Por Ronaldo Faria
Chegou chegando. Traquinando,
até. Menino que sempre foi e é, audaz e louco, fora da órbita terrestre, sempre
em teste, presto, vaticinou o próprio destino: ser, escrever, beber, ver, rever,
acordar e adormecer. Crer e descrer. Embriagar-se na hora cronológica e certa de
enlouquecer. Encontrar o equilíbrio sísmico de si e continuar a trilhar nas
letras negras que invadem a brancura da tela desmiolada e desmedida. Ou seja, verdadeira
pataquada. Consternada, a vida aceitou que Lautério vivesse sem critério.
Afinal, um a mais em vários bilhões sobre a Terra, que problema em se esquecer
dele num planeta em farsa e falsetes diários? O Criador (o tal que veste milhares
de vestes às inúmeras religiões de poucos e tantos menos) resolveu cravar na aposta
de deixar o bicho solto. Mas, dizem alguns, ele sussurrou “que bosta”. Lautério,
um impropério secular de vilipêndios em compêndios que ninguém nunca leu, vivia
ao léu, lisérgico e deletério. Já perto da curva do rio ou do cabo de alguma
esperança, queria apenas não ter pena de si mesmo. “Caralho, no calhamaço de
papel consumido no tempo há coisa insone mesmo a dormir na escuridão.”
Vilmar e Conceição subiam e
desciam as ladeiras de Olinda na infinda busca do amor. Cruzavam-se muitas vezes,
mas na pressa de caminhar sem parar no ritmo da tarde nem atentavam em se ver.
O silêncio dos passos nas pedras centenárias onde blocos de frevo dançavam a cada
Carnaval era maior que o desejo dos dois. Déspotas do futuro em augúrios que
talvez nunca existissem, nem sabiam que o agora era o que se foi e o depois algo
que nunca virá. Alhures tecer as cores do céu, seguiam livres e apostatas às próprias
vidas em purpurinas e sinas mil. Eram poesia e ensandecidas lavras tardias.
Composições bisonhas de canções enternecidas, fugazes olhares e brincadeiras benfazejas.
Ida e volta, horas partidas e urdidas nas ardidas saudades da poesia. E assim
o foram na madrugada tardia e na orgia, quando pararam, se viram e viraram um apenas. Ao redor, a rodar sombrinhas coloridas, lamúrias de lamentos benfazejos como uma desbotada fotografia.
Candelabros e descalabros vão
passar. Por ferrugem, falta de energia ou coisa pra se falar. Na Polinésia a
inércia é olhar o mar. No Interior do planeta, as matas brincam de respirar. E
como diria o poeta, “todas as coisas do mundo correm pro mesmo lugar”. De lá ou de cá.
II
III