domingo, 8 de setembro de 2024

Ella e Louis

 Por Edmilson Siqueira



"Ella e Louis. Sobrenomes não são necessários e nenhuma explicação é necessária para saber que esse era um encontro musical feito no paraíso do jazz."   
Assim começa um pequeno texto de apresentação do disco "Ella And Louis Again". E pelo "again" do título, já se deduz que esse não foi o primeiro encontro dos dois geniais intérpretes. Esse foi gravado em 1957, um ano depois do primeiro e já então clássico "Ella & Louis" e, diz o texto, "é uma triunfante reunião - o nível de arte altíssimo, uma portentosa mágica". Como se tudo isso não bastasse, eles são acompanhados por nada menos que o trio de Oscar Peterson. 
São três discos (o segundo é duplo) essenciais para quem aprecia jazz tanto vocal quanto instrumental, afinal os dois artistas marcaram o século passado como os melhores em suas artes, deixando um legado insuperável de emoção e beleza.  
Ambos os CDs, da Verve, a maior gravadora de jazz dos Estados Unidos, são totalmente fiéis aos discos de vinil originais, com encartes substituindo os longos textos das contracapas dos LPs, onde havia espaço de sobra.  
Um dos textos, de Norman Granz, já começa dizendo que "não há muito que alguém possa dizer sobre um álbum cujo título é 'Ella and Louis Again'. (...) Eu duvido que haja alguém hoje que ame música, e que não conheça Ella Fitzgerald e Louis Armstrong". Sobre o que pode assinalado, eu suponho, é que nós temos novamente alguns dos melhores produtos dos melhores compositores da nossa época." 
Outro trecho do famoso crítico musical: "Eu não quero recomendar nenhuma das faixas para você, porque cada música, do seu jeito, é tão boa quanto as outras; mas há uma que eu gosto de comentar." E ele explica que na faixa sete do disco  2, "Stompin' at the Savoy", Ella e Louis deixam, a partir de um determinado momento, a letra oficial de lado e passam a improvisar, deixando transparecer que estavam realmente se divertindo ao inventar versos sobre o famoso tema.  Sobre essa música, a Wikipedia informa que, embora ela seja creditada a Benny Goodman, Edgard Sampson, Chic Web e And Razaf (como está no CD, aliás), ela foi escrita e arranjada por Sampson e a letra foi colocada depois por Razaf. 
O primeiro disco de Ella e Louis se tornou antológico em pouco tempo. Além do conteúdo musical, está nele uma foto, hoje icônica, dos dois artistas sentados em cadeiras, talvez descansando entre uma sessão e outra ou esperando o estúdio abrir, que revela a simplicidades dos gêniios. É uma das fotos que acompanha esse post.  
Todas as músicas já eram mais ou menos conhecidas quando foram gravadas por Ella e Louis. Depois da gravação, então, alcançaram a marca definitiva.   
A trilha sonora se abre com os dois cantando "Can't We Be Friends?" (Kay Swift e Paul James), primeiro Ella e depois Louis. A qualidade da faixa, acompanhada por um piano mais que seguro, um baixo bem ritmado e uma bateria discreta, tem ainda o trompete de Louis enfeitando o arranjo. 
O show continua com "Isn't This a Lovely Day? (Irving Berlin), uma lenta canção que exige de Louis uma interpretação pensada, ele que está acostumado a canções mais movimentadas. Já Ella dá à música qualidade que poucos sabiam que ali havia.  



A mais que clássica "Moonlight In Vermont" (Kart Suessdorf e John Blackburn) é a faixa seguinte e a qualidade de interpretação se repete. À época, os críticos não encontravam palavras suficientes para elogiar o resultado da união dos dois geniais artistas. E fica difícil mesmo. Não há faixa "mais ou menos". 
Por isso, vou apenas nominá-las aqui, já que todo e qualquer elogio é mais que merecido e temo ficar repetitivo a cada faixa. 
O disco segue com "They Can't Take That Way From Me" (George e Ira Gershwin); "Under a Banket of Blue" (Jerry Livingston, Al J. Neiburg e Marty Symes); Tenderly (Walter Gross e Jack Lawrence); "A Foggy Day" (George e Ira Gershwin); "Star Fell on Alabama" (Frank Perkins e Mitchel Parish); "Cheek to Cheek" (Irving Berlin); "The Nearness of You" (Hoagy Carmichael e Ned Washington) e "April in Paris" (Vermon Duke e E. Y. Harburg).  
O segundo disco foi duplo, aquele "Ella And Louis Agains" do início do artigo, sem necessidade do sobrenome para reconhecer de quem se trata. A única diferença é que agora o quarteto do de Oscar Peterson, além de Herb Ellis no violão e Ray Brown no baixo, tinha Louie Bellson na bateria. No primeiro disco, o baterista foi Buddy Rich. E, claro, Louis Armstrong em quase todas as faixas com seu divino trompete. 
E para não cair no lugar-comum dos elogios de sempre, vou logo listando as músicas para que, quem não ouviu ainda e conhece um pouco de jazz, imagine o que temos de maravilhas musicais e corra log a um site de vendas de CDs e compre os dois - o simples e o duplo - de uma vez só.  
As faixas do primeiro CD do segundo disco: 
- Don't Be That Way (Benny Goodman, Edgar Sampson e Mitchel Parish) 
- Makin' Whoopie (Walter Donaldson e Gus Khan) 
- They All Laughed (George e Ira Gershwin) 
- Comes Love (Sam Stept, Lew Brown e Charles Tobias) 
- Autumn in New York (Veron Duke) 
- Let's Do It [Let's Fall in Love] (Cole Poter) 
- Stompin' at the Savoy (Benny Goodman, Edgar Sampson, Chic Webb e Andy Razaf) 
- I Won't Dance (Jerome Kern, Dorothy Fields, Oscar Hammerstein II - Otto Harbach e Jimmy McHugh) 
- Geme, Baby, Ain't I Good to You? (Don Redman e Andy Razaf) 



 Segundo CD: 
- Let's Call the Whole Thing Off (George e Ira Gershwin) 
- These Foolish Things [Remind Me of You] (Harry Link, Jack Strachey e Hilt Narvell) 
- I've Got My Love to Keep Me Warm (Irving Berlin) 
- Willow Weep for Me (Ann Ronell) 
- I'm Putting All My Eggs in One Basket ((Irving Berlin) 
- A Fine Romance (Jerome Kern e Dorothy Fields) 
- Ill Wind (Harold Arlen e Ted Koehler) 
- Love Is Here to Stay (George e Ira Gershwin) 
- I Get a Kick Out of You (Cole Porter) 
- Learnin' the Blues (Dolores Silvers) 
Os dois discos, o simples e o duplo, estão à venda nos bons sites do ramo.
O primeiro disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Vh7oIP-QSHs&list=PLL-NbN8uTOijqTJxQ9BMFcDe7UiWDMVwc
O YouTube também disponibiliza o segundo: https://www.youtube.com/watch?v=dtLerPwneMw&list=PLC-4c-dTv6N2o_QYwb9yVPWh2qHxNdsYm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Zé dá o Tom final

 Por Ronaldo Faria “Em quantos mililitros parar? Não enquanto existir espaço vago e vazio nalgum lugar e banheiro altaneiro em rota segura n...