Por Ronaldo Faria
O vento do ventilador ventila
na noite quente que aquece e aquiesce o homem que dedilha a sua própria sina.
No quadrilátero mínimo e ínfimo que um espaço arquitetônico dá à tônica do
espaço, a sorte que um sortilégio não antevê o fim para logo. Em solilóquios
afônicos, a voz que quase não sai. Os dedos ainda dedilham em frenético
arquétipo o tépido desenrolar frenético que esgota o tempo que ainda virá. Perto,
sentado no bar que espera que a esquina vire uma reta sem fim, Sebastião, vulgo
Tião, teoriza sobre a vida em Bogotá. “Será que lá é como aqui ou acolá?” Faltava
na mesa um colombiano para a tese corroborar. O jeito é compor algo mais para caber
no parágrafo seguinte, como um pedinte da poesia distante.
Ambos, antropofágicos seres que
os frágeis ditames da vida enterram a uma eternidade inexistente e pertinente,
divagavam e vagavam nas letras e pensamentos que só o tempo traz. Na performance
que só o teatro sem palco e plateia dá, vão transitando o cotidiano de cada
segundo que o coração ainda dá. Em copos cheios e anseios de verem um seio a
cair nas bocas rotas, num lambe-lambe que só o fotógrafo retrógrado dá, vão
descortinando veredas e ansiar. No oceano distante e equidistante do além-mar, os
versos e reversos de algo que segue adiante. Na metamorfose depois da fimose de
batom, um frígido ouvir de vozes a buscar um caminho que, no fim, vai ser o próprio
e mesmo indelével e sofrido enfim.
“Amigo, traz mais uma pro tempo destemperar”, disse Tião, proscrito homem e trabalhador. “Porra, vou ter de levantar de novo para buscar a cerveja”, pensava o poeta asceta que apenas queria escrever, sorrir ou chorar. No meio de tudo, quase em luto temporão, a noite brilhava no seu escuro colorido. “Quanto tempo ainda falta para o tempo terminar?” – perguntaram os dois. No derredor, gente que não conhece o fundo de um poço vazio e sem água que espera uma chuva em torpor. Quem sabe um louvor que ignora o horror que os pesadelos, em desmazelo, trarão logo mais. Na imensidão que esmera a sofreguidão, os portais sem abrem e se fecham à espera de mais um igual e desigual torpe e lindo amanhecer.