quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Protético do estético malversado

  Por Ronaldo Faria


-- E então, vai enfim fechar a fachada da boca na parte de cima?
-- Vou!
-- Puta que pariu, se deu bem!
-- Sei lá. Saiu até barato para aquilo que eu acreditava. Tomara somente que não seja dentista paraguaio...
-- Tá com medo de levar gato por lebre?
-- Eu não. O que vier agora é lucro.
-- Então manda ver!
Silva, como todos os milhões de Silvas do mundo, conseguiria agora comer dos dois lados, beijar sem medo de meter a língua na boca da cabrocha, sorrir mesmo sem saber sorrir de sorriso aberto e feliz, sorridente da orgia. Por fim, sobraria algum na conta corrente que é que nem de bicicleta a soltar direto e derrubar o coitado que senta no selim. Despedido do emprego de miserável do INSS, ludibriado pelas mentiras que lhe são impingidas, Silva achou um tio que um irmão do primo do cunhado, casado com a irmã gêmea da quadrigêmea da vizinha da moradora do número 30453 da Rua Belavista Prevista, tinha lhe deixado uma grana torta enterrada no quintal embaixo da única roseira em sobrevida. Esperto, ele pegou a enxada e suou até chegar na bendita. Depois de cavar meio quarteirão e nem sequer ter ido na orgia, descobriu um pote de porcelana chinesa que escapou da taxação das blusinhas e estava lá. Era a grana para garantir três dentes dos quatro do predestinado balbuciar que nem paga IPTU.
-- Parcelei em um ano. Parcelas que devem ser procelas ou porcelanas da sorte. Senão, quando eu for para terra de pés juntos, o que parece ser logo mais, sem prólogo ou gol que te torna imortal, ao menos São José não vai dizer, “pode sair parceiro, aqui só quem tem ao menos os dentes nascentes decentes”.

Magos

 Por Ronaldo Faria Dois magos (homem e mulher, se é que em mago há sexo definido ao infinito) descansam na noite que brilha e dir-se-ia luna...