quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Ao tijucano interplanetário Jards Macalé

Por Ronaldo Faria

O violão se cala de tristeza nas mãos do poema. E embaralha vozes e trovas nas covas entreabertas da madrugada. Nas trevas, entravadas e entregues das ruas da Tijuca, o samba se enturma nas coxas daquela que se atira ao dito ritmo. No rumo do poste rodeado de insetos à busca de calor, o homem bambeia de lá pra cá e até dali por acolá. A noite cauterizada ninguém vai calar. Nas pedras que se acolhem num nome pomposo de paralelepípedo, retas e perpendiculares, onde pares pulam em festa, casais caminham de mãos dadas. No céu há quem diga que vê fadas.

Mas o violão, calado e cansado de tocar magia e sonoridade, está surdo e mudo. Catatônico feito o velho nonagenário que bebe seu xarope tônico. Dicotômico, o poeta fica à espera da quarta-feira para encher de dedos as páginas brancas, quase tântricas. Em cada dedo existirá um pouco de letra perdida, sumida na cabeça que roda sem parar. No automóvel que rompe o silêncio sepulcral que cala bocas e gestos, um ou outro ser em descalabro e gelado porvir. No telhado, gatos espocam em gemidos cálidos seus pulos de muro em muros. Na árvore as folhas despetalam em mil talos.

O violão, porém, no contudo que só o entretanto se faz em toda a via, descansa num canto da sala. Falta-lhe as mãos que o encheram de brincadeiras e tons nas mais diversas tonalidades. As cores que teciam suas cordas de música e emoções viraram unções na dramaturgia que é a vida ao fechar as cortinas. No fim da estrada talvez um lampejo de morte ou angina. Com sorte, talvez lhe chegue uma consorte cheia de carinhos e aninhos. E acolha na colher da volta as estranhas entranhas do destino daquilo que tiver de ter sido. Na sombra do fim, nos resta em réstias só o olhar a ver-se fito.

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...