sábado, 20 de abril de 2024

Nas cervejas do padrinho, o mimo da mímica se faz (substrato do cigarro do bom sem apertar um)

 Por Ronaldo Faria


 

Elucubrações mil num céu que há muito deixou de ser azul ou anil. No perpétuo pensar, o novo luar. Um lumiar que a noite faz pernoite. No aconchego final, a luta entre a embriaguez e o mal. A certeza de que a incerteza far-se-á frugal quando o tempo se for. E ele sempre se vai e se esvai. Brinca de eternidade quem crê que a crença poderá permear a vida da morte à sorte de cada um.

Marcelo Maldonado Peixoto, o D2. Quem saberá o nome real? Saber-se-á.  Será que vale saber E foda-se aquilo que não é rima! Na cisma da cidade que une beleza e escória, a história vitrifica a retórica que chega nos sons milenares que o coração brinca de florear para Poliana ficar de boa. Mas nem tudo que entoa é a realidade que o gueto traz em verborragia. Afinal, ele não traz à cor negra ou preta as ruelas das favelas, as coisas comuns de comunidades. Na correção da insônia que a isonomia da vida faz destrato no trato que a madrugada traz, seja chegada a malandragem que a zona norte dá.

O beijo da mulher que se aninha sobremaneira no abraço que parece o sargaço que cola no barco esquecido no porto destruído para nunca vir a ser. No cerzir que junta saudades e nunca existir, a loucura da benfazeja chegança num rolê. E vamos no sapatinho que o ardil do próximo minuto faz a troca da grana e do pó na esquina que se eterniza na sina que ninguém fará parar. Loas aos incrédulos que creem nas cédulas a remissão final. Rima surgida na mijada largada num banheiro aberto em duas opções.

Nos pesadelos que surgem loucos e tresloucados no submundo que é estar vivo, os versos vazam em sons que os ouvidos ainda ouvem. Nos olhos que já não sabem mesmo que veículos chegam de um lugar perto, o acerto do certo que, tão presto, nem parece estar no verso que, transverso, vira rima para uma conexão entre o morro e o asfalto. No desabafo que ainda bem nas letras enviadas não têm cheiro, surge o esmero que a vida arrestada não traz sobremaneira na rima do apito que ainda soa fatal.

Tivesse sobrevivido à sogra filha da ... que queria a filha casada com herdeiro de uma fábrica de guarda-chuvas, teria vivido uma vida de maior sorte? Nas esquinas sangradas das zonas sul e norte, no subúrbio banal de algo sempre animal, o menino se jogou no jogral. Vale o que for. Na época do telefone que pedia sinal para ser real, das cartas cravavam o tempo das emoções, a incerta certeza que poucos sabem o que ser. No dedilhar do agora, incrédulo e crédulo, o mundo que não disseram antes que um dia viria. 

(Para o Marcelo D2)

quinta-feira, 18 de abril de 2024

o frigir de ovos e óvulos

Por Ronaldo Faria


 

Que se foda o que irá por vir. O porvir não é e nunca foi aquilo que gostaríamos que fosse. No fosso de nós mesmos, a corrigir teclas erradas (e haja erros no que sobra de lucidez), mudemos de D2 para Ney Matogrosso. No texto a escrever, o osso.

 Sinfrônio, homônimo de ser algo ou alguém, transitava na diáspora que a vida ainda dá. Saboa ele que era mera sintonia entre a realidade o final, mas pouco importava na atávica chegada de parecer ser mortal. Imortal, já sabia ele, que não era. Nunca o foi. Gerado ao acaso que cada caso dá, numa trepada alucinada de qualquer na vida louca de nós, ele seguia na madrugada como um alguém sem ninguém. Mas não fora para isso que as madrugadas foram feitas, afeitas a um limiar sem querer nada?
Sinfrônio, codinome de bêbado que não sabe dizer se veio daqui ou se irá para lá, bambeia nas letras e sabe que no dia seguinte será pedinte de si mesmo. Mas, pouco importa. Às portas da noite quente e fria, pragueja ser alguém aquém do que se é. Benfazejo no ensejo madrigal, se entrega ao nada, a nadar e saber que se afogará. O lugar é algo que se pode rimar. Os dedos já não respondem. E nem sabem de onde vêm. No limiar da loucura, a insensatez delimita a conexão entre a derradeira centelha e a vez.

Lulu Santos a surfar na lembrança em desandança

 Por Ronaldo Faria


Enraizado no Rio do passado, entre um mar vaticinado a lindas mulheres com suas ancas e peitos, cigarros diferentes e a vida, ávida, de frente, logo defronte a um mar e suas ondas cheias de frio e sabor, fica o menino sem sonhos e ilusões. Talvez fugas fugazes entre linhas de trem, caminhos no lado zen que um Maracanã lotado em preto e vermelho que deixa a certeza de que amanhã é dia de voltar à escola onde a burrice atávica pede esmola a alguém no quem será. No futuro inóspito e próspero de logo ali um chá irá dar seu lugar num espaço quente e fervente que dinamites destruíram logo depois. Na gama de futuros filhos, o imbróglio de crer ou não na mão que tudo dita e diz. E fica a pergunta: para que então eu estou achando que sou eu a pensar e refletir em mim?
Na zona que o sul de um lugar faz ser eu em mim, minúsculo ser na vida que chegará logo longe e depois, o garoto brinca de marcar etéreos gols, dá golpes nas facas que matam sem rasgar e sangrar, se vira no silêncio ensurdecedor que a história faz brilhar a cada noite do depois. E há bares no embriagar de baixos que o Leblon fez de um chacareiro francês milhares de cachaceiros do amanhã. No som sintomático e dramático que cada frase desnuda em si traz, a amorfa forma de se transmutar e se largar. Um lagar haverá de existir em qualquer lugar. E terá cheiro de renovar, morte ou jasmim. No quadrado que vira a vida, um retângulo trará álgebra ou aritmética para a métrica da poesia. No papel, Papai Noel sabe que não virá este ano porque o menino se fodeu.
Nas areias que arestas de lembranças já nem sabem se de verdade existiram num estiro e respiro de tríades, os corpos tomam pingos de chuva caída só para lavar o passado destronado nos goles que se engolfam de realidades mil. O primeiro beijo de paixão verdadeira, a prostituta a ganhar seus mil réis sem trabalhar, a insensata asneira de se achar num lugar. Hoje, sabemos, que tal chegar se fará em cinzas e fogo para um renascer que nem a Fênix saberia criar. Pelos, penugens, vertigens, loucuras mil, desejos infindos, escorpiões em nascer e ascendência, caminhões a correr em madeira a terra do Nordeste de pó e perdões. À saber que dezenas de anos depois o amor sobrevive. Do infante virgem surge Romeu que a Julieta nunca se esqueceu nas asas de Prometeu.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Iluminado Dominguinhos

 Por Ronaldo Faria


A retreta à treta que rola entre amores e discórdia toca corações nas vozes que fazem da prosódia algo e nada. Na concórdia de tudo o gesto mudo do infausto arguto que sonha com uma terra de verde onde a poeira marrom da seca passeia. Um sanfoneiro, n’algum lugar, irá tocar as teclas como fossem o som da brincadeira derradeira do amar. O mar, esse ser que o sertanejo nunca vê, vira prosopopeia de uma heroica história onde o histrionismo é algo sem ser. Ao ver, no reverso do verso menor, na estrada desbragada de sonoridade e veleidade, os amantes margeiam a apoteose que cada dose traz. Por detrás de tudo, ao mero descrer de ser, um pássaro passeia de galho em galho como fossem esses um atalho. No mormaço de dois corpos quentes pelo sol que decide se mandar para dormir e depois voltar a chegar, o beijo derradeiro da cena derradeira que o prelúdio, em dilúvio e eflúvios, traz. A paz.
Na casa de pau a pique e sapê, a mãe chora o filho, quase ainda feto, que se foi. Um caixãozinho pequeno e de madeira quase calcinada pela seca é o primeiro e derradeiro leito do menino que dorme num nunca acordar. No lampião que suplica por um pouco de querosene para queimar na sua sina que só quem viveu no passado sabe existir, um ou outro mosquito se joga para arder em chama escura e amarela, que qualquer avó de nome Amélia saberia ser homenagem de filho antes maltrapilho à sua matriarca sem ter tido sua fuzarca. No longínquo perto demais, o bezerro berra o brotar de um leite que derrama das tetas murchas da sua mãe. Sem entender, o boiadeiro grita para o gado se recolher. No fogão de lenha, que faz os galhos antes vivos gritam em crepitar a sua morte final, a senha da sanha da fome.
Na noite que chega e se achega devagar, uma estrela ou outra brilha de ser branca no negror que o torpor dos raios de sol que descasam e descansam num lado qualquer. No corpo nu da mulher, o mundo que tantas rotas deu às mãos que acariciavam a solidão se transmuta de cores e seus odores, sabores que só o universo de lábios sedentos de línguas e dentes dá. Talvez uma rede largada ao luar que viaje para o poema desejar. A pele lavada de pingos de prazer e suor. A maneira de quem sabe, em talagadas, que amanhã será um dia de dizer a si mesmo o desmazelo que as letras e as teclas agora dão. Na diáspora de cada segundo que sempre é passado há a incógnita de casas caiadas e caladas, metáforas que a vida faz em si mesma à eternidade que a saudade faz – invólucro de poemas que se formam em fonemas e letras mil. Quem sabe algo possa rimar, pela rima, com céu pueril e de cor anil...


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Vozes e melodias

 Por Ronaldo Faria


-- Quisera e, ai quem de dera, estar na madrugada tresloucada, tragada de corpos e coisas afins. Ou quem sabe um começo de outro fim ou o fim de outro recomeçar. Gostaria, talvez, de ter uma tez de barba a roçar minha nuca e descer as mãos nos meus seios que anseiam por toques e lambidas, mordidas e um fim. Estou cansada de coisas banais e vozes caladas por detrás dos ladrilhos que cobrem a casa ao acaso do arquiteto que grita enlouquecido com o pedreiro que mal sabe falar.
-- Quisera, falsa quimera, a fazer a amada dormir. E, do nada, acordá-la na madrugada cheia de prédios e carros afins, vizinhos que não têm mais ninhos e ligam para o porteiro a reclamar do barulho que os pombos, em arrulhos, fazem a amar. Tocaria tuas coxas que sempre toco a cada viajar para amar e falaria de mim, de ti, do nada que um nadador sabe que chegará à morte depois da rebentação. Seria o macho da sereia a cantar para as mulheres que esperam seus amores na ponta do porto.
-- Quisera, antes mesmo do querer, voltar às areias que correm entre os dedos dos pés e brincar de despejar garrafas de vodca e gelos no degelo que faz a gente descobrir que a vida nada mais é do que deixar os peitos nus nas falésias e ouvir do amado que alguém pode ver aquilo que, coitado, pensa que é seu. Aos ventos da maresia, a maré se joga ao longe a levar as velas que trarão saudade enfim. Em mim, ensimesmada como toda amada, me atenho à trova da perfídia destronada ao nada.
-- Quisera, nesse presente ausente de lucidez e temente de logo perder o direito de falar e pensar, apenas rever todas penas a voarem nas gaivotas que trazem seus peixes e feixes para criarem novos outros voares perenes. Na embriagada forja dos poetas, que precisam se lançar à loucura para a poesia encontrar, vou a ver segundos e minutos, diminutos, para quem numa escada de um prédio secular beijou. Ao fim de tudo, em luto, enterrarei confetes e serpentinas no inexistente e ausente salão.
-- Quisera ter ouvido outra resposta posta na esquina que a quina da vida dá e ter ficado no lugar onde outra história far-se-ia. Fosse nova farsa ou não. A quem cabe o futuro? O fortuito entremear de tempos e têmporas, um acaso a acasalar seja o que for. Mas, hoje, histórias contadas e tratadas em tratados, há como mudar? A ouvir Gal, com nome de Gal, deixo-me entregar ao interregno que não virá. Num momento de tormento, prefiro o silêncio que me corrói numa ínfima imensidão.
-- Quisera ter tido botas de setecentas mil léguas que me dessem no passado o futuro que nunca soube prever. Em arroubos e roubos de letras, iletrados como sou saberiam ter escrito o descrédito de achar que a felicidade está logo ali. Sapientes ou dementes, forjariam na escuridão a certeza incerta da solidão. Daí, a perdição tomaria conta da realidade que agora não sabe o que dizer e nem mesmo se estar vivo é poder gozar. Sigo, daqui, a sequência que a dor deixar antes do mero alvorecer.
 
Ambos, mulher e homem, homem e mulher, decidem se jogar em camas vazias para suas vidas vadias e deixar o tempo a declamar, em métricas tardias, que nada agora responderá o senão. Nos ouvidos um som sombreia aquilo que as letras deixam surgir.
 
(Para Gal Costa)


quarta-feira, 10 de abril de 2024

No samba que gira as pernas a sambar

 Por Ronaldo Faria

 

Agripino, desses que a gripe passa feito poça d’água cheia de girino, batia o tamborim na madrugada cercada de cervejas e mulheres de pele que a África, graças a Deus, deu. Filho de ogã, batizado e confirmado, ele viajava acordado nos acordos que fez, mesmo sem saber, com a vida. Entre acertos e erros, sofismas e solfejos, versos e beijos de testa e língua, à mingua, ia a seguir a estrada do samba de breque, a brecar em cada ir e chegar. Pra, no fim de tudo, com o cavalo já cansado de tanto poeta receber pra virar escritura ou poesia, terminar na voz de Vinicius de Moraes.


Pra virar o dia com Caetano

 Por Ronaldo Faria

 

-- Manda a saideira aí, Germano! O dia já vai virar! Que nossas gargantas, enquanto elas puderem beber e falar, nessa vida que morrerá logo ali ou acolá, possam se esmerar e satisfazer os poucos prazeres que ainda restam a nós, meros subservientes seres de nós mesmos.

Germano, garçom e camarada, que apresentou tempos atrás a amada, responde rápido e ávido dos dez por cento do pedido de Beraldo. As mesas já quase vazias em volta, revoltas nas emoções que surgem em turbilhões depois de muitas doses e toques, olhares e desejos, esperam igualmente a garrafa chegar. “O último gole não tem como se largar”, pensam todos aqueles que resistiram heroicamente e historicamente. Um dia os escritores do futuro irão trata-los como resistentes dignos de verbetes e, quem saberá, falsetes de alguma inteligência artificial.

A sorver mais um líquido liquefeito de poesia, saudades e santos que descem para escrever no cavalo embriagado e tragado de suas lembranças e lambanças aquilo que deixaram de falar em vida, o tempo se esvai e vai nos segundos fecundos que viram passado em si a cada escrever. A ver, o que tiver de ser. Com Caetano a tornar veloz um Veloso que brilha entre estrelas, resmas e réstias, versos e versículos, o cara detrás da tela branca se acha escritor. Na esperança nunca vinda e no imenso mar de dor. Da Bahia o padrinho prometeu visitar a sede do Olodum.

-- Germano, abre outra saideira! De número qual? Sei lá! Mas já bateu no recorde normal. Isso é bom porque garante que a gente, mesmo que de forma mentirosa, volte a crer que o tempo vira estigma que só a lembrança de cada um faz passado parecer. Eu, por exemplo, me sinto agora no Gattopardo da Lagoa a beijar a índia do Pará ou a comer feito louco o Meia Lua do Natural. Deixe, por favor, assim ser.

Germano, cordato e corado no rosto de tanto receber o sol que o português não impede de chegar por se negar a colocar um anteparo, logo traz outra garrafa. A madrugada já chegou. Os pássaros dormem dependurados nas poucas árvores que restam, os amantes se esculacham notívagos nos colchões que descobrem vaginas e colhões, as estrelas curtem o pouco tempo que a primavera com cara de verão traz. O importante é saber que algo irá se transmutar e viajar milhares de quilômetros nas luzes de fibras óticas e cruzar mares, oceanos, continentes e mentes. Metamorfose feito entorse mal tratada.

-- Germano, decidi hoje não saber quantas linhas tinha cada parágrafo ágrafo. Chega de seguir limites! Deixemos a loucura sobressair! Portanto, não esqueça de mim.

No novo dia do dia novo, como fosse um ovo a chocar ou frigir, Beraldo lembra da camaleoa que se rapta. E se adapta. E se se faz amante para uma eternidade que não há. Que pode virar a mulher a bel prazer que se entrega no prédio esférico do Centro ou dormente na rede de uma casa onde uma cabeça cadavérica de boi surge no quintal de luar. Bel, a que será que se destina? Com certeza parte de um escrito pequenino, longe da tua intacta retina.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Sua máquina do tempo

 Por Ronaldo Faria


 
Um Ford passa ainda a rodar pelas ruas, mesmo que seu bigode já esteja raspado e branco. Brando em seu jeito quase manco, Belisário, o emissário da boemia circunscrita à mesa de bar, hoje bebe só na solidão de um adeus fugaz. Ele é o mesmo que fugiu com a toalha suja de batom da amada de milhares de escritos atrás. Mas, agora, tanto faz... É só ele, no enlevo que apenas a maior saudade traz.
O bonde se bandeia para um bairro qualquer onde os trilhos o possam levar. E Maricota viaja em seus pensares e pesares. Vestida de camisola de cetim, cabelos presos por presilhas mil, ela brinca de ser o desejo de mil homens. Embriagada em suas mágoas, vítrea na pele e virgem no sonhar, ela brinca como fosse somente efeméride atávica. Entre as suas pernas surge até hoje o cheiro bom de jasmim.
Na eletrola emerge o som de Nelson Gonçalves. De algum lugar alguém aplaude num salve a voz que surge de um gago embriagado. Aos poucos, transpassadas de solfejos e arpejos, as notas ganham sons externos, divagam e vagam pelas ruas e esquinas, amores mil e mil sinas. Certamente, na mente de um poeta, asceta de algo maior, a soberba da métrica sobressai ao limite de um mero dissabor.
No mundo que é sobremaneira infindo e infinito, retretas e serestas brilham nos coretos carcomidos de teias de aranha e descaso. Ao acaso, sonhadores imunes à tristeza ainda cantam suas sonoras e furtivas saudades. Para eles, a maldade é algo insone, mas que prefere ressonar nos fins de uma estrofe incólume. Da virada dos 50 do século já morto, torto, o escriba dedilha à trilha finda.
Uma modinha e uma ou outra serenata entoam o sortilégio da derradeira dor...

sábado, 6 de abril de 2024

O diálogo de bar

Por Ronaldo Faria



 
— A cerveja vai na forma estúpida geladamente gelada?
— Não precisa. As papilas só precisam que as tulipas estejam na temperatura das lágrimas para suarem no copo como algo trôpego antes de cair, como um corpo, logo ali na frente, diante da tragicomédia rouca.
O diálogo entre o garçom e o som que saía da boca do freguês era o epitáfio de um boteco construído diante da ermida que erguemos em cada um de nós para tentar desatarmos os próprios nós. Era sexta-feira. Dessas que vêm, entre gregos e troianos, tríade de uma verborragia imortal, a se desvencilharem de cada dia. Mistura de bolo de framboesa, na incerteza entre entrar no mar para fugir do calor ou morrer na boca do tubarão. Quem sabe um manjar feito na caçarola que só existe no Japão.
— A batata quer seca ou cheia de gordura e queimada na porção?
— De preferência uma que dê pra comer. No fim, o lugar de saída será o mesmo, a esmo. A dúvida é se será sólido ou líquido. Neste solilóquio, entre Gepeto e Pinóquio, que se traga o menu mais utópico.
— Cresivaldo, solta uma porção de tubérculo arrancado da terra junto com terra calcinada e enche de óleo requentado pela centésima vez!
O freguês, Gonçalves para os conhecidos e Brígido para os íntimos, fez o OK com o polegar. De algum lugar, na história histriônica que se faz falácia a cada segundo, alguém irá aprovar a culinária áfricajamaicanahaitiniana. Na cama, cheio de cana na cabeça, um homem está a buscar no desespero e esmero o hímen da mulher que se espalha em retalhos no colchão rasgado à beira da janela que nem a maior quimera fará dela derradeira espera na esfera. Enfim, Gonçalves Brígido, agora ser frígido, sofre de frio intermitente a sorver e ver a cerveja debulhada da garrafa de casco marrom que vira tom à espera de um Zé.
— A coxinha quer cheia de massa e um tico de frango ou cheia de argamassa e um pico de algo pra ter deixar doidão?
— Manda o que vier. No viés que há entre a vida e a morte, eterna servidão, tanto faz como tanto fez. Prometo mitigar o sabor para dar lugar à dor.
— Cresivaldo, debulha daí um frango triturado e embrulhado de algo que segure!
No derredor que se mistura entre o próximo e a proximidade que se basta, um cachorro raquítico enche a calçada de bosta. As luzes amiúdes de carros e janelas minúsculas, dessas que fazem o arquiteto mitigar nos vidros para reduzir os custos em centavos, brilham e rebrilham na póstuma chegada de mais uma lua pródiga. E casais se iluminam, tevês emitem milhões de pontos aos olhos que se enchem de futuras cataratas esbranquiçadas, batráquios fogem do sal que um idiota mental lhes joga por mal. E a vida, perpetuada na imaginária estrada em frangalhos e frangos a passarinho, espera que de algum ninho uma ninhada pie ao sol sombrio.
— Cresivaldo, solta um pano seco pra limpar a merda que esse bosta vomitou aqui!
— Seco não tem. Pode ser rasgado, mal lavado e insípido?
Ao fundo, São Paulo ressurge de novas cinzas para homenagear Itamar Assumpção, deus da poesia de quem ama a música, seja diante de um teclado ou numa sala de espera...

quinta-feira, 4 de abril de 2024

A quantidade de gêneros musicais

 Por Ronaldo Faria
 


-- Quantas foram?
-- Sei lá. A ressaca, quem sabe, amanhã saberá!
No baile de Carnaval, sem aval da solidão, esquecida por quatro dias, Pafúncio sabia que o anúncio do abstrato substrato de si só cobrava a conta no amanhecer do depois. Mas isso não o espantava. Fosse assim, ele não teria nem despertado há dezenas de anos atrás. Naquilo que o momento apraz, porém, vem o soluço resoluto a catar cada nota inaudita e dita na garganta que se desfez em tragos e tangos, tragédias, epopeias e comédias. No palco, um cavaquinho vira caquinho na cena que o diretor se fez ator e plateia. Do tempo que mulher era teteia, Lupércio bandeia entre extremos que se juntam em linha reta, como ensinava o professor taciturno de geometria. Na magia da ilusão que sobra em profusão no salão, forrado de serpentinas, todas repentinas, e confetes que parecem confeitos do bolo que murchou, ele dança na contradança que é dedicada ao sal de frutas Andrews, aquele que devolve o desejo de brincar no dia depois. Ao som da banda e do realejo que faz o desejo do periquito na porta do clube postergar decepções e ilusões, Lupércio rodopia sem parar. O fim, no adeus da colombina ao pierrô, une enfim o coração que João Gilberto disse estar cansado de sofrer.

terça-feira, 2 de abril de 2024

No repertório do oratório com Vinicius de Moraes

 Por Ronaldo Faria
 
O canário silencia um tempo e volta logo depois, no após procrastinado de metáforas e mil profanas e insanas poesias. Como um apóstata de si mesmo, se posta prostrado na madrugada. As cantatas que foram cantadas em pios solitários nesse interregno ficarão para a temporalidade que só a saudade dá. Embriagadas e tragadas de goles e visões impregnadas de viver a si mesmo, mesmo que a esmo, serão um capítulo perpétuo de uma vida que logo será esquecida, carcomida e que irá virar cinzas antes de comida de seres internos em sobrevida da morte inaudita.
Essa era a cena que Epaminondas, no seu recolher temporal, sem aval de si mesmo, via de forma estrábica e míope. Com uma catarata a querer escorrer de seus olhos, já que rios de lágrimas descem até de programa de culinária ou séries policiais, ele revolvia ruas e esquinas, muitas das quais já bateu o joelho ou a cabeça numa quina. Sem fio ou pavio, pavão sem cauda, caminhava na contramão para ver de frente a fronte daquela que o deixou. Senão, era só para parecer o ponteiro de um relógio que decide paralisar e mudar de rumo e prumo.
Catatônico, atônito e afônico, Epaminondas há tempos não tinha verborragia. Nostalgia? Muita. Lombalgia? Várias. Assimetria? Total. Sabedor do esquecimento do tempo, fatídica realidade banal e trivial, andava para o beleléu. Como fosse do mel o fel. Mas, sonhador e poeta romântico e parnasiano, nas parábolas próprias, sofismas e solilóquios, vai passo depois de passo e passada no passado a andar e voltar. No silêncio que a música dá, absorto e abstrato no trato, ele vê apenas que amigo já não há. Mas, como diz o poeta, tudo um dia chega ao fim. No bar, onde o cheiro de cerveja enseja outra bebedeira, a mesa vazia o chama a chegar e se achegar, se aconchegar.
-- Garçom, desce várias. E vou pagar adiantado, porque que tem dinheiro é pra esbanjar e se mostrar!
No som da caixa do boteco, por acaso, toca Vinicius de Moraes. “Caralho, é isso que o poetinha dizia ser algo a mais?” Logo perto uma “profissional do sexo” levanta a saia que já estava bem além do joelho. Sacana, um pernilongo, ou será um percevejo, pica Epaminondas. Na dor do sugar de sangue, ele não vê a chance da sua solidão terminar. Do caixa, o português diz que a conta já passou de duzentos reais...




sexta-feira, 29 de março de 2024

Sob vários graus acima do normal

 Por Ronaldo Faria



Calor infernal, dramático, atávico, caudaloso, suarento, bastardo, deplorável, ignóbil, destruidor de vidas, maldito, real.
Para esquecê-lo (não aquecê-lo), Caetano em Jóia (no tempo que acento havia).
 
Na escuridão dos bares clareados pela lua e luzes de postes e faróis, o homem caminha em busca de ficar trôpego ou se reconhecer, quiçá. Na aquiescência que nem a loucura que logo chegará dá, ele segue no retumbante momento em que celular não havia. E as fichas de orelhão eram até motivo e roubo. A espera de uma carta (espera trágica e demorada) era o querer saber aquilo que a amada estaria a dizer e responder. Era um tempo em que as emoções não mudavam aos segundos. O querer como que se perpetuava na lambida do envelope, na lambida do selo, nas mãos do carteiro que, sabe-se lá como, num momento entregaria a emoção tardia.
Nos ruídos mil de um bar, entre olhares e desejos, afagos e tragos, sonhares e parecer poder, um ou dois se lançavam nos mares de revoltas tempestades e calmarias entre lençóis e blasfêmias. Revoadas de pássaros e toques nas coxas, seios e cabelos descabelados e loucos. Entre as pernas da mulher, mata de pelos num triângulo que se despenteava à língua ávida de prazer dar e ter. Um ou outro carro se bandeava nas ruas desertas e pérfidas. Um bêbado ou outro caía no asfalto e levantava para cair de novo. Na longitude entre o tempo e o vento, a esperança de acordar no dia seguinte sem ser pedinte de uma outra vez a tocar e olhar o rosto que desperta ao lado ínfimo.
No olhar do céu em seu negror involuntário de lua nova, a saudade déspota de emergir na espuma que vem do fundo do mar. Nos lábios molhados da virgem há muito desvirginada e aplacada em seu mundo, o efêmero porvir que só quem ama conhece. Como um universo onde o verso é apenas apêndice da leitura de jornal matinal, abstraído de rotativas, jornalistas sonhadores e boêmios, bravatas de quem acredita que ao outro possa informar. No mundo afora, que roda sem parar (e desde há milhões de anos é redondo), o ofegante e perdido amante pernoita em seus sonhos bisonhos e trôpegos. Ao fim do dia, diásporas serão o derrear de algo ou nada a ser...

quarta-feira, 27 de março de 2024

Transição musical

 Por Ronaldo Faria

 



O silêncio, esse mestre do aprendizado, chama a chama que ainda possa existir no poeta que submerge em si. E amplifica passagens que só ele viveu, transmuta corpos nus em imagem nenhuma, passeia nas paisagens que o desejo do ensejo maior não traz mais. “Garçom que não pedirá os dez por cento, espere. O copo ainda está a transpirar e uma espuma a brindar.”
O que emerge entre um e outro gênero musical? Há um santo metafórico e onírico que faz a junção de notas e versos? Ou o próprio som que envolve o quadrado pequeno e senhor de si mesmo, alcoolizado, faz seu ritmo no lugar? Quisera saber para eu mesmo entender no criar. Infelizmente, a resposta nunca terei.
-- Obá de biabá caô, obe obá!
Um piano demove sons de seu dedilhar. Na voz feminina, no passado ranzinza que não quer querer ir embora, a aurora ainda tem muito para chegar. E relembra amores mil, corpos jogados em si, entrelaçados e untados de desejo e torpor. Na dor da separação, a unção de sonhares e lumiares. Na cozinha, a geladeira grita que o gelo chegou. “Como beber cerveja presa em si agora?” Na sorte dos notívagos, ela jorra no copo feito fosse cachoeira de paixão. No crer que o passado pode voltar, a voz se atira no fim de qualquer peça que nunca foi aos palcos. Cadafalsos ficaram no caminho. Nos cheiros que se perderam, um bar se embriaga de delírios e letras escritas num guardanapo qualquer. Faz-se princípio e fim. Dorme numa esquina dos confins. Sai, enviesado, pelas estradas dos confins. Vira tudo e coisa chinfrim. Mas fica onde está, no emaranhado de um coração sem razão. Que sobrevoa as décadas efêmeras que deixaram de ficar, sobreviveu em universos em que éramos o rei e o vassalo, parou no tempo que não se deixa derrear. Nos segundos profundos, aquilo que nos coube ser.
-- Tenho sede a embalar sonhos...
Agora, sem ágoras e palanques, sem redes sociais a viajar por todo o mundo, vou apenas, a duras penas, relembrar aquilo que se foi. E acabou.
 
II
 
Cadê você? Cadê eu? Cadê nós? Onde deixamos o universo se tornar o verso final? Em que esquinas rompemos o juntar que se deu depois? No erro que não há como recuperar, do poeta romântico e parnasiano, daquele que nada sabia da vida (e agora sabe?), a dizer vá. Só que a história de cada um de nós não deixa parágrafos a escrever. Dá um ponto final. Sem final. Ao menos no que se foi. Na imensidão da ilusão, a certeza de que não existe servidão...
 
III
 
A ouvir Márcia Castro que eu um dia comprei o CD e nem sabia que o tinha. Certamente, se a venda de CDs exististe ainda, talvez tivesse comprado de novo por não saber tê-la. Como ela mesmo canta: “Chupa e agradece”.
 
IV
 
Só, somente só. Arriba nós! Que o próximo segundo nos livre de nós de uma senhora ou mais. Abre a porta e janela e vem ver o sol nascer...

segunda-feira, 25 de março de 2024

Família Caymmi

Por Ronaldo Faria

 


Cair em Caymmi é navegar nos mares da Bahia. É voltar aos revoltos tempos sem lumiar. É se banhar num istmo que se envolve de águas salgadas e doces e adocicar a tristeza feito ela fosse algo que nunca no corpo morou.
Se envolver em Caymmi é como entrar de novo no cinema onde o escuro esconde a mão que se põe sobre a mão da menina que o destino de loucos não deixará nunca juntar. É fazer dia onde a noite cobriu o sol da esperança.
Ouvir Caymmi é trazer o passado ao presente que se ressente de nunca ter visto o futuro que poderia ser. É reviver sem sequer viver. É dormir sem deitar na cama, é acordar num universo em que o verso é somente voltar a ter.
Catar Caymmi entre tantos milhares de CDs é correr o milharal antes do sabugo colher. É olhar a semente que um dia irá ser flor e secará esturricada na seca do fim. É tirar cheiro do alecrim. É comer com a mão a solidão do porvir.
Cantar canções de ninar de Caymmi é balançar na rede que faz um vento quieto que se embaralha com o cheiro de lampião que o querosene traz. É ouvir o mugir do gado a chorar o bezerro desmamado no brilhante luar.
Beber ao som de Caymmi é cair num poço que está cheio de medos e sonhos que se misturam num vai e noutro vem. É correr os caminhos que se foram no desdém. É beijar bocas sedentas e secar nas sedes de outro alguém.
Morrer em Caymmi é amar a nostálgica estrada nunca trilhada, os amores que se deixaram sem fim, um enfim ensimesmado de perfídia e sim. É escrever no derradeiro e sincero esmero de sangrar em veias dos meros confins.
Escrever em Caymmi é saber ser de Humanas e até hoje não conseguir fazer conta. Os contos e poemas tomaram o pouco espaço no cérebro que restou. Enfim, ser Caymmi é acreditar que um dia o nosso dia ensolarado virá.


sábado, 23 de março de 2024

Na companhia de Muleke do Banjo

 Por Ronaldo Faria

 

“Samba é pra levantar o astral. Senão, de que vale bailar na avenida vazia, sem vida, sem a morena a rebolar?”
A voz de Genovésio na mesa do bar, cercada de garrafas vazias de cerveja por todos os lados, ecoa na viela que se entorta na subida do Morro da Pedra Caída. Defronte ao boteco, para alguns apenas uma birosca a mais, o barraco de Jovelina, sem ter sequer pérolas negras, está iluminado. Malfadado seja, pois, o tempo que desagua na estrada de pó e terra entre ruelas pequenas e cheias de gatos que iluminam a madrugada ou servem de tamborim no Carnaval.
“Seu Juvenal, mestre dos petiscos de além-mar, traz mais outras Brahmas pra gente esvaziar. E anota pra depois de amanhã.”
O pedido de Genovésio é logo atendido. E alguém puxa um cavaquinho, outro saca uma caixa de fósforos e mais alguém surge com o pandeiro. “Agora fodeu”, pensou o trabalhador braçal que, logo perto, desperto, queria poder dormir. Aos poucos, vozes entoarão forte o samba esquecido há muito, sentirão saudades do poeta que se foi, brincarão de rimas e sustenidos para ver aquilo que o universo fora do verso não dá. Quem sabe um bloco não será formado logo depois, no após que o apocalipse da vida dá.
“Alguém sabe que horas são? Para! Pode parar! Aqui ninguém vai saber. A vida é só uma. O pagode não pode esperar ou se esmerar no dia raiar.”
Malandro no mundo da ilusão que só a vida dá, Genovésio puxa um samba novo e outro antigo. Antípoda de si mesmo, a esmo, como quem toca banjo sem saber sequer dedilhar, levanta o dedo e manda descer mais litrões. “Se é pra morrer logo ali, vivamos as ilusões que são o negror da noite que nunca mais vai rebrilhar igual.” Num ou noutro barraco, desses que na primeira chuva forte pode descer o asfalto, o som reverbera feito gérbera que cresce em qualquer lugar.
“Seu Juvenal, fugitivo de Portugal pra descobrir aqui que o melhor é sair de onde o povo se acha mais do que é, manda uma porção de calabresa pra forrar.”
Na esquina que pouco existe numa favela, o pai de santo deixa a oferenda para Exu e Pomba-Gira. Marafo e frango cortado no pescoço com sangue a esvair, farofa e vela, esperança do futuro melhor, e o destino entra em desatino no perder das raras horas. “Oxalá, meu santo maior, meu Omolu que me dará a morte tranquila, minha Iansã que derrubará as águas para lavar o mal, sejam bem-vindos”, pensou Genovésio. Ali perto, no alto de onde o morro vê o mundo girar, um casal se enrosca na cama entre orgasmos e magros rebentos. Os ventos servem apenas para envolver o teatro do acaso.
“Vamos lá, moçada, faltam as dez últimas saideiras antes da derradeira. Vamos deixar rolar que sexta-feira é só uma vez em cada sete dias.”
Genovésio, o inverso do verso nunca cantado na escola de samba que não sai do grupo pra subir para algum grupo que está longe do sambódromo entrar, solta o verbo. E vem a saudade da índia do Pará, com seus cabelos lisos e negros, que se refugia no asfalto do subúrbio e sabe-se lá se viva está. Onde vive é difícil até para ele voltar à estação de um trem que morre do lado da avenida proscrita em seus cubra-libres e gins com tônica. Tempos de amores mil, telefonemas em fonemas, bichos de pelúcia, batas, quando ainda era preciso sinal pra discar, soberba do passado perdido e urdido, desses ardidos que nem a pimenta que se derrama na linguiça dá. Nalgum lugar existirão outros lábios de mel ou fel.
“Que porra é essa que parece brilhar no céu? Quem chamou o sol pra ele acordar? Puta que pariu, porque a vida não nos deixa viver? Por quê?”
Revoltado, Genovésio bate forte na mesa de metal quase a cair de tanto enferrujada. Seu companheiro de birita se irrita e diz apenas: “Genê, dá pra segurar a onda e a loucura? A cura está aqui na mesa. Quer destruir a receita do doutor da ilusão que ao menos deixa a gente esquecer que tem outro dia pra acordar e viver?” Genovésio entende o recado e cai na real. É preciso abrir a roda pra deixar o coração participar. Levanta o dedo, pede outra e olha para o céu em cores a derramar e se redescobrir na madrugada fria que virá se aquecer. Ao redor, um cachorro urina no poste, o ajudante de padeiro desce o morro para cumprir seu labor, uma sirene de carro de polícia vem atender outro defunto perfurado de balas a descansar no asfalto. O mundo permanece igual. Tal e qual.
“Ô português, obrigado por nos deixar sonhar! E viva a Light que deixou a geladeira gelar.”

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Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...