 8 de abril de 2022

Pagode Jazz Sardinha’s Club

Por Edmilson Siqueira 


Remexendo a coleção de CDs, encontrei esse Pagode Jazz Sardinha's Club, lançado em 1990. Fazia empo que não ouvia e foi um prazer botar o disquinho pra girar e ser iluminado pelo feixe de laser que, num desses milagres da tecnologia, retira daquela superfície o som que foi gravado num estúdio e bota nas caixas no volume que a gente quiser. Parece coisa simples, mas o que tem de noites em claro de cientistas para conseguir esse feito, não é pouco, não. Entre o início dos estudos e o lançamento do primeiro CD se passaram oito anos.  


Mas, tecnologia à parte, vamos falar do disco do Sardinha's. É um grupo carioca que, assumidamente, faz samba-jazz. Como é carioca, nada a estranhar a homenagem à "sardinha", um ótimo tira-gosto que, neste escrevinhador, provoca uma saudade danada de um chope gelado num bar do Leblon.  


O disco é o segundo do grupo, que, apesar de ser mais instrumental, trata-se de um “jazz club” e só os que conhecem muito de música se atrevem a chamar o que fazem também de jazz.   


Formado por músicos dos mais competentes, a música do Sardinha’s só podia fluir como se num baile fosse e é isso que o grupo fazia (e acho que faz ainda) lá pelas bandas da Lapa, no Rio. Ali, no Rio Scenarium, bailes semanais (toda sexta-feira) para mais de mil pessoas. Os sete integrantes da banda buscaram inspiração na musicalidade da Lapa de hoje. Ou seja: eles tocam na melhor escola de músico que existe – os bailes – e na velha Lapa carioca de tantas tradições musicais, um bairro que se confunde com a própria história do que há de melhor na MPB.  Então o CD não tinha jeito de sair apenas mais ou menos. E pagode, antes de desvirtuarem o significado, era isso: uma festa com samba, bebida e comida. 

O disco apresenta, logo de cara, um samba no melhor estilo gafieira – Chave de Cadeia – e dá bem ideia do que pode o grupo.  Savana que vem depois segue o estilo e mantém a qualidade. Na terceira faixa, a presença de Zeca Pagodinho, numa das duas únicas faixas com letra (a outra é um pot-pourri com sambas de roda) é um atestado de que o pessoal está bem acompanhado. O samba que leva o nome do CD tem uma letra que foge até ao estilo de Zeca, mas é o retrato do que o Sardinha’s pretende ser: uma colcha de retalhos de influências, sem preconceito e preocupado apenas em fazer boa música. Samba Castiço, quarta música, é puro samba carioca com ares de regionalidade dados pelo solo de bandolim, mas sem perder o suingue que seu andamento proporciona. 


Uma das poucas músicas não assinadas pelos compositores do grupo – Eduardo Neves e Rodrigo Lessa – é a quinta faixa. E o Sardinha’s foi buscar em Chico Buarque não um dos seus inúmeros e excelentes sambas, mas uma de suas músicas mais emblemáticas: Joana Francesa. E o que se ouve é um momento de emoção, traduzido na delicadeza dos solos de trombone, no arranjo sutil, na suavidade da percussão. José do Egito, O Dia em que Ela Chegou, Suingue Envolvente, O Maxixe, Neném!!!, Choro Transgênico, Chorinho de Gafieira, Não Sou Mais Disso/Faixa Amarela/O Feijão de Dona Neném e Olhos D’Além Mar são as outras das 14 generosas faixas do disco. Um trabalho perfeito que merece estar na estante de quem gosta da boa MPB. 

Várias das músicas do disco estão disponíveis no YouTube e o CD ainda está à venda nos bons sites do ramo. 

Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...