quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Pataquada

 Por Ronaldo Faria


Chegou chegando. Traquinando, até. Menino que sempre foi e é, audaz e louco, fora da órbita terrestre, sempre em teste, presto, vaticinou o próprio destino: ser, escrever, beber, ver, rever, acordar e adormecer. Crer e descrer. Embriagar-se na hora cronológica e certa de enlouquecer. Encontrar o equilíbrio sísmico de si e continuar a trilhar nas letras negras que invadem a brancura da tela desmiolada e desmedida. Ou seja, verdadeira pataquada. Consternada, a vida aceitou que Lautério vivesse sem critério. Afinal, um a mais em vários bilhões sobre a Terra, que problema em se esquecer dele num planeta em farsa e falsetes diários? O Criador (o tal que veste milhares de vestes às inúmeras religiões de poucos e tantos menos) resolveu cravar na aposta de deixar o bicho solto. Mas, dizem alguns, ele sussurrou “que bosta”. Lautério, um impropério secular de vilipêndios em compêndios que ninguém nunca leu, vivia ao léu, lisérgico e deletério. Já perto da curva do rio ou do cabo de alguma esperança, queria apenas não ter pena de si mesmo. “Caralho, no calhamaço de papel consumido no tempo há coisa insone mesmo a dormir na escuridão.”
 
II
 
Vilmar e Conceição subiam e desciam as ladeiras de Olinda na infinda busca do amor. Cruzavam-se muitas vezes, mas na pressa de caminhar sem parar no ritmo da tarde nem atentavam em se ver. O silêncio dos passos nas pedras centenárias onde blocos de frevo dançavam a cada Carnaval era maior que o desejo dos dois. Déspotas do futuro em augúrios que talvez nunca existissem, nem sabiam que o agora era o que se foi e o depois algo que nunca virá. Alhures tecer as cores do céu, seguiam livres e apostatas às próprias vidas em purpurinas e sinas mil. Eram poesia e ensandecidas lavras tardias. Composições bisonhas de canções enternecidas, fugazes olhares e brincadeiras benfazejas. Ida e volta, horas partidas e urdidas nas ardidas saudades da poesia. E assim o foram na madrugada tardia e na orgia, quando pararam, se viram e viraram um apenas. Ao redor, a rodar sombrinhas coloridas, lamúrias de lamentos benfazejos como uma desbotada fotografia.
 
III
 
Candelabros e descalabros vão passar. Por ferrugem, falta de energia ou coisa pra se falar. Na Polinésia a inércia é olhar o mar. No Interior do planeta, as matas brincam de respirar. E como diria o poeta, “todas as coisas do mundo correm pro mesmo lugar”. De lá ou de cá.

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...