Por Ronaldo Faria
Enquanto mulheres de biquínis minúsculos e homens com seus frágeis músculos desfilam na avenida do litoral, o casal se aconchega no chuveiro que brinca de jorrar água fria com um vapor de dar dor. E mãos e lábios se percorrem e correm nos corpos lânguidos e lambidas que, úmidos, contrastam com os mil graus além que vêm invadir a cena do lado de fora.
Nos raios que chegam com luz própria, a imprópria mansidão que os impropérios de quem tem de vender chá mate e biscoito Globo na areia que ferve e serve de bolhas a sangrar pés e ilusões. Talvez em algum lugar haja um cantinho onde o tantinho de sombra seja sobremaneira rasteira que deixe os amores sem cheiros e odores de pingos num lavar sem dor.
Do ar-condicionado, aloprado por ter de mudar tanto clima que na China não lhe ensinaram a fazer, vem uma brisa fresca a brotar no quadrilátero que a arquitetura do amor dá. Nos morros que se dobram ao mar, um samba e cervejas serpenteiam em si, sós. No subúrbio, esse distúrbio que nem psiquiatra cura, a solução é morrer para a alma enfim respirar.