Por Edmilson Siqueira
Para quem ainda tem alguma dúvida da importância da bossa
nova no mundo, aqui vai um exemplo: em 1963 um jazzista norte-americano foi
tocar no Newport Jazz Festival. Era Herbie Mann, saxofonista, clarinetista e
flautista. Juntou um grupo e músicos de alta qualidade, e no seu show de cinco
músicas, que durou pouco mais de 40 minutos, nada menos que três músicas foram
brasileiras, duas de Jobim (uma em parceria com Newton Mendonça e outra com
Vinicius de Moraes) e a outra de Luiz Bonfá.
O Festival de Newport é um festival de jazz, que começou em
1954 em Newport, Rhode Island (EUA). Em 1972, o festival aconteceu em Nova
York, alternando com Newport a partir de 1982. Desde 1986 o festival passou a
ser designado por JVC Jazz Festival.
A apresentação de Herbie Mann e seu grupo foi gravada na
íntegra e acabou virando um LP e, depois, em 2001, um CD, que é o que eu
tenho.
Herbie Mann nasceu em 1930 e no início da carreira tocou
saxofone tenor e clarineta. Sua canção mais popular foi "Hijack", que
esteve durante três semanas, em 1975, como o hit dançante número um da
Billboard.
Foi o mais popular flautista de jazz da década de 1960.
Pesquisou a bossa nova, e até mesmo gravou no Brasil, em 1962. Incorporou
música de diversas culturas em seu repertório. Ele morreu em 2003, após extensa
batalha contra um câncer de próstata.
Como se vê, nesses dados colhidos na Wikipédia, Herbie já
estava bem familiarizado com a bossa nova quando se apresentou no festival de
jazz. Ou seja, desde a famosa apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, a
bossa nova se tornou uma música definitiva para os norte-americanos. Depois
ganhou o mundo e até hoje é tocada, gravada e cantada por aí, principalmente
nas rádios de jazz que, depois das facilidades da internet, se espalharam pelo
mundo e podem ser ouvidas em qualquer país.
A primeira música do show foi "Soft Winds" (Fred
Royal e Benny Goodman), alegre e com marcante percussão, se aproxima dos sons
latinos a que estamos mais acostumados, ficando ali entre um bolero bem-marcado
e um mambo. Destaque para o show de marimba de Davi Pike.
Já a segunda faixa se transformou numa interpretação
clássica do clássico de Tom Jobim e Newton Mendonça - "Desafinado".
Durante muito tempo ouvi na rádio TSF Jazz, de Paris, o início dessa música numa
propaganda da própria rádio que dizia haver ali o melhor do jazz. Tocada num
ritmo muito mais apressado que todas as outras gravações dessa música, a
interpretação de "Desafinado" do grupo e, principalmente da flauta de
Herbie impressiona pelo inusitado sem perder a beleza melódica e harmônica.
Na terceira faixa, Herbie permanece na música brasileira.
Outro clássico, desta vez de Luiz Bonfá, "Samba de Orfeu". E, apesar
do grupo não ter nenhum brasileiro, a bateria e a percussão, a cargo de Bob
Thomas, Wilie Bobo e o cubano Caco 'Patapo' Valdez, não fica nada a dever a um
bom batuque brasileiro.
Na quarta faixa, o jazz mais tradicional se faz presente,
com "Don't You Know", embora a percussão aqui também puxe um pouco
para a música latina. É a faixa mais longa do disco com seus 10 minutos e 49
segundos.
Por fim, a interpretação de Herbie Mann de "Garota de
Ipanema", creditada no CD apenas a Jobim, talvez por ser só instrumental,
mas isso não é comum. Talvez fosse em 1963.
Nessa última faixa, que também é longa (8m05seg), Herbie
respeitou mais um pouco o andamento do clássico da bossa nova. Uma
interpretação mais contida, com destaque para o violão joãogilbertiano de
Atilla Zoller. Além dos músicos já citados, estão acompanhando Herbie, Don
Friedman no piano e Ben Tucker no contrabaixo.
O meu CD é importado. Não encontrei no Mercado Livre, só na
Amazon, mas a preços abusivos (mais de 600 reais). No YouTube há algumas faixas
dispersas. Ou seja, não dá para ouvir na íntegra, mas se você encontrar por aí,
a um preço razoável, pode comprar que é coisa fina.
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