Por Ronaldo Faria
Uma orquestra traz delírios e
lírios de dois anos de Zuenir (que na bem-aventurança não é o Ventura) nascer.
E o CD, efêmero hoje como o rádio não o era à época, traz um som rodeado de
notas que denotam o tempo fugaz. Já se vão quase 70 anos. Há poucos lampiões a gás, mas esses povoam
apenas os rincões cheios de senões e canções que envolverão o menino que daqui
a pouco chegará entre choros e consolos do “creia, irá vingar”. Na rua as
lotações dividem o lugar com os trilhos do trem e carros barulhentos e lentos.
Homens de fraque e chapéu, mulheres de vestidos longos e coloridos, dividem o
espaço com o som de Estrela D’Alva. Que lindas pastoras cantarolaram a canção
que não sai da lembrança? Na festança que urge fazer as cores da vida
desabrocharem, romântico e galante rapaz manda flores para aquela que crê
desposará. O leiteiro larga os frascos ainda frescos à porta onde a mãe buscará
para o café da manhã com cara de manteiga (margarina ainda espera brilhar integralmente
às mesas de um lar). Na venda, a caderneta descansa para o lápis do português anotar
o que será cobrado depois. E assim, no fulgor de diásporas e reencontros com a
saudade desmedida, travestida de canções e inertes soluções, a vida segue seu
rumo. Logo um rebento, arrebentado sabe-se lá de que forma, talvez à revelia da
mulher que obedecia os desejos do esposo, brotará no lar, um sobrado assobradado
no coração do bairro da zona à norte qualquer, chegará. Daí, e só a partir daí, um
novo bumbo fora de compasso tocará até a morte.
-- Minha música, traga a túnica para o meu gim com tônica tomar...
Zuenir cambaleia, mas não titubeia. Muita coisa, acredita, ainda está por vir.
-- Minha música, traga a túnica para o meu gim com tônica tomar...
Zuenir cambaleia, mas não titubeia. Muita coisa, acredita, ainda está por vir.
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