terça-feira, 9 de setembro de 2025

Gil e Milton, juntos, misturados e geniais *

Por Edmilson Siqueira



Apesar de lançado há um quarto de século, o álbum Gil e Milton, continua atual e representa um daqueles momentos raros em que dois grandes artistas, cada qual com sua trajetória já consolidada, unem forças para criar uma obra que sintetiza décadas de história da música popular brasileira. Gilberto Gil e Milton Nascimento, nomes que dispensam apresentações, se encontraram em estúdio para celebrar a amizade, a admiração mútua e o compromisso com a arte. O resultado foi um disco sofisticado, plural e, ao mesmo tempo, profundamente enraizado na essência da MPB. 
A ideia de juntar os dois não surgiu de repente. Ambos já tinham cruzado caminhos em festivais, shows e colaborações esporádicas, sempre alimentando uma relação de respeito e proximidade. No entanto, foi apenas no início do novo milênio que essa parceria ganhou forma em um projeto robusto. O disco traz arranjos refinados, produção cuidadosa e, sobretudo, um repertório que transita entre clássicos revisitados e composições inéditas, confirmando a vitalidade criativa de Gil e Milton. 
Logo na abertura, a atmosfera é marcada por uma comunhão de vozes que se complementam. Gil, com sua cadência nordestina, e Milton, com seu timbre inconfundível, estabelecem um diálogo que parece natural, como se as músicas sempre tivessem sido pensadas para eles dois. O álbum passeia por gêneros diversos: samba, baião, baladas e canções que carregam a tradição mineira e baiana, espelhando a diversidade cultural do Brasil. 
Um dos grandes destaques do disco é justamente essa confluência de estilos. Gilberto Gil traz a força da herança afrobaiana, marcada pelo ritmo, pela batida do violão e pela capacidade de incorporar elementos modernos à tradição. Já Milton Nascimento oferece sua assinatura melódica única, com harmonias complexas, lirismo poético e um canto que sempre parece apontar para algo transcendental. O encontro desses universos cria uma sonoridade que é, ao mesmo tempo, singular e universal. 
O repertório contempla faixas que falam de amor, espiritualidade e da própria experiência de viver no Brasil. É impossível não perceber no álbum o tom de celebração da amizade, não apenas entre os dois músicos, mas também como um valor coletivo.  
Musicalmente, o disco também revela a maturidade dos dois artistas. Longe da necessidade de provar algo ao público, Gil e Milton se permitem experimentar, brincar com arranjos e explorar interpretações. Há momentos em que a simplicidade domina, com violões e vozes em primeiro plano, e outros em que a riqueza instrumental se expande em arranjos elaborados, lembrando a grandiosidade das produções orquestrais.  
Em termos de recepção, Gil e Milton foi muito bem acolhido pela crítica e pelo público. Muitos viram no disco não apenas uma obra musical, mas um documento cultural, a própria memoria da MPB sendo preservada. 



Mas não pense que o disco é uma visita nostálgica ao passado. "Gil e Milton" aponta para o futuro ao mostrar como a música pode permanecer relevante ao se reinventar sem perder suas raízes. Ao invés de simplesmente repetir fórmulas, os dois buscaram criar algo, que refletisse suas experiências acumuladas e ao mesmo tempo se conectasse com o espírito contemporâneo. 
Pode dizer que, no disco, o acarajé da Bahia ensolarada de Gil encontra o pão de queijo da Minas montanhosas de Milton, e o resultado é uma paisagem sonora que traduz a riqueza e a pluralidade do Brasil. O disco permanece como um marco na discografia de ambos e como uma referência obrigatória para quem deseja compreender a trajetória da MPB no final do século XX e início do XXI. 
A abertura já dá o tom do disco: "Sebastian", uma canção inédita, composta por Gil, em homenagem a São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, ganhou letra de Milton que mistura religiosidade e lirismo urbano, enquanto os arranjos evocam tanto o sagrado quanto o popular.  
Ao longo de suas 15 faixas, Gil e Milton se mostra como um trabalho de síntese: junta raízes populares, espiritualidade, lirismo poético e experimentação rítmica. Cada faixa tem sua singularidade, mas todas se unem sob a ideia de diálogo — entre vozes, estilos e histórias pessoais. 
Mais de duas décadas após o lançamento, Gil e Milton continua, repito, atual, não apenas pela qualidade musical, mas também pela mensagem que passa. É um álbum que ultrapassa o momento histórico em que foi criado, permanecendo como documento fundamental da MPB e como registro do encontro de duas forças criativas que marcaram gerações. 
Além de Sebastian (Gil e Milton) o disco é composto pelas seguintes músicas: 
Duas Sanfonas (Gil e Milton) com a participação especial de Sandy e Júnior 
Ponta de Areia (Milton e Fernando Brant) 
Bom dia (Gil e Nana Caymmi) 
Trovoada (Parte A Gil - Parte B Milton) 
Something (George Harrison) 
Maria (Ary Barroso e Luiz Peixoto) 
Lar Hospitalar (Milton e Gil) 
Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón (Fito Paez) 
Dora (Dorival Caymmi) 
Xica da Silva (Jorge Ben) 
Canção do Sal (Milton Nascimento) 
Dinamarca (Milton e Gil) 
Palco (Gil) 
Baião da Garoa (Luiz Gonzaga e Hervé Cordovil) 
O disco está à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=QNKw76aODpU&list=OLAK5uy_l_fX4-zougLR4KReyQhitrsZVWM8rWoOY&index=2

*(A pesquisa para este artigo foi auxiliada pela IA do ChatGPT)

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