terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Para o João Bosco

 Por Ronaldo Faria

Tiro e bala para lá e para cá. Manda ver, saravá. Fique de frente para o crime, mas não esqueça que muito ainda tem que ser e outro tanto há de chegar. Para além do Pará, fica aqui e depois de lá. Pega a primeira prostituta que não dorme na labuta. E escuta: em algum lugar deve ter um pássaro a cutucar madeira e cantar. Deixa o corpo e deixe-se levar. Receita segura: madrugada e meia garrafa de uísque a tomar...

Não se lembre de prosopopeias, paródias ou gonorreias. Regozije-se de saber diferenciar a moça da velha. Viva as madrugadas. Dê vivas à vida. Acredite que é possível o destino voltar. Veja a amante como namorada loquaz. A enxergue entre fumaças quentes e fumacês labiais. Fale francês. Libere o desatinado ato de querer. Lave-se de sêmen e semântica, oratória e mera mixórdia. Não esqueça, no domingo, de ingerir a hóstia.

Hostilize a morte. Beatifique cada segundo vivido como o seu mais recente passado. Passe diante dos poderosos e diga de peito cheio: “Sou um ignorante e analfabeto, sim! E daí? Vai querer encarar?” Dê a cara para os tapas e esperneie como fosse seu único estertor. Eternize os bons momentos, quando ela estiver contigo, nua, gemendo, ouvindo e vendo. Penetrada e te engolindo de amor e prazer.

Se não souber o que fazer, não faça. Coma Doritos! Siga os ritos e rituais. Cante em duetos e se esconda nos próprios e próximos guetos. Grite! Amplifique o coro dos aflitos. Seja um número a mais, se isso lhe apraz. Aprecie o próximo como um gótico. Saiba onde fumar o derradeiro ópio. Em degredo, descubra a melhor forma de viver o ócio. Mande o síndico tomar no cu. Aos domingos, não se esqueça de orar e introduzir a hóstia.

Invada as madrugadas perdido de si e do mundo. Afinal, não há ninguém mesmo para resgatá-lo, ampará-lo ou escondê-lo entre grandes seios e lábios pequenos. O temor da solidão, saiba antevê-lo. E esconda-o num canto qualquer, esperando chegar a mulher. Se puder, robotize-se. Vire um genoma a ser estudado, um boi a ser castrado, um feto a ser abortado. Mas não espere a morte chegar. Se não puder impedi-la, só de sacanagem antecipe-se a ela. Quem sabe, de saco cheio pela sua traição, ela não te deixe viver!

E cante e dance. Pegue um travesseiro, o mesmo que ela usa nas manhãs de amor, e rodopie pelo minúsculo salão. Sinta o cheiro da amada e não se ressinta da falta da pele. Feche os olhos e, enquanto der e puder, creia que ela logo irá substituir as penas de ganso. Afogue-o, se tiver chance. Chantageie sua emoção. Diga para si mesmo que cinco contra um pode ser uma seleção. Mas, por favor, por tudo o que há de mais sagrado e secreto, derreta, aos domingos, a hóstia na sua boca, mesmo se essa tiver gosto de nada ser.

Feliz tempo novo a todes nós!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Farofa Carioca

 Por Ronaldo Faria


Farofa de onde? Carioca? Que Rio? Que janeiro é esse? Quem nasceu na Zona Norte pode ser considerado da Zona Sul depois de mais anos passados lá? E se o maior amor e primeiro desse tempo foi no subúrbio, seremos suburbanos? Seremos, somos ou fomos? E a fome de vida fica no La Mole ou no Papagaio’s ou num bar perdido na Dias Ferreira, no Méier? Onde reivindicar o endereço final? Há, afinal, um fim? Um lugar a se largar? Um lagar? Uma quitanda fatalista de esquina que vira boteco (bebamos ao medo)? Onde há praia de graça? Onde há a mulherada assumindo o controle da situação? Há como não marcar bobeira geral? Sei lá. Quem saberá? Onde encaixar dois corpos sem ficar de bobeira na pista? Aqui ou acolá? Sei lá... Mas quem saberá? O que parece feio é que é bonito... Daqui vamos a aprender e “viver”. A lucidez é viver? A loucura é apreender? Sabe-se lá ou acolá. Afinal, no final, nosso (meu) sonho é apenas ser lambido pela filha e descobrir que tudo era mero brincar de ser. Mas o que é ser? A cada noite vivo um sonho/real louco e novo, feito ovo a ser esculpido no cu da galinha/rainha da vida. O importante, no fim, é saber de onde é a farofa? Carioca? Eu sou carioca, de nascença, quando a Guanabara era capital federal. Sou e sempre serei. Ou não.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Bee Gees no passado...

 Por Ronaldo Faria

Saudade cabe no tempo? O vento em descalabro cabe no tempo? O tempo se mede no tempo de segundos, minutos e horas? Talvez, na memória de cada um, sim. Ou não... Quem saberá? Uns restantes de neurônios parcimoniosos em sua lembrança ainda funcionam? Um resto de crença na sua festança derradeira antes do esquecimento de toda uma vida sobrevive e vive? Saber-se-á. Mas, enquanto algo durar, que sons and songs borbulhem em centilitros e passado na escuridão de luas e loas? Mas existem passado, presente e futuro num só? Existem de verdade ou serão mera mentira de um metaverso qualquer? Seremos nós simples bonecos e fantoches de algo maior a trocar de concha e pele a bel prazer de nosso dono ou apenas seres a não saber de onde viemos, o que somos e até onde iremos? A ouvir Bee Gees nessa madrugada em que mais uma primavera se esvai, não sei agora responder. E com certeza daqui para a frente não saberei. Estou apagando devagar, ainda bem. Deixo a quem chegar ou estiver na sua plenitude que possa responder. Senão, feito poeta revoltado, que o mundo vá se foder!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Chico e Ney

Por Ronaldo Faria


A ouvir Chico Buarque e Ney Matogrosso. Precisa escrever e dizer mais? Pelamor... Não me obriguem a fazê-lo. Não teria palavras para tanto. Não há no dicionário nada que o faça.
  A beleza e a perfeição não têm como relatar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Hamilton de Holanda

 Por Ronaldo Faria

Dedilhar e tirar do som de cordas e madeira uma emoção sem eira e nem beira, coisa que brinda os ouvidos como mera brincadeira. Talvez uma ilusão, sobremaneira, um sonho de ilusória centelha. Uma versão inverossímil da chegada da inexistente felicidade que escorre à cheia de um rio negro que a vida traz na sua esteira.

-- Achei que morreria hoje e iria rever minha filha. O braço dormente, o choro latente, a tristeza pungente, tudo como uma vertente inconsequente que a trema não treme mais. Não foi. À espera no que sei ainda virá...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Geraldo Azevedo

 Por Ronaldo Faria

Só pra dizer que Geraldo Azevedo é muito foda! Mais ainda. Muito além de fodão! Obrigado por ter te conhecido há décadas. Minha "poesia" seria bem menor sem a sua verdadeira poesia.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Guinga e Paulo Sérgio Santos

 Por Ronaldo Faria


Notas denotadas de sabor auditivo e pueril revelação de tudo um pouco no pouco tanto que o quase nada traveste de muito. Quem sabe uma ilusão infinita que roda na madrugada louca de lua cheia a segurar a fita carmim que sobremaneira permeia a doce brisa que corre longínqua. Aqui, na pequena parte que o aparte apraz e dá, me solto num imbróglio de não saber se vale a pena viver ou morrer. Termino cada segundo como o taciturno palhaço a rir de si mesmo, ensimesmado e a esmo.

Botas cheias de barro de uma chuva tardia e seca, ensacada na pilhéria etérea que a saudade permeia e doa. Que dói e corrói. No espernear da música erudita/popular. Feito pipoca que o feitor joga para os pombos e púberes seres que anseiam o semear de milhos e moças de pernas faceiras e abertas. Nas feiras fulgentes e dominicais um cais afasta a fresta da derradeira festa que esconde a cama onde corpos delimitarão o lugar em que se deve deixar a tristeza e o dormir do depois a ressonar.

Um violão, uma clarineta, um solfejo soberbo de se esmerar por qualquer lugar. Na lucidez da loucura sepulcral, o silêncio que irrompe na noite fria que se esfria para receber o resto de luz solar. Quem sabe a soberba do amor infiel, a loucura da traição em fel, a ilusória sapiência que a ignorância do amanhã desfaz. No dedo perdido e bêbado que suja as lentes dos óculos, um pedaço de ósculos nunca dados, traquejos de suores lavados, gracejos de bocas sujas das línguas que tanto, no entanto, se cruzaram.

No limiar de arranjos e anjos tresloucados e calados, palavras infinitas no finito falar definitivo do altivo bêbado que se faz poeta e presto. Quem sabe um viajante que arfa na geografia de um corpo que desce no gole que o copo permite e dá. Um infante infame que faz da fome a rosa que desabrocha entre as coxas desnudas e soltas da amante infante que volta a cada noite e que desfaz a realidade em pedaços de sono mal dormido, carcomido de minutos moribundos e brandos do corpo ao lado.

Afinal, tudo passa rápido e, como um incauto, grandiloquente e demente, temente de cair do trapézio num picadeiro inexistente, vou a brincar de ninguém. Um arauto e infausto ser a descer no inferno eterno onde o demônio, solene, nos espera de terno. Assim, quem sabe, criança e nada ser, me faça vivente numa esfera que a saudade de um tempo permeie de fugazes saudades e cicatrizes que vêm e vão como um trem fora dos trilhos, descarrilhado e solto para viver até aonde sua fumaça o levar.

Assim, no torpor que se repete a cada voz e verso, temporão de um tempo que tinha quitanda, luz de lampião e palavra vã, vou transpondo estradas de terra, mares e marés, ondas cheias de espuma densa, rios negros e invasores, senhores de sua fúria a voltear saudades infindas e crenças distintas de algo que a ampulheta da areia de anos e horas verteu. Por fim, no infindo crer que algo poderá haver, vou fluindo na imensidão que a loucura e a ternura ainda me dão. Um dia qualquer me entrego à eterna solidão.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Kleiton e Kledir

Por Ronaldo Faria

“A fonte da saudade nem o tempo vai secar”.


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sábado, 28 de janeiro de 2023

As questões inquestionáveis

 Por Ronaldo Faria


Dedos, onde dedilhar?
Sede, onde beber?
Lágrimas, onde chorar?
Canseira, onde descansar?
Alhures, onde arrulhar?
Que mãos amansar?
Que olhos lacrimejar?
Onde ainda poder andar?
Viola, onde arranhar?
Bebedeira, onde desmaiar?
Que passos a passear?
Que trilhas a repassar?
Qual mentira recontar?
Haverá a ver na ventania?
Carinhos se aninharão?
Mãos se entrelaçarão?
Há amor logo ali no Leste?
Vento daqui bate na veste?
As pernas da morena se despem?
Que frigir de ovos padece?
Mas e os dedos: há dedilhar?
No mar existe um acabar?
Atracará nele o vil Calabar?
Um pacífico o mal pacificará?
Estarei eu aqui ou acolá?
Sonharei um sonho por fim?
Viajarei felicidades enfim?
Inquestionável saber de nunca mais.
 
A ouvir e ver Suzana Salles, Ivan Vilela e Lenine Santos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Suzana, Ivan e Lenine - Enternecedor

 Por Ronaldo Faria


A efeméride da felicidade é finita. Já dizia o poeta que tristeza não tem fim. Razão maldita e infinita, infindável e insoldável. Uma coisa de saudade mísera e incontrolável, que demanda lágrimas e um vazio inominável, inenarrável. Dessas coisas que se tem sem saber porque. Que se esvai em cada batida de coração que teima em respirar o mesmo espaço onde antes o sorriso vertia. E haja desejo de tudo ter fim. De um reencontro que, sabe-se desde já, nunca acontecerá. Mas como eu quisera errado estar...

A ouvir e ver Suzana Salles, Ivan Vilela e Lenine Santos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Ao grande, inominável, João Nogueira

Por Ronaldo Faria


Ele pegou o primeiro ônibus que veio. Com hora marcada para ir e voltar. No ato, o asfalto pipocava milho transgênico e torrava ovo quebrado de sobressalto. A fumaça subia feito mato queimado. Tinha cheiro bom e fuligem ruim. Mas cadê a coragem de andar mais do que aquilo que se anda para viver? O sol, milimétrico e hermético em sua inconsequente forma de cozinhar neurônios, despeja suor pelo corpo e deixa sua trilha de passos largos e difíceis no subir e descer de ladeiras e benzedeiras.

Mas ele tinha horário e desmazelos a cumprir. Precisava passar por esquinas múltiplas e dedilhar descasos e acasos em cada pedaço de paralelepípedo refeito e rarefeito de ímpetos feito púlpito de um amor qualquer que se faz verdade no peito. Precisava correr seus segundos e fazer da virulência da vida finita a festa última de uma única eternidade letal. Era, enfim, um senhor de botequins que teimava em ficar lúcido feito Lúcifer agradecendo às ninfas ninfomaníacas o último beijo depravado que o deixou em descalabro.

Ele pegou o primeiro ônibus e teceu de vertigens e pesadelos o desmazelo de ludibriar a ociosidade da cabeça sendo desperdiçada entre horas e orgasmos solitários e asmáticos. Entra gente e saem pessoas. Sobem mulheres de pernas seminuas e descem arremedos de seres humanos e antropofágicos no limite entre um polo e o vértice de canto quantificado e qualquer. De quem deveria ser misto de finitude e fé. Do lado de fora, casarios e rios secos, árvores chamando água, nuvens esparsas e luminosidade múltipla e perpendicular. Não adianta tentar se esconder do sol. Ele busca cada ser para se perfazer de passagem injustificadamente fútil e fetal (porque nessas horas qualquer um gostaria de estar cercado de líquido amniótico na escuridão do ventre).

E cadê o vento? Cadê a cadência do samba? Cadê o bamba? Cadê a bunda? Cadê o quê?

Mas ele tinha um ponto a descer. Se arremeteu pela porta da frente defronte de uma fonte afrodisíaca qualquer. Gargalhou da própria vida, vivenciou retas e rotas rítmicas defenestradas de passos taciturnos nas brincadeiras lúcidas e voláteis, táteis e têxteis, transparentes. No fim, descobriu que nada é tudo e tudo é nada. E quantos mares a vencer de braçada só e tantos dias ainda. Ter até o próximo dia de conviver com a mudança de mais um ano...

Desceu e foi ver a fatídica verdade de mentir centímetros e sentimentos de gracejos e bocejos. E acabou. Acabou-se. Lavou-se de água salgada do próprio corpo e se banalizou na espera de um milagre qualquer. Muito ainda a falar, outro tanto mais a beber e alguns palmos a baixar. Como diria o pagode final: tudo sob a luz do candeeiro. Tudo sob os holofotes e focos de uma lente côncava e convexa. Mas, chega de conversa... O homem agora dá-se à própria sorte perversa.
 
Ele depôs (depois) sob o efeito de quatro latas e partiu para a quinta. Água no joelho e vodca de saideira. E viva o friozinho cheiroso da madrugada. Que a vida sempre seja assim: sem obrigações e sermões, medos da morte e diásporas do seu próprio mundo. Deu saudade do João Nogueira. Ele teria curtido este botequim. Sua benção, flamenguista e poeta querido.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...