segunda-feira, 27 de maio de 2024

Jobim com sotaque português

Por Edmilson Siqueira


Dizer que Tom Jobim é o nosso maior compositor, que sua música atravessou fronteiras e que continua sendo tocada no mundo inteiro, já se falou muito por aí e é bom que se continue falando, pois nosso Maestro Soberano merece tudo isso e muito mais.
Pois agora, já há algum tempo, mais precisamente em 2016, o Brasil e o mundo foram brindados com um trabalho de uma cantora portuguesa no auge de sua maturidade e sucesso, com um CD só de músicas do mestre. 
A cantora se chama Carminho, está com 39 anos e nasceu em Lisboa. Tem nome de embaixadora: Maria do Carmo de Carvalho Rebelo de Andrade, mas adotou a alcunha no masculino (o normal seria Carminha, né?, como minha mãe que também era Maria do Carmo) e já gravou seis álbuns de estúdio, sendo o de Jobim o quarto.  
Carminho tem uma relação bem forte com a música brasileira. Já teve participações em discos de Alceu Valença, Elba Ramalho, Marisa Monte e Os Tribalistas. Mas descobriu nossa música ainda criança, ao ouvir as trilhas sonoras das novelas brasileiras, principalmente da Globo, que passavam em Portugal e, em cujas trilhas sonoras, desfilaram  canções de Chico Buarque, Elis Regina, Milton Nascimento, Tom Jobim e Vinícius de Morais e outros. 
Quando tinha 12 anos, sua mãe assumiu uma casa de fados em Lisboa, a Taverna do Embuçado, e ali Carminho conheceu grande nomes da típica música portuguesa. Pois, na Festa do Embuçado, que ocorria todo ano, Carminho pediu para cantar. O trecho a seguir é uma narração da própria cantora: 
"Eu disse que queria e o meu pai disse que não, porque não queria passar vergonhas. Mas insisti e ele disse que eu podia ir se o Paquito, que tocava no Embuçado na altura, aprovasse. O Paquito [guitarrista da casa] disse que eu tinha tempo e era afinada: 'Por que é que não hás-de deixar a miúda ir?'. Eu cantava o 'Fado do Embuçado' e mais nada. Adoraram, porque era como uma mascote, ter uma menina de folhos a cantar o 'Fado do Embuçado'. A partir daí, sempre que havia algum dia especial, a minha mãe levava-me ao Embuçado." 
E quando ela fez 15 anos, passou a cantar regularmente na Taverna do Embuçado, iniciando uma carreira que só lhe trouxe sucesso. Dos seis discos gravados, quatro foram certificados com Disco de Platina e um de Ouro. 
"Carminho Canta Tom Jobim", esse é o nome do disco, é uma delícia de ouvir. A começar pelas letras tão nossas conhecidas sendo cantadas com sotaque de Portugal. Ganham até uma certa nobreza. Só que o disco foi gravado no Brasil, com músicos brasileiros, o que faz do conjunto, uma mistura mais que fina. 
Paulo Jobim (violão), Daniel Jobim (piano), Jacques Morelenbaum (violoncelo) e Paulo Brana (bateria) é o time que ela esclou para acompanhá-la. Só cobra criada. 
E pra completar, Carminho chamou alguns cantores brasileiros para participar. Assim, Marisa Monte está em "Estrada do Sol"; Chico Buarque está em "Falando de Amor"; Maria Bethania em "Modinha" e um trecho do poema "Canção do Exílio" de Gonçalvez Dias, é declamado por Fernanda Montenegro, abrindo a interpretação de "Sabiá". 
Além das música citadas, fazem parte do disco: "O que Tinha de Ser" (com Vinicius de Moraes); "Inútil Paisagem" (com Aloysio de Oliveira); "Retrato em Branco e Preto" (com Chico Buarque); "Triste"; "Meditação" (com Newton Mendonça); "O Grande Amor (com Vinicius de Moraes); "Wave"; "Luiza"; "A Felicidade" (com Vinicius de Moraes) e "Por Causa de Você" (com Dolores Duran), essa cantada em inglês, na versão de Ray Gilbert que ganhou o título de "Don't Ever Go Away".
O CD é da Biscoito Fino e está à venda tanto no site da gravadora quanto em outros sites. E você também pode ouvi-lo totalmente na internet. Basta clicar neste endereço: https://www.youtube.com/watch?v=JURXfggmsEE&list=PL5_udDbi4ygyht-aSdubs7D3Bxz84g9xM 


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