terça-feira, 18 de novembro de 2025

Mais histórias da MPB

Por Edmilson Siqueira

Nesses tempos de podcasts adoidados por aí, quem tem tempo como eu de ficar pescando histórias de artistas da música no micro, acaba conhecendo muita coisa que, depois, embasam, muitas vezes, bons papos sobre a arte de compor e cantar e abastecem alguns artigos deste blog.   
Dias desses, Djavan contou que a música "Oceano" já tinha sido iniciada há um bom tempo, mas que ele tem mania de começar alguma coisa e depois deixar de lado, esquecer que fez, mas que deixa tudo gravado. Um dia, ele estava em Los Angeles gravando, quando sua filha ligou e disse para ele escutar o algo que ela havia descoberto numa das fitas gravadas por ele. E tocou o início de "Oceano", com o próprio cantando, claro, só que em espanhol. Espanhol? Pois é, ele não disse por que estava em espanhol, mas achou lindo aquele começo - na verdade era só a primeira fase que estava gravada - e quando voltou se atirou nela. O resultado, todos sabem: um dos maiores sucessos do moço. Só que ele contou mais um detalhe. Após a gravação, o produtor Mazzola achou que caberia ali um violão espanhol. E chamou, para espanto de Djavan, ninguém menos que Paco de Lucia. Quando o espanhol ouviu a música, disse pra Djavan: "Essa música tem muita harmonia e eu só conheço três". Djavan sorriu e disse: "Então vai lá e faz o que você conhece". E, claro, ficou lindo o solo do violão. 
Outro podcast delicioso para quem gosta de música é "Um Café Lá Em Casa", do grande Nelson Faria. Ali, a união da música com a entrevista que ele faz com os convidados, é um prato cheio de prazer para os curiosos como eu e para os ouvidos de quem aprecia boa música. O próprio Faria, um grande violonista e guitarrista, acompanha, meio que no improviso (ele é um grande jazzista) seus convidados, em versões únicas de grandes músicas.  
Dia desses, assistindo ao programa no YouTube, onde a convidada era ninguém menos que Rosa Passos, fiquei sabendo que ela estava "programada" para ser pianista. Estava aprendendo, indo muito bem, até que um dia lhe caiu nas mãos um compacto duplo (para os mais novos, era um disquinho com duas músicas de cada lado) com parte da trilha sonora do filme "Orfeu do Carnaval", cantadas por ninguém menos que João Gilberto e seu violão. Rosa conta que foi sua irmã maios velha quem comprou o disco. "Quando ela botou na vitrola e eu comecei a ouvir, meu mundo parou. Eu fiquei assim hipnotizada pela forma com que João Gilberto cantava e tocava violão. E disse pra mim mesma: é isso! É isso que eu preciso!". Foi aprender violão e deixou o piano de lado. Detalhe: Rosa Passos tinha 11 anos.  


No mesmo "Um Café Lá Em Casa", gravado há quatro anos, encontramos, num bate-papo super descontraído o já saudoso Lô Borges. E ele conta muita coisa em mais de uma hora de programa, desde a origem do Clube da Esquina (o local, a música, o disco), até dos dias mais recentes. 
Pra ficar só no começo: Lô tinha dezessete anos quando fez a música "Para Lennon e MacCartney" (com letra de Fernando Brant e Márcio Borges), um grande sucesso na voz de Milton, que já tinha se consagrado com "Travessia". Pois Lô conta que, logo em seguida ao estouro da música, Milton foi até a casa dele. Lô pensou que ele ia pedir mais uma música, mas Milton foi direto: "Eu vim aqui pra pedir pra sua mãe autorizar você a ir morar comigo lá no Rio. Vamos fazer mais músicas e um LP inteiro chamado Clube da Esquina". A autorização era necessária porque Lô ainda não tinha 18 anos... 
O podcast "Um Café Lá Em Casa" pode ser encontrado no Youtube: https://www.youtube.com/umcafelaemcasa . Há dezenas e dezenas de vídeos, todos ótimos. 

Outro dia, o próprio Mazzola, que adora contar histórias, disse que achou que o disco "Realce", de Gilberto Gil, poderia ser sensacional. Ele estava, Los Angeles, onde Gil fazia um show com sua banda. Mazzola chamou Gil e disse que queria botar uma cozinha de músicos americanos na gravação. Gil, a princípio, não gostou muito, pois estava com seus músicos etc. Mazzola não se deu por vencido e convidou Gil a escutar o que poderia ser feito. E mais: queria lançar o disco a nível internacional. Gil acabou topando. Aí Mazzola  convocou músicos só de primeiro escalão, gente que havia tocado com Lionel Richie e outros astros pops de lá. Passou as músicas pra eles, fizeram os arranjos e gravaram as bases. Claro que não foi tudo num dia só. Foi numa semana. Quando Gil ouviu ficou vidrado. Amou. E não teve dúvida alguma em botar sua voz na música título e em outras do LP. A história completa, com todos os detalhes - e são muitos - está em https://www.youtube.com/watch?v=tBtjnrt2EaM. 

Magos

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