terça-feira, 25 de novembro de 2025

Com Donato, Shank e Valença (ou vale o que está escrito)

 Por Ronaldo Faria


O som que vem do bar rompe a avenida e chega no mar. Entre as paredes de concreto e as mesas cheias de casais que se enroscam em palavras e promessas, o pianista divide o palco com saxofone e bateria. No asfalto, um ou outro carro cumpre seu limite de velocidade. Já na areia fria pela noite que cheira brisa e paz, João e Rebeca brincam de fim do próximo segundo que se tornou passado em frações de segundos. Súbitos, súditos de seu amor, etéreos na terra que gira na rotação derradeira, fazem da areia seu universo de versos finais. Logo mais estarão em beijos mil, carícias servis, descobertas refeitas com as cobertas jogadas no chão.
No piano, altiplano da troca de emoções e canções, malabarismos de paródias que não acabam se acercam de sonhos e bisonhos desejos ensejados no cadafalso que leva o amor ao coração. Há luar e estrelas, nuvens raras e secas de pingos futuros, bêbados diuturnos até. Tem também catadores de lixo, pombas que teimam em vasculhar a sujeira da areia, poetas e proxenetas. Cansados amantes à espera do primeiro raio solar, notívagos que decidiram madrugar, operários e faxineiras que despencam do ônibus no seu eterno trilhar. Há ainda o cachorro de rua, que vira a última lata para sobreviver, a uivar e acreditar num lar.
No bar o garçom fecha a última conta: “Deu R$ 220,00 sem os dez por cento.” Na dicotomia do destino, desatino cretino dos loucos e vespertinos, um transeunte que transita sem rumo diz adeus à vida ao se jogar diante do circular. “Porra, fodeu geral. Agora vem a polícia, a perícia e o escambau. Até chegar o próximo ônibus eu já atrasei geral” – vociferava Marcondes que vai chegar tarde no turno da fábrica de metal fundido. “Estou fodido” – sentencia. Perto das ondas que enchem de espuma a bruma geral, João e Rebeca ouvem o barulho do atropelamento, o lamento dos passageiros e até a sentença do motorista: “Esse merda se jogou na frente...” Mas qual, cada um com seu cada qual. No sol que surge do horizonte, as línguas dos dois dão o cúmplice recado ao mundo: Lei de Muricy... cada um que trate de si.

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...