Por Ronaldo Faria
Calor infernal, dramático, atávico, caudaloso, suarento, bastardo, deplorável, ignóbil, destruidor de vidas, maldito, real.
Para esquecê-lo (não aquecê-lo), Caetano em Jóia (no tempo que acento havia).
Nos ruídos mil de um bar, entre olhares e desejos, afagos e tragos, sonhares e parecer poder, um ou dois se lançavam nos mares de revoltas tempestades e calmarias entre lençóis e blasfêmias. Revoadas de pássaros e toques nas coxas, seios e cabelos descabelados e loucos. Entre as pernas da mulher, mata de pelos num triângulo que se despenteava à língua ávida de prazer dar e ter. Um ou outro carro se bandeava nas ruas desertas e pérfidas. Um bêbado ou outro caía no asfalto e levantava para cair de novo. Na longitude entre o tempo e o vento, a esperança de acordar no dia seguinte sem ser pedinte de uma outra vez a tocar e olhar o rosto que desperta ao lado ínfimo.
No olhar do céu em seu negror involuntário de lua nova, a saudade déspota de emergir na espuma que vem do fundo do mar. Nos lábios molhados da virgem há muito desvirginada e aplacada em seu mundo, o efêmero porvir que só quem ama conhece. Como um universo onde o verso é apenas apêndice da leitura de jornal matinal, abstraído de rotativas, jornalistas sonhadores e boêmios, bravatas de quem acredita que ao outro possa informar. No mundo afora, que roda sem parar (e desde há milhões de anos é redondo), o ofegante e perdido amante pernoita em seus sonhos bisonhos e trôpegos. Ao fim do dia, diásporas serão o derrear de algo ou nada a ser...
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