terça-feira, 11 de novembro de 2025

Fomos jovens

 Por Ronaldo Faria

 

Para onde levamos nossas vidas? Ficamos no ensejo de sempre relembrar ou fizemos um caminho por outros caminhos que nos rodearam em esquinas nas sinas e esperanças anchas de um porvir? Achamos, perdemos, traduzimos errado emoções, porções e copos que se davam nas mesas dos encontros e desencontros da vida? Talvez, ou não ou quem sabe sim. Seguimos esquinas escuras e prematuras, fomos caímos e levantamos em vão nos tantos vãos criados que pisamos. Sobrevivemos às escusas que o destino nos dava, aos maiores poetas da alegria, aos famigerados contrários, aos corpos dos amores que cheiravam a amor eterno e terno. Vivemos em noites e madrugadas arfadas e infladas, inflamadas de paixão e tesão, decibéis e alcaloides. Fomos chamar o insone Juca vários dias mesmo sem conhecê-lo ao vivo e a cores e, no desmazelo dos encontros e desencontros que o tempo e o destempero nos dão, levantamos em dores de cabeça no dia de depois para nos prepararmos para nova orgia. Descobrimos que as cartas escritas a mão e cheias de saudade reprimida ou o telegrama de frases curtas, mas rápido como a paixão, deixaram de existir. O instantâneo da internet deixou um vácuo nas emoções das esperas, no abrir o envelope com borda verde e amarela a crer que este trazia notícias além de qualquer alegoria tardia.

Fomos jovens numa juventude tardia. Nascidos muitos ou quase todos na metade do século passado, entre parteiras, mães de primeiro amor ou na primazia da liberdade que pouco havia, cumprimos um estágio entre a verdade plena e as mentiras que surgiram. Sínteses de tormentos em que a tal liberdade era tolhida por fuzis e carabinas, torturas e tortuosas mentiras, crescemos a esmo. Nos tornamos Nostradamus da esperança de que tudo um dia acabaria, vimos nossas profecias chegarem de avião do outro lado dos oceanos que dividem o planeta. Sorrimos, perseguimos nossos sonhos, acordamos dos pesadelos, consagramos a hóstia com o sangue daqueles que lutaram para o sol raiar em qualquer lugar. Juntamos, acasalamos, casamos, separamos, refizemos tratos e troças, tivemos filhos, netos, fetos inconcebíveis, histórias mil e até histriônicas. Mudamos de cidade, de espaços plenos, lugares. Alhures, sequer lembrávamos que existia um lugar onde nos encontrar, seja no interior ou no mar. Da bucólica Comendador Tórlogo Dauntre, perdida no bairro de nome Cambuí, às pedras do Estácio ou da Lapa cariocas. E assim, ensimesmados ou trôpegos de poesia e harmonias fora do quadrado, fomos buscar nossos caminhos alinhavados. Por fim, como gatos, brincamos no novelo de lã que o destino, em desatino ou sete vidas, sentenciou.

Que a vida ainda nos dê, hoje e sempre, como diz o poeta do samba Nelson Cavaquinho, carinho concreto, reto e certo e mão amiga...

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...