Por Ronaldo Faria
Sistemático, pragmático, atávico, Jerônimo, homônimo de si mesmo, a esmo nas ruas, seguia pelas esquinas sonhando não bater em paredes chapiscadas. “Quem inventou essa maldição aos loucos que transitam em si mesmos? Qual foi o arquiteto ou pedreiro que decidiu impedir um pouso decente aos bêbados que trocam pernas na calçada infame de nenhuma fama?”
Para Jerônimo, ser de si mesmo, parcimônia entre o tempo que se tem e aquele que resta, a reza diuturna é o beijo na cadela que descansa sobre o som que dá rimas e ruma ao fim desejado. Na falta de um afago, ele sobrevive e cria a rotina cretina de fugir a cada sono insone e trôpego.
No derredor, falência de emoções e unções, o escuro já é dono de tudo. Ciências que um dia far-se-ão mera história de um mundo inexistente. Falências de órgãos e tragicomédias inéditas a cada nascer e por de um sol que vem e some, a assistir planetas e gametas girarem sem noção à busca de cifrões e comoções. “Disso tudo, o que diria Camões?” – pensou Jerônimo na sua inerte existência.
Na sua excrecência no mundo interligado, ligado umbilicalmente a outro umbigo que apenas vê a si mesmo, ele segue a trajetória meteórica e histriônica, exótica, de romper montanhas e entranhas, estranhas em paleolíticas monções de tempos atrás. Segue sem ver direito os carros que rompem o asfalto como fossem em busca da velocidade do som, brinca de passear nas árvores, se arvora de ser um ser vivente. Demente, mente para si de que a felicidade estará logo ali. Antes, Ali Babá e seus 40 ladrões saquearam o fim do arco-íris.
Agora, nem a seta enorme de uma tela branca irrita mais. Jerônimo, antagônico ser que se desdobra para ainda sobreviver, busca o cheiro da madrugada, as mesas do bar repletas de outras vidas ínfimas, a lua que se descobre infinda a brincar de poucas horas de verão, talvez um banheiro minimamente pronto para receber dúvidas, urinas e tresloucados desejos que nem mesmo o amor de ensejo saiba desejar.
Ao fim de tudo, no obscuro final de todos nós, com uma luz a anteceder o derradeiro olhar ou apenas a escuridão absoluta e resoluta que brilha lá fora, Jerônimo bebe outro gole, se engolfa de letras e rimas, pede apenas, se sobreviver, que tenha lucidez para um torpe banho tomar no acordar. Senta no meio de um fio de pedra e vocifera para ninguém ouvir. No entremeio geral, a certeza de que a solidão não depende de cifras musicais e cifrões a se espalharem e se espelharem numa tela de celular. A tristeza está intrínseca na seca de emoções que a vida traz..

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