sexta-feira, 18 de julho de 2025

No cantarolar

Por Ronaldo Faria


 
A cidade, na sua idade antropológica e própria decadência, se esfacela e se esfarela feito quirela de pão. Quisera sabe dizer que tudo terminará em procela. Mas qual... Num quarto e sala, João se apropria do passado e corre feito louco das lembranças de infância. Nessa instância, o psiquiatra junto com o geriatra diriam: “Interna, é caso perdido”.
Mas João não liga para a essência de ser hermafrodita. Na desdita, se entrega ao desdém da vida. Vinho português na taça, traça a comer seus alfarrábios, viaja nas letras e versos. Faz-se reverso na crença de que estará ao amanhecer, como disse o poeta, pra lá de Marrakesh. “Amanhã a gente vê a merda que vai dar”.
Incenso de arruda aceso, dois novos santos africanos no santuário (uma com a navalha que corta o mal e o outro que faz novo ciclo chegar no tempo), na certeza de pesadelos logo mais, João se embrulha solitário feito sabugo na palha do milho. “Vim só caminhar nesse mundo e só irei embora.” Lá fora, o aforismo de falácias e dramáticas histriônicas histórias. Atônitas, células dançam um tango/bolero qualquer.
Na cidade, cheia de iniquidade e dramaticidade que enche o roteiro de amantes e poetas, homens e mulheres se juntam, se separam, reparam que estar junto pode ser coisa boa ou mazela. Na esquina, quimera de prosopopeia, um personagem que por obrigação da rima se chama Zélia.
 
II
 
A rabeca faz a prece fluir feito chama ao luar. E sublima a miragem selvagem que se entorna no copo profilático e alcoólico. No andor lunático que o andar dos graus dá, viajar de flores despetaladas que dormem suas cores no chão. De antemão, o cuidado nas travessias do amanhã. Estrábico e analfabeto em matemática e física, nas distâncias entre as entranhas e os carros que correm no asfalto, que venham os anjos dos sonhadores. E sejam prestos em gestos e destinos. E logo e portanto, em tão pouco pranto, que o desatino diuturno e frugal mantenha no planeta mais um dia esse animal.
 
III
 
Blasfêmia à fêmea? Jamais. No meio de um jardim de antúrios e florais, Vespúcio sabia que o encontro do sol e da lua é mais do que uma simples conjunção de astros. Nos astrolábios da navegação que busca a felicidade, a bússola aponta para a saudade. Ínfima infâmia da artimanha que se entranha no cair da tarde lilás, luxúrias se transmutam feito perda de lucidez mordaz. Loquaz, a realidade brinca de ser sem sê-lo. No passado, o homem lambe o selo à espera que a amada responda logo em sequência hedionda, quiçá capaz.
 
IV
 
-- Sortuda a peituda. Soube escolher o louco certo!
Chico sem sobrenome deu sua sentença. O resto logo irá virar resto sem opção ou oração, senão.

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...