quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Peguemos

Por Ronaldo Faria


Pega a viola, cantador de mil cantares, e segue a trilha que lhe foi traçada por qualquer santo violeiro.  Com todo o perdão de São Gonçalo.

Pega a sílaba e forma versos e trovas por toda a página branca, poeta catatônico de crer que ainda é possível criar vidas de um sonhador.

Pega as lágrimas derramadas do coração pouco e pede perdão, amante de histórias histriônicas e cheias de rios a vazar água pra fora.

Pega suas preces largadas ao léu por um céu qualquer, ser inebriado e embriagado de fé, e vai renascer no sertão da secura que é verdade.

Pega as notas que invadem a noite escura sem fim e vai se embriagar de poesia finda, senhorio de si mesmo na pensão que a vida ainda dá.

Pega o astrolábio e a bússola que mostram as rotas que a retidão finge dar e navega nas trevas e trovas, ancião de caminhos sem início e fim.

Pega as cantigas antigas que se fazem novas na notívaga chegança, criança renascida de cada loucura, e as faz renovadas e lânguidas a brotar.

Pega no ar o cheiro de arruda que se esvai no incenso que tenta ter senso qualquer na saudade da mulher desvairada na saraivada da vida.

Pega o amor que se perdeu e redescobre nos cobres que pagamos a cada dia para sobrevivermos no ermo à certeza na felicidade utópica.

Pega os sermões da missa inacabada e coloca na boca do padre a hóstia que mata a fome daquele que crê na curva da estrada para se salvar.

Pega o rebanho que caminha para a morte e se arrepende, muda de rota e o leva aos pastos onde nasce o mais florido e carregado pé de amora.

Pega, por fim, o fim de tudo. Faça que ele se refaça em trovas e trovões numa noite de luar rotundo. E se puder ainda pegar algo, jogue tudo fora.

(Com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho)

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...