terça-feira, 21 de janeiro de 2025

A bossa nova começando a ganhar o mundo

 Por Edmilson Siqueira


Para quem ainda tem alguma dúvida da importância da bossa nova no mundo, aqui vai um exemplo: em 1963 um jazzista norte-americano foi tocar no Newport Jazz Festival. Era Herbie Mann, saxofonista, clarinetista e flautista. Juntou um grupo e músicos de alta qualidade, e no seu show de cinco músicas, que durou pouco mais de 40 minutos, nada menos que três músicas foram brasileiras, duas de Jobim (uma em parceria com Newton Mendonça e outra com Vinicius de Moraes) e a outra de Luiz Bonfá. 
O Festival de Newport é um festival de jazz, que começou em 1954 em Newport, Rhode Island (EUA). Em 1972, o festival aconteceu em Nova York, alternando com Newport a partir de 1982. Desde 1986 o festival passou a ser designado por JVC Jazz Festival.
A apresentação de Herbie Mann e seu grupo foi gravada na íntegra e acabou virando um LP e, depois, em 2001, um CD, que é o que eu tenho. 
Herbie Mann nasceu em 1930 e no início da carreira tocou saxofone tenor e clarineta. Sua canção mais popular foi "Hijack", que esteve durante três semanas, em 1975, como o hit dançante número um da Billboard.
Foi o mais popular flautista de jazz da década de 1960. Pesquisou a bossa nova, e até mesmo gravou no Brasil, em 1962. Incorporou música de diversas culturas em seu repertório. Ele morreu em 2003, após extensa batalha contra um câncer de próstata.
Como se vê, nesses dados colhidos na Wikipédia, Herbie já estava bem familiarizado com a bossa nova quando se apresentou no festival de jazz. Ou seja, desde a famosa apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, a bossa nova se tornou uma música definitiva para os norte-americanos. Depois ganhou o mundo e até hoje é tocada, gravada e cantada por aí, principalmente nas rádios de jazz que, depois das facilidades da internet, se espalharam pelo mundo e podem ser ouvidas em qualquer país.
 


A primeira música do show foi "Soft Winds" (Fred Royal e Benny Goodman), alegre e com marcante percussão, se aproxima dos sons latinos a que estamos mais acostumados, ficando ali entre um bolero bem-marcado e um mambo. Destaque para o show de marimba de Davi Pike.
Já a segunda faixa se transformou numa interpretação clássica do clássico de Tom Jobim e Newton Mendonça - "Desafinado". Durante muito tempo ouvi na rádio TSF Jazz, de Paris, o início dessa música numa propaganda da própria rádio que dizia haver ali o melhor do jazz. Tocada num ritmo muito mais apressado que todas as outras gravações dessa música, a interpretação de "Desafinado" do grupo e, principalmente da flauta de Herbie impressiona pelo inusitado sem perder a beleza melódica e harmônica.
Na terceira faixa, Herbie permanece na música brasileira. Outro clássico, desta vez de Luiz Bonfá, "Samba de Orfeu". E, apesar do grupo não ter nenhum brasileiro, a bateria e a percussão, a cargo de Bob Thomas, Wilie Bobo e o cubano Caco 'Patapo' Valdez, não fica nada a dever a um bom batuque brasileiro.
Na quarta faixa, o jazz mais tradicional se faz presente, com "Don't You Know", embora a percussão aqui também puxe um pouco para a música latina. É a faixa mais longa do disco com seus 10 minutos e 49 segundos. 
Por fim, a interpretação de Herbie Mann de "Garota de Ipanema", creditada no CD apenas a Jobim, talvez por ser só instrumental, mas isso não é comum. Talvez fosse em 1963.
Nessa última faixa, que também é longa (8m05seg), Herbie respeitou mais um pouco o andamento do clássico da bossa nova. Uma interpretação mais contida, com destaque para o violão joãogilbertiano de Atilla Zoller. Além dos músicos já citados, estão acompanhando Herbie, Don Friedman no piano e Ben Tucker no contrabaixo. 
O meu CD é importado. Não encontrei no Mercado Livre, só na Amazon, mas a preços abusivos (mais de 600 reais). No YouTube há algumas faixas dispersas. Ou seja, não dá para ouvir na íntegra, mas se você encontrar por aí, a um preço razoável, pode comprar que é coisa fina.

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