sábado, 17 de setembro de 2022

A Jazz Hour With... George Benson

 Por Edmilson Siqueira 

Quando o CD começou a imperar como substituto definitivo dos LPs, a oferta de coleções foi grande. As gravadoras aproveitaram a nova mídia para desentocar muitas gravações que não encontravam mais mercado no formato antigo, pois nele só cabiam pouco mais de 30 minutos de música. O CD, com seus 70 minutos de gravação era ideal para coletâneas de artistas mais ou menos famosos, que fizeram sucesso nas décadas anteriores. Claro que nenhuma gravadora esperava que esses lançamentos tivessem grandes vendas, mas o custo de produção era baixo e mesmo que o sucesso fosse pequeno, poderia valer a pena. 


Deve ter sido isso - e otras cositas mas - que fez a Movie Play lançar, lá pelos anos 80 do século passado, a coleção "A Jazz Hour With". Não me lembro qual dos 24 exemplares da coleção que tenho foi o que comprei primeiro. Houve um tempo em que eu andava com a lista que dos CDs comprados no bolso, pois uma vez comprei um que já tinha...  


Também não sei, apesar de pesquisar no Google, quantos CDs foram lançados com o selo. Encontrei alguém vendendo, no Mercado Livre, uma coleção com 39 CDs da série, mas um dos CDs que tenho, mostra nada menos que 55 títulos sob o manto "A Jazz Hour With". 

Bom, tudo isso é pra dizer que a coleção é ótima. Se alguém se deparar com um CD dela e gosta de jazz, não hesite: pode comprar que, além de um bom panorama da obra, há sempre um excelente texto (muitos deles assinados por Famke Damsté), em inglês, situando o artista e sua arte no tempo e no espaço. 


Com isso, início aqui meus humildes comentários sobre essa coleção. Não pretendo fazê-lo sempre, mas intercalando com outros discos, de outros gêneros ou não, mas sempre voltando à coleção, na sequência em que estão guardados no meu arquivo. E começo hoje com George Benson. 


Guitarrista por excelência, mas também cantor, George é um dos poucos da coleção que ainda estão vivos. Está com 79 anos, completados em março passado. É considerado um dos grandes "guitar heroes" dos EUA. Aos 19 anos, estudou guitarra com Jack McDuff. Aos 22, formou seu próprio grupo e, alguns meses depois, já estava gravando com seu próprio nome e, aos 25 tocou no Spirituals to Swing Aniversary Concert. A partir daí, seu nome ficou conhecido no mundo do jazz, iniciando uma carreira de sucesso. 


No CD da coleção, há muita coisa boa, do mais puro jazz, pra ser ouvida. Como por exemplo "All Blue", Li'l Darling" e "Oil", músicas que fizeram a fama do George Benson Quartet. Mas outros clássicos como "Witchcraft", "Love for Sale" e "There Will Never Be Another You", todas com o toque mágico da guitarra de Benson e performances muito boas de seu grupo, formado por Mick Truck ao piano, George Duvivier no baixo e Al Harewood na bateria.  

No Youtube você pode ouvir o disco na íntegra em https://www.youtube.com/results?search_query=%22A+Jazz+Hour+With+George+Benson%22 . E ele ainda está à venda nos bons sites do ramo. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Ao Vininha

 Por Ronaldo Faria

Mestre, meu espelho ambidestro Vinicius, criador com a direita e a esquerda, de ambos lados do cérebro, a viajar à esquerda e direita de qualquer lugar. Senhor de goles, sílabas, rimas e o que quiser e for. No aforismo de nós, ainda mais quando analfabetos o somos, a criar uma brincadeira de dizer que sabemos escrever. Seja qual for o santo que baixe nesse momento, que o venha me incendiar. Na nossa vida, fica mais o menos e outro tanto num lamento de ser somente, dissonante e tênue, a poder criar.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Willie Nelson e Ray Charles juntos

Por Edmilson Siqueira 

Um DVD que junta Willie Nelson e Ray Charles poderia, a princípio, até parecer estranho. Afinal, Willie é uma espécie de rei do country norte-americano, enquanto Ray se notabilizou por ser um astro do blues e do jazz.  


Mas há um ponto em comum: um dos discos de Ray, quando ele andava meio em baixa, tem várias músicas que vieram do estilo "caipira" norte-americano que o genial cantor negro soube burilar, de modo a transformá-las em sucesso pop. "I can't stop loving you" é uma delas.  


Assim, não havia nenhum problema para que Ray fosse o convidado especial de um show de Willie para um DVD.  


Gravado no Austrin Opry House, em 1983, com Willie e sua banda, a presença de Ray Charles acontece em seis das 13 músicas ali apresentadas, além de um solo de blues no teclado que marca sua entrada no palco.  

"On the road again", do próprio Willie, abre os trabalhos, com a música já sendo cantada sobre os letreiros inaugurais do filme. O corte para o palco encontra um Willie em plena forma e muito à vontade com sua banda.  


A segunda música, ainda sem a presença de Ray Charles, é outros desses sucessos que muita gente duvida que veio do country, pois fez sucesso como música pop com outros cantores: "Always on my mind".  


Em seguida, acontece a apresentação e a entrada de Ray Charles, que se senta num teclado com som de órgão e tira dali um improviso jazzístico-bluseiro da melhor qualidade. Feita a apresentação, começam os duetos entre os dois. O primeiro é "Angel eyes", seguido de "Seven spanhish angels", duas músicas lentas que realçam as qualidades interpretativas de ambos: Willie com sua voz meio esganiçada e Ray com sua rouquidão profunda, que tanto caíram no gosto do público do mundo inteiro. 

"I can't stop loving you" e "Georgia on my mind" são cantadas em seguida, para delírio da plateia, pois são dois megassucessos em gravações de Ray Charles. Willie, cantando junto, não faz feio, pelo contrário. 


"Mountain dew" é a música seguinte, que finaliza a participação de Ray Charles: um country lascado que parece divertir muito Ray Charles que acompanha no teclado a rápida sequência de notas que a música encerra.  Sem a presença de Ray, Willie e sua ótima banda, apresentam ainda "My window faxes the south", "There will never be another you", To all the girls I've loved before", Without a song", Who'll buy my memories e "Whiskey River". 

Um DVD que recomendo a quem gosta de uma música raiz dos EUA "enfeitada" com a presença sempre talentosa de Ray Charles. 


No YouTube há várias músicas do DVD e ele ainda pode ser encontrado nos bons sites do ramo. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Tudo o que mais nos uniu...

 Por Ronaldo Faria

A Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro

Caminha adiante, para onde for ou viver. De viés, vai alvissareiro a transgredir normas e rumos, desarrumados castelos de areia, inusitadas lufadas de vento, ausentes carinhos e famélicos desejos. No degelo do coração, chegará a eterna e finda razão. Um tanto de tântrico desejo, um ensejo em revés, um inusitado descalabro a ferir impassíveis corações. Na igreja logo perto e longe, famigeradas orações. Um poeta esquecido na sarjeta a escrever versos transversos entre a água que corre no esgoto e o gosto que deixou a saliva a molhar. Um violão no desencanto de um ilusório dedilhar e a voz que se esvai na incongruência do chegar te farão companhia a brotar. No meio de tudo, um esquecer fragilizado pelo tempo ausente e demente. No peito, a guerra entre o início e o fim. Nos números ao contrário, o amargo divisor entre o amor e o fim. Um museu de casais a desenrolarem esquinas e sinas assimétricas e desiguais. No dicionário, a diferença entre homens e animais. No Carnaval em féretro venal, anéis se enchem de areia a encharcar luzes e túneis sem rebrilharem no inútil aval. Um mar que não voltará a bater no corpo em descompasso e o despacho que se largou na encruzilhada sob as asas da galinha preta e da farofa dourada. Nos alfarrábios, persas e árabes dividem as orgias do desamor. A moerem especiarias dos trópicos e trôpegas unções, vão a se esvair em relógios de sol e solicitudes trágicas e óticas. Aos camelos do deserto logo perto, de presto, letras rotas e tetras soltas a se desmancharem à margem de qualquer passar. No meio de tudo, a pergunta que não conhece a diferença entre o mau e o mal. No caminho do cantor, o fim letal. No batuque de tambores e tantãs, tantãs rebolam no salão do hospício num girar infernal...

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Uma sonora "Gargalhada"

Por Edmilson Siqueira 

Em 2001 o clarinetista (e saxofonista também) Paulo Sérgio Santos lançou um disco chamado "Gargalhada", que é nome de um choro de Pixinguinha e é a décima-segunda faixa do CD. 


Pra quem não sabe, Paulo Sérgio Santos é um músico mais que renomado e talentoso. Para se ter uma ideia mais precisa do talento do moço, que nasceu em 1958, aos 17 anos ele entrou para o Quinteto Villa-Lobos e, no mesmo ano passou a integrar a Orquestra Sinfônica da Universidade Gama Filho, sob a regência de Isaac Karabtchewsky. E aos dezoito anos passou a ser o primeiro clarinetista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 


Na música popular ele entrou mais cedo ainda, pois desde os quatro anos já solava numa harmônica que seu pai lhe havia dado. E conheceu muitos chorões no Rio, onde seu gosto pela MPB se solidificou. 


Paulo Sérgio Santos gravou muita coisa, tanto música clássica quanto popular, com outros grupos e com o próprio, mas aqui hoje o assunto é o disco anunciado lá no começo, o "Gargalhada". Sobre essa gravação, o artista declarou: "Em 2001 gravei o meu segundo CD solo pela gravadora Kuarup: o 'Gargalhada'. Basicamente, este CD foi gravado com as participações de Caio Márcio (meu filho) no violão e Bolão, na bateria e percussão. Conquistei os mais importantes prêmios que foram o Caras e o Rival, na categoria de melhor solista, neste ano de 2001. Este trabalho já continha algumas músicas de minha autoria como o 'Homenagem ao Abel', 'Samba Chorado' e 'Choro Sambado'." 

Além doas três composições próprias que ele citou, , o disco tem Maurício Carrilho e João Lyra ("Alumiando", que é a primeira faixa), Hermeto Paschoal ("Bebê"), Anacleto de Medeiros ("Três Estrelinhas"), Chiquinha Gonzaga ("Angá"), Guinga ("Nítido e Obscuro", "Caiu do Céu" e "Caniobaile") e Pixinguinha ("Cuidado Colega", "Gargalhada" e "Choro de Gafieira").  


Como se vê, é uma turma das mais notórias em ternos de qualidade e talento. Paulo Sérgio Santos não deixa por menos e dá a todas as músicas o tratamento soberano que merecem. Caio Márcio, no violão e Oscar Bolão na percussão, tratam de dar a base necessária e que parece (mas não é) simples para que a clarineta de Paulo Sérgio Santos impere em solos e improvisos cheio de prazer para nossos ouvidos. 


O disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=PJMv1zvye8Q&list=OLAK5uy_kLqLcmCC80Q5ww6oUR-s00voVo38Hu4Xk e também pode ser comprado nos bons sites do ramo. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A Jean Baptiste Frederic Isidor, Barão (Toots) Thielemans

 Por Ronaldo Faria

Ouça o som da harmônica e se embriague de tempos e têmporas. De forma atemporal, lembre-se que há Sonrisal. E óleo de rícino ou de bacalhau. Um prédio minúsculo e tosco perdido e fosco num lembrar qualquer. Para o que der e vier.

Escute e ausculte o coração ainda jovem e púbere de quem terá muito a ver e rever. Verseje um dia sim e outro também. Quem sabe, serás ouvido por alguém. Do lado tem uma quitanda, um barbeiro, uma praça de pródigos pranteios.

Saiba sentir o que estiver por vir. Como prólogos de um ator perdido em cena e que acena ao público que não há. Talvez, em revés, um padre vestido de negro te abençoe a crer. Aos batuques do atabaque, não se atordoe. Tempo ainda haverá.

Quando a parede se abrir com seres a te engolirem, chore alto. Acorde o mundo. Alguém virá te salvar. No derradeiro arfar, dirá que você é seu amigo. Talvez o seja. E inexistam laços de afeto, de amor, de família, de fugacidade e feto.

Se nada tiver a dizer, repita: “Pau no cu do angu!” Não tem lógica, mas deixe que o ilógico seja maior que o trágico. Logo mais ninguém te ouvirá para sempre e seja aquilo que puder ser agora, em semente. Leniente, vire ágora e inconsciente.

Por isso, livre-se do metal na boca, da lucidez à bancarrota, da incerteza que só a presteza dos anos te dá. Viva ainda muito, mas não deixe morrer o tesão. Sem ele, já dizia o poeta, não há solução. Faça-se, pois, a ação e reação.

Assim, ao som da harmônica, sintética e afônica, deixe o passado te consumir e sumir. Que te cubra de prazeres que cheiram a creolina, barulhos de enceradeira, momentos sem eira e nem beira. Todos serão meros e incrédulos portais.

Queime ao sol que bate no sofá de plástico nas tardes de uma Sepetiba que nem o dicionário do escrever quer ver. Vá e volte em lotações quentes, carros de rabo de peixe ou de boi. Deixe-se aboiar em saudades e veleidades milhares e mil.

Viaje em trens inexistentes. Como voyeur, sente na janela. Não feche os olhos porque muitas coisas passarão tão rápido que você nem vai ver. Contudo, nesse mundo redondo e rotundo, um dia elas irão voltar. Dê o sinal e pare na gare.

Se engalfinhe consigo mesmo. Transfigure a foto amiúde. Ache o que tiver de ser. Um copo vazio, saiba, terá muito ainda o que encher. Na imensidão do nada, o nadar se faz requisito primeiro e derradeiro para poder se sobreviver.

Saiba que saudades virão. Somos, em verdade, um poço eterno de saudades. Dos cheiros, dos olhares, alhures dos toques. Dos sons que vêm aos ouvidos e morrem no coração. Dos toques, dos suores, do que se foi mas ficará para sempre em fim.

Rememore sempre, mesmo que o rememorar maior esteja ausente. Só isso te fará gente. Descreia, por fim, de que o inusitado é um som de Chet Baker, um baque na certeza de que toda a felicidade tem fim. No vagão da vida, me entrego a ti em mim.

sábado, 10 de setembro de 2022

João de Barro

 Por Ronaldo Faria

Canções de lírios e antúrios, augúrios e sofreguidão. Um pássaro aqui e outro acolá. Tico-Tico e João de Barro daqui e pouco de arco-íris dali e lá. Nas pernoitadas dos sons, pernas a se desvencilharem entre lençóis e devassidão. Talvez uma lua a morrer no céu, um desdém de gregos e troianos, canções desavisadas e etéreas a viajarem feito nuvens castigadas de paixão. Um cansaço medianeiro, desses de deitar na rede e se largar a ver e rever o inusitado tragado de marés e viés. Para onde tiver que ir, vá na fé. Quem sabe um marejar de olhos, abrolhos e escaravelhos. Um iluminar de olhares proscritos, gritos loucos e aflitos, Tordesilhas sem assinatura embaixo, canções na ilusão de chegar. Logo mais virá o derrear. Os olhos cegos ao sol, a solitária realidade do nada. Sem sensações, emoções, ilusões. Um inaudito e imperfeito defeito cravado no peito. Afeito a si mesmo. Deixado ao tempo, a esmo.

Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...