sábado, 9 de julho de 2022

The king of the blues

Por Edmilson Siqueira 

Riley Ben King, pra quem não sabe, é o mais que famoso B. B. King. Embora ele já tiver um B no nome, o apelido se concretizou quando ele se denominou Blues Boy, quando apresentava um programa de rádio. De infância pobre, foi criado por parentes, já que perdeu a mãe muito cedo. Aos 9 anos colhia algodão para sobreviver. Quando tentou, pela primeira vez se apresentar Memphis, Tenessee, aos 23 anos, foi para a cidade levando apenas dois dólares e 50 cents no bolso.  


Mas, para encurtar a história, B. B. King foi considerado, ao lado de Eric Clapton e Jimi Hendrix, um dos melhores guitarristas do mundo pela revista norte-americana Rolling Stone. Ao longo da sua carreira, B. B. King foi distinguido com 15 prémios Grammy, tendo sido o criador de um estilo musical único e que faria dele um dos músicos mais respeitados e influentes de blues, tendo ganho o apelido de Rei dos Blues. 


Ele morreu em 2015, aos 85 anos, depois de uma carreira repleta de sucessos e de influenciar algumas gerações de músicos no mundo todo. Os Rolling Stones, por exemplo, sempre o citam como um ídolo. Gravou mais de 130 compactos simples (disquinhos de vinil com uma música de cada lado) e 26 álbuns. 


Em 2005, a Geffen Records lançou uma coletânea chamada "B. B. King - The Ultimate Collection" - que, nas suas 21 faixas, dá um ótimo apanhado geral na carreira do Rei dos Blues. Desde "Three O'Clock Blues", seu primeiro sucesso, a coletânea passeia por inúmeras músicas que povoaram algumas paradas de sucesso e fizeram povos de todo o mundo conhecer o verdadeiro blues norte-americano. Em 1970, os Rolling Stones convidaram B. B King para participar da turnê que o grupo inglês iniciava.  

Num texto que acompanha o ótimo encarte do CD, Charles Sawyer escreve, às vésperas de B. B. King completar 80 anos:  "Desde Louis Armstrong, a América não enviou um emissário musical ao mundo que representasse tão bem os melhores, mais originais e mais generosos aspectos de nossa cultura como B. B. King. Presidentes, reis e rainhas prestaram homenagem a ele. B. B. King e sua amada guitarra, Lucile, são venerados pelos grandes artistas de nossos dias e amados pelo público de pessoas comuns em todos os lugares." 


O disco pode ser ouvido inteiro em https://www.youtube.com/watch?v=84_VsB9VWz0&list=PLvRYIs_9l-yP8dUuYYuCIxxjlynYmJBJR e ainda está à venda nos bons sites do ramo. 

sexta-feira, 8 de julho de 2022

A Elza Soares e Lupicínio Rodrigues

 Por Ronaldo Faria

Saudade, essa maldade que apunhala em cada ferida que nunca fechou e sangra feito chuva de primavera, entre flores, espinhos e pétalas caídas no chão. Coisa de versos frios e palavras sem valor. Talvez um acabrunhado amante em descalabros que apenas os apaixonados sabem balbuciar em bocas e lábios molhados dos beijos alternados de sabor e dor. Na esquina próxima, um próximo e ensandecido dissabor espera quieto o iluminar de sedas e corpos, de copos e peles desnudas a se misturarem em dry Martini, quiçá. Talvez um tocar último a ultimar a separação que entre o fato e a ação transbordam de carícias e vozes caladas o limiar entre a dança e o último acorde a tocar. Daqui, te toco em gestos prestos e afetos derradeiros, infinitos ao incandescente refletor. Saudade, esse impropério que vai de boca em boca a vitimizar os erros que só os amantes sabem decifrar. E seguem crianças e sonhadores como se fosse a vida uma mistura de ópio e espelho que nunca há o que mirar.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

João Nogueira canta Chico Buarque

Por Edmilson Siqueira 


A carreira do cantor e compositor João Nogueira deixou saudade em muita gente. Grande cantor com uma divisão rítmica toda própria e autor de vários grandes sambas, membro da Ala de Compositores da Portela, João Nogueira fez história. Seus discos venderam bem e seu filho, Diogo, com uma voz muito parecida com a do pai, anda por aí, levando o legado que herdou e criando o seu próprio com muita qualidade e personalidade. Chegado numa bebida, João nos deixou cedo, aos 58 anos. Eu estive com ele uma vez, quando era repórter da Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes). Ele veio fazer um show na região e foi à rádio promovê-lo. Infelizmente não fui eu quem o entrevistou. Mas batemos um papo rápido onde ele demonstrou toda sua simpatia e bom humor de carioca da gema. 


O sucesso de João Nogueira se deve aos seus próprios sambas e à sua interpretação diferenciada, cheio de ginga e com um vozeirão delicioso, fugindo um pouco do padrão de sambista do Rio de Janeiro. 


Pois foi essa qualidade interpretativa que levou o produtor Almir Chediak a convidá-lo para ser o intérprete do segundo volume da coleção Letra e Música, dedicada à obra de Chico Buarque de Holanda. Como o próprio Almir explica no texto do encarte, a coleção "foi inspirada no compositor Antonio Carlos Jobim que poucas vezes é lembrado pelo letrista que foi. Por esta razão, achei interessante reunir em um CD letras suas sem parcerias, para dar ênfase ao seu lado poético que é tão genial quanto o de músico." 


A escolha de João Nogueira para o disco com músicas de Chico Buarque é assim justificada por Almir: "É um intérprete por excelência, seu timbre de voz é inconfundível, possui um grave aveludado e uma divisão rítmica pessoal, além de ser um dos grandes compositores de samba desse país.  


O CD tem ainda o pianista e arranjador Marinho Boffa, que, segundo Almir, é um músico "de extremo bom gosto, "tudo fica mais lindo quando tocado ou arranjado por ele".     


Além desses dois no comando, as músicas tiveram participações de grandes instrumentistas como Carlos Malto, Jorge Helder, Luciana Rabello, Lula Galvão, Robertinho Silva, Wilson das Neves e Zé Nogueira. A cantora Leny Andrade divide o dueto de "Sem Fantasia" com João Nogueira. 


E além dessa música, constam no CD "Feijoada Completa", "A Rita", "Samba e Amor", "Com Açúcar e Com Afeto", "Homenagem ao Malandro", "O Meu Guri", "Olhos nos Olhos", "Quem Te Viu, Quem, Te Vê", "Sonho de um Carnaval", "Gota D'Água", Bastidores", "Deixe a Menina" e "Olê, Olá". 


Trata-se de um disco de alto nível, não bastassem a fina escolha do repertório que, se evidencia as belas e definitivas letras de Chico, também mostra grandes melodias, ótimos arranjos e uma interpretação irrepreensível do grande João Nogueira.  


O disco pode ser ouvido na íntegra em https://immub.org/album/chico-buarque-letra-musica-joao-nogueira-e-marinho-boffa. E também pode ser encontrado à venda nos bons sites do ramo. 

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Ao Arrigo Barnabé

 Por Ronaldo Faria

Como iniciar a noite que jaz fria e perdida entre um calendário e uma lua a murchar distante? Como terminar a insônia que vem com parcimônia me abraçar e apontar o descaminho a chegar?

Num bar qualquer estará a mulher, seminua, desnuda de emoções, servida em porções ou boquinha de anjo. Ao lado dela, um homem apaixonado e perdido nas estradas que nunca conseguiu trilhar. No meio dos dois, um copo a suar.
Na mesa, cheia de dramas e sonhos jogados ao léu, há um céu. Um céu esgarçado e jogado, ensimesmado, dilacerado e embriagado a mostrar às estrelas que o iluminam que o ébrio prefere a escuridão e o silêncio para se mostrar nu e só.
A bailar, um casal irrompe o lugar. E são passos próximos e distantes, como dois infantes a unirem pela primeira vez os seus lábios. Ávidos e afáveis, trocam carícias que farão das sevícias o derradeiro lugar, numa cama sem fronhas, sem frio, sem lar.
Na rua, translúcida aos faróis que se trocam em cores a cada cruzar, um cabaré abre as portas aos infortúnios do amor para descobrir que a todos nós resta apenas sonhar. No centro, música a girar, casais acasalam na sofreguidão do idílio e torpor.
N’algum lugar, como nas escritas de outrora, a incerteza do verso a correr letras e trovas, fonemas e prosas. Idílicos e sonsos carinhos a descortinarem a madrugada que se aconchega nos braços do dia que dorme para esquecer de raiar e sussurrar o adeus.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Um piano ao cair da tarde

Por Edmilson Siqueira 

Os mais antigos como eu já devem estar pensando que vou escrever sobre um programa de rádio que ficou muito famoso na Rádio Eldorado, anos 70 e 80 do século passado. E até poderia, talvez um dia eu escreva sobre ele, pois na loucura dos sons que invadiam nossas incipientes FMs da época, uma rádio AM ousava colocar, no fim de tarde, uma programação leve, suave e, sempre, de muita qualidade. Era "Um Piano ao Cair da Tarde" que, com certeza, embalou muitos corações tranquilos naqueles anos, contrastando com os novos ritmos que chegavam do primeiro mundo e eram macaqueados por aí. Claro que a MPB também teve grande produções à época, mas as rádios já começavam a ser mais ariscas à genuína MPB, voltando-se mais ao rock tupiniquim, o rock internacional e os sons ditos universais que pipocavam nas casas noturnas, as chamadas "discotecas".

 

Bom, depois dessa breve introdução, volto por disco que serve para trilha sonora de uma tarde preguiçosa, com uma taça de vinho à mão, ou uma cervejinha, ou mesmo um "on the rocks" para se preparar para a noite. 


O disco, que ouço neste momento, é "Gershwin For Lovers" e o suave piano que passeia pelas notas do genial compositor é de ninguém menos que Marcus Roberts.

 

Pra quem não conhece, Marcus Roberts é um pianista, compositor, arranjador, bandleader e professor. Cego desde os cinco anos, devido a glaucoma e catarata, ele começou a aprender piano aos cinco anos tocando notas esparsas no instrumento em sua igreja até que seus pais compraram um piano quando ele estava com oito anos.

Depois, frequentou a Florida School for the Deaf and the Blind em St. Augustine, Flórida, a mesma de Ray Charles.  


Esse disco foi gravado em 1994 e a dedicação de Roberts por apenas um compositor, mostra não só a importância desse compositor, mas também o tipo sofisticado de jazz que Roberts pratica, o que o coloca num nível de excelência frequentado por poucos, mesmo nos Estados Unidos.  


Entre as dezenas de músicas que poderiam compor o álbum, foram escolhidas dez que representam bem a diversidade produtiva e com grande qualidade de George Gershwin. 


O disco começa com "A Foggy Day", seguida por "The Man I Love", "Our Love Is Here To Stay", "Summertime", "Someone To Watch Over Me", "It Ain't Necesssarily So", " "Nice Work If You Can Get It", "They Can't Take That Away From Me", "How Long Has This Seen Going On" e "But Not For Me". 


Como se vê, é um repertório de clássicos escritos pelo novaiorquino filho de pais judeus russos e que é um dos maiores compositores populares de todos os tempos. E Roberts respeita tanto essa condição que toca as canções sem grandes invencionices - elas que já foram tão gravadas por aí - mantendo o clima de cada uma delas e não extrapolando nos arranjos. 

Sem qualquer dúvida, um disco para se ouvir deixando as belas melodias guiar você por um mundo de som prazerosos tocados por quem entende. Marcus Roberts, que poderia convocar toda uma orquestra para gravar, preferiu a singeleza e a qualidade de um ótimo contrabaixo - Reginald Veal - e um  grande baterista - Herlin Riley, Jr. 

O disco está à venda nos bons sites do ramo e também pode ser ouvido na íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=fLROrbd3zCc&list=OLAK5uy_liapLcmT-oytLsLST1FUaoDsNjXLvFkhI . 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Ao Bob James e David Sanborn

 Por Ronaldo Faria

Cantilenas de loucas falenas a se despojarem nuas e cruas na cama do poeta que se entrega à sina infinda de criar e recriar. No meio das pernas, duas outras pernas num sair e entrar sem findar. Doutas senhoras na imprecisa e narcisa chegada ávida da vida procrastinar. Quem sabe um som diuturno e soturno ainda paira no ar. Um brinquedo nunca dado, um derradeiro afago, uma voz que soa inaudível ao tempo crível e tolo. Na imensidão que pode haver além do infinito, o trocar de carícias e sevícias, semeaduras prolixas, tardias urgências findas. Numa visão dupla, o gole que se dá em suores lambidos e findos, o entardecer crivo, o luar dado, o sol que se abre para acordar os dois do promíscuo mundo em limbo. No meio do nada, cantares de roucas gargantas, sacripantas emoções em prantos, páginas escritas em branco. A incerteza de um amanhã que surge entre nuvens e névoas, incólumes lumes sem luz. Um sol que se esconde à margem da morte e da fronte. De mãos em sangue, o poeta sorve sua sede na fonte. Ao redor, chamas frias enchem de fogo e calor o torpor da exígua vastidão. No derrear do que ainda pode haver ou haverá, a embriaguez que tira sabe-se lá de onde a hedionda chegada do findar e ser...


Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...