segunda-feira, 13 de junho de 2022

Jazz em Paris não tem fim

Por Edmilson Siqueira 

"Il n'y a jamais de fin à Paris et le souvenir qu'en gardent tous ceux qui y ont vécu diffère d'une personne à l'outre (...) Paris valait la peine, et vou receviez toujours quelque chose  en retour de ce que vou lui donniez" ("Paris nunca tem fim e a memória que todos os que lá viveram têm dela difere de pessoa para pessoa (...) Paris sempre valeu o esforço, e você sempre recebia algo em troca." (Hernest Hemingway, 1960, extraído de "Paris É Uma Festa") 


Pra quem, como eu, já esteve em Paris algumas vezes e ainda guarda pela cidade um amor que é, ao mesmo tempo, fácil e difícil de explicar, encontrar um disco que traz em sua capa a foto de um café parisiense na Place de la Madelaine, nos anos 1950, lotado, numa tarde que parece ser de verão e tem por título "Jazz in Paris", é praticamente impossível  deixar de comprá-lo. E pra completar, logo no início do texto do encarte, uma citação de Hemingway justo de seu romance mais famoso, escrito na capital francesa, onde ele cunhou a famosa frase "Paris nunca tem fim" iniciando um parágrafo que  se tornou icônico ao amantes da cidade. Aí você nem quer saber o preço e já se dirige ao caixa com o disquinho e o cartão de crédito nas mãos. 


Só que não se trata de um disco único e sim parte de uma coleção que, pelo que deu pra pesquisar no Google, tem mais de 150 títulos, todos produzidos pela francesa Gitanes Jazz Productions retratando sessões de jazzistas em suas passagens por Paris. Eu tenho apenas esse que, descobri, é o número 06 da coleção.  

E quando se começa a ouvir o prazer aumenta. Percebe-se que se trata de um primoroso trabalho de seleção de músicas, divididas em três sessões distintas, a cargo de Buck Clayton, Peanuts Holland e Charlie Singleton respectivamente. Os nomes podem não ser tão conhecidos, mas garanto que se trata de jazz de ótima qualidade.  


A primeira sessão, composta de cinco músicas, está a cargo do trompetista Buck Clayton e foi gravada em novembro de 1953, em Paris. Clayton está acompanhado, em todas as faixas por Michel de Villers (saxofone barítono e tenor), Gérard "Dave" Pochonet  (bateria), Jean-Pierre Sasson (guitarra) e André Persiany.  


A segunda sessão nos traz o também trompetista Herbert Lee "Peanuts" Holland. As quatro músicas que ele gravou, em 1954, para a coleção, foram acompanhadas de Charlie Blareau (contrabaixo), Baptiste "Mac Kac" Reilles (piano), Guy Lafitte (sax tenor) e Géo Daly (vibrafone). 

A terceira sessão, com mais seis músicas gravadas em 1955, tem à frente Charlie Singleton (foto), saxofonista, acompanhado de Eddie de Haas (contrabaixo), Reggie Jackson (bateria), André Persiany (piano), Charles Verstraete (trombone e acordeom) e Bernard Hulin (trompete). 


Na seleção de músicas encontram-se alguns clássicos do jazz como "It's Wonderful", tocada de maneira rápida e completamente diferente do que hoje se ouve, "Yesterdays" e "Lullaby of Birdland", entre várias outras, com belos improvisos em todas elas. 


Claro que eu gostaria de ter a coleção inteira, mas acho que ela não foi lançada no Brasil (meu único exemplar é importado). Há vários discos avulsos da coleção sendo oferecidos nos bons sites do ramo. E há uma relação completa de todos eles, sem som, infelizmente, em https://wiki.musicbrainz.org/Series/Jazz_in_Paris . 

sábado, 11 de junho de 2022

Uma coletânea de um gênio

Por Edmilson Siqueira 

Escrever sobre George Gershwin (setembro de 1898/julho de 1937) num blog musical é escrever sobre a própria música norte-americana do século 20. Há livros e mais livros sobre o compositor e sua obra está espalhada pelos quatro cantos do mundo, sendo regravada milhares de vezes. Quem não conhece a vida desse judeu russo cujo nome de batismo era Jacob Gershovitz, vai se espantar com tudo que ele fez antes dos 39 anos, data em que morreu vitimado por um tumor no cérebro. Detalhe: o nome mudou para George Gershwin não por imposição artística, mas sim pelos próprios pais que, ao chegarem nos Estados Unidos, "americanizaram" todos os nomes da família. Seu irmão Ira Gershwin, grande letrista e maior parceiro das músicas de George, se chamava Israel.  


Um conhecimento rápido sobre a vida desse gênio musical pode ser obtido com a leitura de uma pequena biografia dele neste endereço: https://blog.fritzdobbert.com.br/historias/george-gershwin/# 


Nesse texto você ficará sabendo que os pais dele contrataram um professor de piano para seu irmão, Ira, mas um dia George sentou-se ao piano e tocou uma música inteira que havia aprendido sozinho. A partir daí, decidiu-se que George é que aprenderia a tocar o instrumento. E o professor, após as primeiras aulas, decidiu que não cobraria nada por elas: para ele era um prazer ensinar piano a "um gênio".  

Dentre os muitos discos que homenagearam George e sua obra, está uma coletânea intitulada "'S Wonderful: The Jazz Giants Play George Gershwin", produzido por Eric Miller, em 1977.  O termo "gigantes do jazz" não está no título do disco à toa, porque, sim, os maiores nomes do jazz no mundo gravaram uma ou mais (geralmente bem mais que uma) músicas de George. E o nome de uma das músicas ("'S Wonderful" retrata muito bem o que você vai ouvir. 


O disco começa com ninguém menos que Miles Davis, com "But Not For Me" e, a partir daí, clássicos do jazz vão se sucedendo, tocados por diversos outros gênios como Miles.


Zoot Sims e Joe Pass vêm a seguir com "I've Got a Crush On You" e "Oh Lady, Be Good" respectivamente.  


O violinista Stephane Grapelli se junta a McCoy Tyner para apresentar um dos ícones da obre de Gershwin: "I Got Rhythm". Art Tatum aparece com "The Man I Love". The Modern Jazz Quartet, um grupo que é uma lenda do jazz nos Estados Unidos, junta nada menos que quatro sucessos: "Soon", "For You, For Me, Forevermore", "Love Walked In" e "Our Love Is Here To Stay".  


O quarteto de Benny Carter comparece com "Someone To Watch Over Me" e Red Garland com "'S Wonderful", música grava inclusive por João Gilberto. Nat Adderley se incumbe de "I Gott Plenty o'Nutting" e Cannoball Adderley surge com "Who Cares?". 

O festival de clássicos prossegue com Cal Tjader apresentando "It Ain't Necessarily So" e com Ken McIntyre e Eric Dolphin com "They All Laughed". 


Para completar a coletânea só de músicas boas de um único e genial autor, Lester Young apresenta "A Foggy Day" e Bill Evans encerra com "Our Love Is Here To Stay".  


Pra quem não sabe, George Gershwin é autor também das músicas do musical "Porgy and Bess" onde ponteia "Summertime", o megassucesso que continua sendo gravado até hoje. Sim, essa música não está na coletânea, mas who cares? 


O CD pode ser ouvido integralmente no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=qYSN2VBJL68&list=OLAK5uy_msAyZsK6o_gBZ66xxXWBSr4DKzPF_HVGw . 

O enterro da Jacinta

 Por Ronaldo Faria - Você só pode estar de sacanagem querendo que eu vá ao enterro da Jacinta. Sinto muito, mas eu é que não vou! - Mas, C...