Por Ronaldo Faria
“Amanhã eu comerei salmão e
macarrão. Logo. Recupero do porre de hoje”, pensou José que sabe começar, mas não
tem o despertador de parar. Vai ao espelho ver uma espinha que teima em querer
sair. A puberdade há muito já tinha partido. “Puta que pariu, só me faltava essa”,
pensa entre querer aceitar e odiar o ardil. “Agora não tem jeito. Da música que
vier na fila chegará um pensamento rarefeito.”
“Lô Borges em choro? Novos
Baianos a por o sol a se por?” Coisas mil a fervilhar e germinar no santo que
baixa para escrever nesse cavalo deveras quase embriagado e incapaz de dizer de
onde vem tanta ebulição. Logo abaixo, no chão, algum ser, de antemão, fluiu na
eternidade da idade para confirmar que a verdade não condiz com a saudade.
Hoje, em sonho, alguém voltou para uma louca orgia refeita.
Na lista, logo chegarão Jorge Mautner
e Zé Ramalho. Como diria o narrador, haja coração! Nas teclas diante da vista,
um branco que não precisa mais de branquinho ou durex para cortar com régua e
depois colar os erros cometidos no espaldar da escrita formal. “Ainda bem que
os tempos mudaram.” Na playlist, Ary Barroso. “Ao menos o Brasil é uma profusão
de ritmos e sons que em lugar mais nenhum há.”
Na métrica ou rima tresloucada
que o álcool traz, o som absorve a crença de que a demência é coisa de
receituário médico. No ilusionário porvir de letras e troças, tretas, que fique
a incerta verdade de que o agora é o passado que se foi, o presente que não há
e o futuro que brinca de nunca chegar. E o que logo esperar? Waldyr Azevedo,
Elomar e Itamar Assumpção. Vale parar aqui ou a loucura vinda esperar?
Feito menino, busco ainda o meu destino...
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