Por Ronaldo Faria
Eles acordam sempre na madrugada para se amarem e se amarrarem. Parecem mares nas marés que se jogam nas pedras de um cais qualquer e brincam de rolar conchas côncavas ou convexas à areia de minúsculas pedras que piscam na lua ou no sol.
Eles despertam doidivanas em chamas requentadas que não há bombeiro que apague e se atiram aos tiros da pólvora seca que sombreia a cotovia a gorjear no sarau. Sabem que pouco têm além de algum vintém, mas não ligam para nada além de si.
Eles apenas voam sem ter penas. Vagueiam nas dunas que as turmas das loucuras benfazejas constroem com seus próprios pés e voltam antes das portas das camas desforradas pelo amor se fecharem aos sonhos bisonhos que estão sempre sob o nariz.
Eles sonham sonhos tresloucados e tragados de dias repetitivos e restritivos à felicidade, mas não desistem de andar. Sobreviventes e viventes sabem nadar até o porvir. E da boleia de onde se vê a terra prometida apenas gritam que há bem-querer.
Eles transitam entre a loucura e a picardia. Valsam em salões inexistentes, são seres urgentes e prementes de si mesmos. Oram aos loucos e carentes de cafuné, apesar de não terem fé. Mas riem nas lamúrias urdidas que o tempo entrega e sempre traz.
Eles, malucos feito mamelucos que nem sabem o que são, transitam voláteis e frágeis pelos impropérios que o mundo dá. Como um só, solitários e donos de um palanque em que pregam a picardia de gostar, brincam de casal efêmero e contumaz.
Eles, que tanto caminharam em terras de sol e solstícios de muitos verões, se tocam e se trocam nos cantos da cama que o trocar de corpos traz. Sabem que nunca será a hora de parar. Da maternidade à sepultura muita sutura de coração far-se-á.
Eles, por fim, na performance que nem os mais profanos e performáticos artistas de um circo sem nome podem fazer ou criar, apenas querem ser. E assim, na imensidão etérea que a Terra dá e traz, ficam à espera de um dia as vidas, feito as cores de um camaleão, juntar.