quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Rod Stewart canta 68 clássicos americanos

 Por Edmilson Siqueira 


São cinco CDs gravados entre 2002 e 2010, sendo que os quatro primeiros foram na sequência (2002 a 2005) e o último só cinco anos depois. Eu estou me referindo ao "The Great American Songbook", do cantor Rod Stewart. Trata-se sem dúvida, de uma ótima ideia, pois junta, em cinco volumes, nada menos que 68 clássicos da música norte-americana. 


E tudo foi escolhido com muito bom gosto. A voz diferente de Rod, que muitos não acreditavam que pudesse ficar bem fora do pop ou do rock, se mostra aqui muito bem casada com ótimos arranjos de grandes orquestras. Todos os CDS tiveram ótima produção visual, com belas capas e encartes com alguns textos e as letras de todas as músicas. Além, é claro, de detalhadas fichas técnicas.  


O primeiro CD da série - cada um deles leva na capa o nome de uma das músicas - se chama "It Had Be You" e a seleção é composta por, entre outras, "You Got To My Head" (Haven Gillespie e Fred Coots); "They Can't Take That Way From Me (George e Ira Gershwin), "The Way You Look Tonight" (Jerome Kern e Dorothy Fields), "It Had To Be You (Gus Kahn e Ishan Jones), "That Old Feeling" (Sammy Fain e Lew Brown), "These Foollish Things" (Sammy Fain e Lew Brown) e outras do mesmo nível.   


O segundo disco é "As Time Goes By" e nele Rod Stewart interpreta mais canções inesquecíveis como "Time After Time" (Sammy Cahn, Jule Styne), "I'm in the Mood for Love" (Dorothy Fields, Jimmy McHugh), "Don't Get Around Much Anymore" (Duke Ellington, Bob Russell), "Bewitched, Bothered & Bewildered" (Richard Rodgers, Lorenz Hart), "Where or When" (Rodgers, Hart), "Smile" (Charlie Chaplin, Geoffrey Claremont Parsons, John Phillips) e, claro, "As Time Goes By" (Herman Hupfeld). 


O terceiro se chama Stardust e a seleção tem coisas como "Embraceable You" (George e  Ira Gershwin), "For Sentimental Reasons" (William Best e Deek Watson), "Blue Moon" (Richard Rodgers, Lorenz Hart), "What a Wonderful World" (Bob Thiele, George David), "Stardust" (Hoagy Carmichael, Mitchell Parish, "Manhattan" (Rodgers e Hart), "'S Wonderful" (George e Ira Gershwin) etc. 

Thanks For The Memory" é o título do quarto disco da coleção do grande repertório norte-americano. As músicas nada devem aos anteriores em termos de qualidade. Alguns exemplos: "I've Got a Crush on You" (George e Ira Gershwin), "I Wish You Love" (Léo Chauliac, Charles Trenet), "You Send Me" (Sam Cooke), "Long Ago and Far Away" (Jerome Kern, Ira Gershwin), "Makin' Whoopee" (Walter Donaldson, Gus Kahn), "My One and Only Love" (Guy Wood e Robert Mellin), "Taking a Chance on Love" (Vernon Duke, John Latouche, Ted Fetter), "My Funny Valentine" (Richard Rodgers, Lorenz Hart) e outras tão boas quanto. 


Por fim, o quinto disco, gravado só cinco anos depois do quarto, é "Fly Me To The Moon" cujas joias escolhidas têm entre outras "That Old Black Magic" (Harold Arlen, Johnny Mercer), "Beyond the Sea" (Jack Lawrence, Charles Trenet), "I've Got You Under My Skin" (Cole Porter), "What a Difference a Day Makes" (Stanley Adams, María Grever), "I Get a Kick Out of You" (Porter), "I've Got the World on a String" (Arlen, Ted Koehler), "Love Me or Leave Me" (Walter Donaldson, Gus Kahn) e por aí vai... 


Em várias músicas, Rod Stewart convidou outros artistas para um dueto com ele, como Diana Ross, Chris Botti, Chaka Khan, Elton John, George Benson e muitos outros, aumentando mais ainda a qualidade, que já é grande apenas com Rod, das canções.  


Os CDs estão à venda nos bons sites do ramo, todos juntos ou separados, bem como todos os cinco volumes estão à disposição no YouTube. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Século que se foi no piano de João Bittencourt

 Por Ronaldo Faria

“Cafajeste”. Essa foi a primeira palavra que saiu da sua boca. Largada no canto da sala, entre um choro e outro, gato a ronronar no sofá com manta de tafetá, Maria não teve outra reação. E lá estava, a afundar pela porta do mundo, o seu marido José. A atravessar a rua rumo ao bonde que passava lamurioso diante da catedral. No barulho dos trilhos, um tanto de etecetera e tal. Era tarde. No céu a lua transbordava de luar o dourado que caía logo ao longe. Quase à mesma distância, um piano dedilhava notas líricas e sons à surdina do amor desfeito. E até hoje ninguém disse se houve erros ou se o coração de alguém deu defeito. Foi tudo feito partituras sem cor. À dor. Talvez um tom em sustenido, uma nota acrescida em cifras sem nexo ou sentido desigual.

Houve apenas o fim de poemas, a dor de Maria, a euforia finda, a desdita inaudita. A querência de uma paixão que deitou em lençóis para se despedir de saudades e sóis. A triste carência de duas mãos sem poder tocar outras duas e a face de um incrédulo calor. Faltam as coxas, os braços a correrem o ventre, o dente cravado entre pernas a morderem um incrédulo torpor. A janela, agora aberta entre cortinas sujas e brancas, dá para o nada que se transforma em esquinas e sinas. Num canto da cena, no coreto em prelúdio, um casal troca carinhos e promessas que, na pressa, corações deixaram de acreditar. Na casa, é hora de se deitar. De esquecer tragédias e histórias de contos que fadas não fazem ou sabem mais escrever.

Afinal, sabia Maria, nem sempre onde há brisa faz-se o mar. No seu porto quieto, sem ondas a bater, marinheiros a tragarem goles de cachaça e salivas de prostitutas brejeiras, partidas e chegadas, apenas o querer imenso que não fecha a chaga. E anos se passaram, dias amanheceram e derrearam, canções se cantaram e se calaram. Cabelos brancos, pintados de dor e ranço, enfim chegaram. A pele tornou-se um grande antro de rugas e réstias de beleza. Na fraqueza das pernas, o tempo parou. E Maria, a tocar o ventre que nunca brotou, antes da morte teve ainda um suspiro de rancor. “Cafajeste”, disse em presto e tosse ao mundo que a deixou. Longe de lá, bem além-mar, José brindava ao infinito o finito gole de outro bar.
 
A ouvir João Bittencourt Apresenta Júlio Reis

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Nat King Cole em dobro

Por Edmilson Siqueira 

Uma das vantagens do CD que as gravadoras aproveitaram foi o fato de nele caberem dois LPs. Muitos sucessos antigos e que não tinham mais chance no antigo formato, acabaram virando, se não campeões de venda, pelo menos um bom negócio, inclusive para os artistas ou seus herdeiros.  


O grande Nat King Cole, por exemplo, morreu em 1965, com muitos LPs gravados, alguns considerados verdadeiras da música norte-americana. Pois em 1992, a gravadora Movie Play se aproveitou do acervo de Cole e lançou em CD não um, mas dois de seus LPs, ambos ótimos, por sinal. E ambos os LPS foram lançados em 1967, dois anos depois da morte de Nat, como coletâneas de alguns de sus sucessos.  


O CD faz parte da coleção "Two In One", uma boa ideia (mais uma, por sinal) de aproveitamento da novidade que ficou pronta para ser comercializada nos anos 1990.  

O primeiro disco colocado no CD foi "Sincerely, Nat King Cole", um título que revela toda o cavalheirismo desse pianista de jazz e ótimo cantor. Aliás, ele começou com trios de jazz, virando cantor só mais tarde, por insistência de amigos que ouviam-no cantar. Ainda bem que topou, pois o mundo ganhou uma voz ímpar, um tom grave que encantou a todos.  


Esse primeiro disco é dedicado mais à tradicional canção americana, lenta, acompanhada de grande orquestra. É um Nat King Cole em plena forma, cercado de grandes arranjadores e tendo um bom repertório à disposição. Canções como "Sweethearts On Parade" (Lombardo e Newman), "Let Tell You, Baby" (Goodwin), Let True Love Begin" (Barkan, Baron e Eddy) e "Silver Bird" (Tobias e Libby), fazem parte das onze canções que preencheram o vinil "Sincerely, Nat King Cole". Quem é fa do cantor - e basta gostar de boa música para sê-lo - vai identificar nessas faixas grandes canções muito bem interpretadas. 

O outro LP que juntaram para fazer o CD é "The Beautiful Ballads". O estilo é o mesmo do primeiro, repleto de ótimas canções e com intepretações impecáveis de Nat King Cole, aqui também acompanhado de grande orquestra e, em algumas músicas, coral. Já era uma época em que Nat havia se desvencilhado dos preconceitos que enfrentara, principalmente em seu programa televisão que durou apenas um ano por falta de patrocínio nacional, embora ele tivesse audiência suficiente para prosseguir.  

"Felicia" (Gilbert e Minucci), "Miss Me" (Ash e Marcus), "A Fool Was I" (Alfred e Adams) e "If I Knew" (Meredith Wilson) são algumas das joias que Nat King Cole gravou e que são aqui reproduzidas. 


Encontrei os CDs separados à venda por aí, mas o que tenho, da coleção Two In One é importado. De qualquer forma, há muita coisa boa de Nat no YouTube para quem quiser ouvir, inclusive as canções desses dois LPs. 

sábado, 10 de dezembro de 2022

Uma pequena coletânea de jazz ao piano

Por Edmilson Siqueira 

Já escrevi aqui que depois do surgimento do CD com suas facilidades e barateamento e de regravação, muitas coletâneas surgiram, com as gravadoras aproveitando seus acervos para jogar na praça muita coisa boa que estava esgotada em vinil. E surgiram ideias também de montar discos com vários artistas, dentro de uma característica comum entre eles. "Baladeiros", "Hitmakers" e outros do tipo, dentro do universo do jazz, foram alguns títulos que reuniram grandes instrumentistas. 


"Piano" é um desses casos. Num só CD, oito faixas foram distribuídas por quatro geniais pianistas: Count Basie, Thelonius Monk, Rolland Hanna e McCoy Tyner. 


O disco abre com Count Basie com duas gravações ao vivo na Europa, em 1958. São elas "How High Is The Moon (Lewis e Hamilton) e "Old Man River" (J. Kern e O. Hammerstein II). Basie aqui está com sua grande orquestra e seu piano é apenas mais um dos seus dezoito instrumentos, onde sobressaem os metais. O arranjo da segunda faixa é de tirar o fôlego. 

Sobre Basie, o encarte no CD afirma que "...A sua performance ao piano sempre foi relegada a um segundo plano pela sua excessiva modéstia, muito embora ele tenha sido o iniciador de um estilo notável pela sua garra melódica bem como pela execução precisa". Precisa dizer mais? 


Já o extraordinário Thelonius Mong, surge nas duas faixas seguintes - "Body And Soul" (Sour, Heyman, Green e Eyton) e "I'm Getting Sentimental Over You" (R. Rodgers e L, Hart), dois clássicos por sinal, sozinho na primeira e acompanhado de sax tenor, baixo e bateria na segunda. São gravações ao vivo também, mas não há informação do local nem do ano. 


A quinta e a sexta faixa estão a cargo de Rolland Hanna e a gravação foi feita em Nova York, em 1973. São elas "Hallelujah" (Youmans, Robin e Grey), tocada num estilo frenético que só os grandes pianistas conseguem, e "You Took Advantage Of Me" (R. Rodgers e L. Hart), um gostoso swing solo de Hanna. 


As duas últimas músicas ficaram a cargo de McCoy Tyner. "Lover Man" (Davis, Ramirez e Sherman) e "What's New (Haggart e Burke) são dois solos de piano muito bem executados. Foram gravados no Musicians Exchange Café, na Flórida, em 1987. 


O CD tem edição nacional e está à venda nos bons sites do ramo. Não o encontrei no YouTube. 

Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...