sábado, 14 de setembro de 2024

Vem Tom Zé

 Por Ronaldo Faria


Concreto que traz o feto e até tátil texto. Na textura da pele que sombreia o sol no meio de paralelepípedos e epítetos do poeta informal, o calor, infernal, não dá happy ou end. No urro que o sussurro traz, a loucura insípida dá sinais que inépcia de quem da filosofia dá tal resposta surge certa. Na posta do prato feito, rarefeito e morto, o peixe surge como mestre-sala diante das batatas que brigam entre si para serem porta-bandeira. Nenhuma delas sequer quer ser passista ou rainha de bateria. Profana gama de possibilidades, a felicidade vê na cidade sua concretude e ataúde num desabar sobre os homens. Nos balaústres trágicos que escondem vidas perdidas e urdidas, feito japoneses da Liberdade como kamikazes, o mundo vai abreviando o tanto que a chuva não trouxe em enchentes e mentes. Desavisado e catártico, o mendigo da Praça da Sé nem sabe o que é fé. Seu marco central é uma garrafa de pinga e aquilo que a vagina da louca do crack deixa ser. Nos bairros nobres, onde apenas as pernas dos barões do passado têm acesso, o poste aceso pranteia o fim. No asfalto infausto por onde passam milhões de faróis e vidas, a crueldade do dinheiro no bolso ou no cartão de plástico se impõe.

II

Nas priscas eras, São Paulo, com um imperador comedor de suas vassalas mil, foi palco de uma liberdade eufórica, utópuca, dramática e quase antecipação do carnaval. Entre cavalos, burros e seguidores promíscuos, disse que o Brasil era livre para ser dominado por seu legado. No alvorecer de algum lugar, fez surgir um país em que a propina em tudo dá. É só plantar. E como se plantou em centenas de anos... Os alqueires que nem a mais remota Vila Valqueire carioca sabe expressar, logo se transformaram em milhares de fidalgos. Barões, condes, viscondes, puxa-sacos, coronéis, fiéis seres de revés, todo o tipo de gente virou agente perfumado e programático. Na maledicente história que a escória não sabe lembrar, a solícita solicitude que se faz somente pandeiro e violão. Na feira, o peixeiro grita que o seu produto acabou de sair da água. Só se for do Rio Tietê. Como tempero há mil e umas doenças a se pegar e florescer. Vamos, portanto, nos agregar. Mas é promoção! Esqueçam a futura emoção! A morte para todos é certeza de unção. Logo, sejamos seres inocentes e tementes, indecentes e proeminentes. Nos postes e luzes, argonautas do asfalto, infaustos seres concretos, nos transformemos em insanos poetas bêbados e vívidos nos lingotes de ouro que nunca chegarão nem perto de nossos cangotes. Frangotes, continuemos a brigar pelo creme dental, esse ser fatal para nossos dentes não despencarem podres na ponte da água estagnada e estaiada...

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