sábado, 2 de julho de 2022

Viajando em italiano, no Renato e em Russo...

Por Ronaldo Faria



Lontano, in un altro continente che non vedrò mai, in qualcuno deve esserci un amore sincero, una cura, uno smeriglio che fila scintille di passione nell'immensità. Forse, chissà, un non credente riscoprirà sentimenti increduli e insonni, pazzi e increduli di esserlo. Altrimenti, nient'altro che essere...

Далеко, на другом континенте, которого я никогда не увижу, в ком-то должна быть искренняя любовь, забота, наждак, искры страсти разжигающий в бескрайнем. Быть может, кто знает, неверующий вновь откроет для себя недоверчивые и бессонные чувства, безумные и недоверчивые. Иначе не более чем быть...

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Quando Diana Krall chegou à bossa nova

Por Edmilson Siqueira 

Quando Diane Krall surgiu no cenário musical eu fiquei meio encantado. Uma voz muito bonita, uma ótima pianista cantando jazz, um disco bem produzido e, como se não bastasse, ela própria muito bonita. Escrevi sobre ela na coluna que mantinha na revista Metrópole do Correio Popular e passei a comprar seus CDs assim que por aqui aportavam. Um dia, acho que escrevendo uma segunda vez sobre um disco dela, brinquei na coluna que ela havia me mandado um e-mail. Expliquei, claro, que eu havia entrado para uma espécie de fã clube da moça e, como tal, recebia e-mail dos shows e lançamentos. E nos e-mails imprimiam a assinatura da moça. 


Passou um tempo e eu comecei a sentir falta da bossa nova no repertório de La Krall, como eu a havia apelidado. Não demorou muito e fiquei sabendo que ela estava gravando um CD que se chamaria Quite Nights que é, nada menos, que o nome da versão em inglês da música Corcovado, do nosso maestro soberano. Melhor: Diana ia gravar um DVD no Rio de Janeiro com as músicas do CD. 


Pois o disco saiu pela gravadora Verve, em 2009. É um dos melhores da moça que se rende, aqui, definitivamente à batida da bossa nova, não só nas músicas brasileiras, mas também adaptando outras ao sotaque musical carioca dos  anos 1960. Produzido por ela e por Tommy LiPuma e com uma grande orquestra conduzida por Claus Ogerman que também é o responsável pelos arranjos. 

Com esse time, já acostumado à bossa nova, Diana se mostra à vontade para cantar "Where or When", de Richard Rodgers e Lorenz Hart, "Too Marvelous for Words", de Richard Whiting e Johnny Mercer, "I've Grown Accustomed to his Face", de Ferderick Loewe e Alan Jey Lerner antes de cantar a versão em inglês de "Garota de Ipanema" que no disco virou "The Boy From Ipanema" e teve Paulinho da Costa na percussão para que nada saísse da medida.  


"Walk On By", de Burt Bacharach e Hal David, já vem contaminada pelo estilo manso e caliente que Diana sabe tão bem fazer, mantido em "You're My Thrill" de Jay Gorney e Sidney Clare.  


Jobim volta ao palco com "Esse Seu Olhar", sem versão em inglês. Sim, Diana se arrisca e canta em português e, claro, até erra uma ou outra palavra, mas o resultado é de alto nível. Já na música seguinte, ela está à vontade com o standard de Marcos e Paulo Sergio Valle - "So Nice" presença obrigatória num disco que se queira cantar a bossa nova. Só que aqui ela mostra suas habilidades ao piano antes de iniciar a letra em inglês do "Samba de Verão". 


Com todo o ambiente preparado, eis que chega a música título do disco. "Quite Nights" tem abertura de grande orquestra para a entrada da voz de Diana quase sussurrando no início para se encorpar em seguida, mantendo o clima adequado para o sucesso mundial de Jobim que ganhou letra em inglês de Genne Less e Buddy Key.  


Em seguida, chegamos à décima faixa, "Guess I'LL Hang My Tears Out To Dry", de Jule Styne e Sammy Cahn, uma canção densa com um belo arranjo orquestral.  

Sem qualquer referência no encarte do CD, há ainda mais duas faixas no disco: "How Can You Mend A Broken Heart", o sucesso dos Bee Gees escrito pelos irmãos Barry e Robim Gibb e "Every Time We Say Good Bye", de Cole Porter. Há ainda uma gravação que dizem pertencer ao disco, de "For No One", de Lennon e MacCartney e que pode ser ouvida, junto com todas as outras faixas no YouTube:  https://www.youtube.com/watch?v=lRu4LNfahgQ&list=PL2CceBAKApJbLj8UcUrBTBnhy6nmdnWcM&index=13 . E, claro, o CD e o belo DVD grtavado no Rio, estão à venda nos bons sites do ramo. 


É um disco que deixa, mais uma vez, orgulhoso o brasileiro que gosta da bossa nova como eu e que mostra que os grandes intérpretes de jazz continuam atento àquela que foi a mais internacional das produções musicais brasileiras. 

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Ao Gato Barbieri

 Por Ronaldo Faria


Estrada longa à frente. “Xongas”, diria um qualquer. “Milongas”, outro ninguém. O sax se solta ao entardecer. No escuro, um urro. Desejo incrédulo da mesa de bar e figura transfigurada do homem ao gole derradeiro. Espantalho num campo sem centeio. Na rua a mulher emudece diante dos faróis que rebrilham no asfalto enegrecido da fumaça que volatiza dos escapamentos. À espera do nada, filigranas de paixão se espalham no espelho que a tudo reluz. Desnudo, o dia se embriaga de beijos e trejeitos, carícias mil. Vozes roucas e rubras se desvanecem na penumbra tardia da vida. Entre um gole e outro, o abraço solto do louco que se entrega à orgia da solidão. Em sofreguidão. Afinal, na estrada longa à frente há um percurso, o transcurso entre o tátil e o taciturno. O limite entre o homem e o semideus. A incerta realidade entre a chegada e o adeus. A brincadeira sem eira e nem beira às margens do mar. No barco distante, o pescador enche a rede de incertezas e senões. Um peixe aqui e outro acolá se atiram para a morte. Uma sereia dança aos cânticos das conchas que brincam nos ouvidos dos menos precavidos. Na ponta do cais, a mulher chora seus derradeiros ais. Perto, o bonde se bandeia para qualquer lugar. O menino sobe no estribo a gargalhar. Da calçada, o moço vê os joelhos da moça na saia que o vento faz rodar. Ao som do sax, o tempo parece parar. Acima, uma pipa parece papear com a noite que chega por chegar...

quarta-feira, 29 de junho de 2022

A raiz da MBP num show de 1968

Por Edmilson Siqueira 

Cyro Monteiro, Nora Ney, Clementina de Jesus, Conjunto Rosa de Ouro (Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Mauro Duarte, Anescarzinho do Salgueiro e Nelson Sargento), Dino Sete Cordas, Arlindo e Índio: todos esses bambas estavam no palco do Teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro, em março de 1968 para mostrar a um entusiasmado público o show "Mudando de Conversa". A música do mesmo nome já era sucesso no rádio e o autor dos versos, Hermínio Bello de Carvalho (a música é de Maurício Tapajós) foi quem escreveu e dirigiu o show.  


A reunião de tanta gente boa num show criado por HBC, como Hermínio também era conhecido, só podia resultar num espetáculo memorável, com sambas e canções que marcaram época e estão até hoje soltos por aí, frequentando repertórios de bons cantores.  


O sucesso do show levou a Odeon a produzir um LP gravado ao vivo. Pena que ainda não existia o CD, pois grande parte do espetáculo de duas horas teve de ser cortada para caber nos pouco mais de 40 minutos de gravação que cabem num disco de vinil. Segundo o texto na contracapa do LP, ficaram de fora as piadas de Cyro Monteiro, as histórias sobre Geraldo Pereira e alguns lindos sambas contados por Nora Ney e Clementina de Jesus. 

Mas o que se selecionou é ouro puro da nossa MPB. O LP ainda se encontra em sites especializados ou no Mercado Livre, mas o menor preço que encontrei foi de R$ 150,00, com gente pedindo até mais de R$ 800,00. 


O disco acabou se configurando com 9 faixas, mas quatro delas são pot pourri, juntado 20 sambas e perfazendo 25 músicas no total. Os vários aplausos em cena aberta, no meio dos pot porris, dão uma ideia bastante precisa da recepção do show. No encarte do disco, que não está assinado, ficamos sabendo que a fina flor da MPB esteve na plateia: Vinicius de Moraes, Maria Bethânia, Ataulfo Alves, Chico Buarque, Elizete Cardoso, Pedro Bloch, Toquinho, Zimbo Trio etc. Numa das noites, os artistas da plateia invadiram o palco e fizeram o encerramento junto com o elenco oficial.   


"Lamento", "Formosa", "Sacode Carola", "Divina Dama", "Mudando de Conversa", "Eu e a Brisa", "Falsa Baiana", "Não Quero Mais Amar a Ninguém", "Leva Meu Samba" são algumas das músicas que compõem o disco. 

E ele pode ser ouvido na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=XaIrTZurxLg . 

terça-feira, 28 de junho de 2022

Ao Francis Hime

 Por Ronaldo Faria


Muito a falar, a tentar dizer, conversar. A lembrar cenas já sem palco, plebeia ou plateia. Mas logo vem o silêncio ausente, cru, desprovido da nudez que só tempo traz e faz. A fatídica e morta saudade que não parece dizer uma sílaba sequer. Na incerteza de um parêntese que faz a interface do nada, a voz da amada que recrudesce a luz da lua que brilha teimosa ao acalanto sem pranto da flor desfolhada e formosa.

Muito a clamar no clarear que se perdeu infante no adeus primeiro da aurora. Na casa de saibro, o menino queima de febre em catapora. Na árvore que repousa quieta no alto do morro, cheiro de amora. Na igreja, gorjeio de corujas sonâmbulas a acordarem do sono sombrio. Lá fora uma raposa espera quieta a chegada das galinhas que foram ciscar e contar grãos de milho. Na venda, a voz perdida de Seu Virgílio.

Muito a fazer poemas, tenham eles ou não extintas e flutuantes tremas. Nas tramas da vida, tramoias de amantes apaixonados e surdos aos carros que teimam em passar sibilares bem abaixo do quarto do apartamento que se esconde sobre um jardim. Entre o talvez e a próxima vez, o voltar de mãos trêmulas a afagar cabelos molhados e torneados no corpo que virou copo para a sede e o coito do amor.

Pouco a descrer na descrença fatídica que se faz fátua e fábula de uma sessão de cinema nunca assistida. Na bilheteria, a vendedora, que se chama Dora, adora quando o senhor de bengala e chapéu chega para assistir pela décima quinta vez a mesma cena, que teima em terminar com The End. No projetor, entre fotogramas colados e miligramas de tinta retinta, passam vidas e destinos marcados e desatinos.

Pouco a dedilhar entre teclas que nada mais são do que asseclas de uma poesia de amor.  Dessa que recobre de panos e letras um sentimento de dor. Talvez, noutra certa vez, a alegoria se confunda com a orgia e vire somente rara alegria. Senão, entre um sim e outro não, ambos saiam a dançar pelas ruas que margeiam a cama forrada de sons e se faz altaneira na cidade. À morte plena, nasceu a frágil realidade.

Pouco, por fim, a profetizar aquilo que nunca será. Nas ondas que arrebentam frias na areia e arrebatam o olhar da musa primeira, a certeza de que sentimentos urgem e brotam feito pássaros que voam sem saber chegar. Ao final, afinal qualquer lugar é lugar de derrear, um porto sem navios, naufrágios, belas morenas no cais, bebidas jorradas em canecas e adeuses que se prostram em lágrimas tais. Muito e pouco, pouco e muito, palavras fatais.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

AVISO

Excepcionalmente a coluna do Edmilson Siqueira não sairá hoje. Volta ao normal na quarta-feira.

sábado, 25 de junho de 2022

Coleman Hawkins fazendo bossa nova e jazz samba

Por Edmilson Siqueira

O último artigo foi sobre um disco gravado logo após a bossa nova estourar nos EUA, o que fez muitos músicos de jazz - vários deles presentes no famoso concerto do Carnegie Hall em novembro de 1962 - correrem para os estúdios e tentar entender o que era aquela música e fazer um disco com as pérolas que vinham de um estranho e desconhecido país chamado Brasil.  

Juntar um grupo de músicos brasileiros mais um jazzista famoso foi uma das fórmulas encontradas, como vimos no artigo anterior: o saxofonista Cannonbal Adderley se junta a vários e grandes músicos brasileiros e produz um disco que, se não é dos melhores que os gringos produziram com a bossa nova, não pode ser ignorado, já que tem muitas qualidades.  


Outros músicos, talvez já mais enturmados com a bossa nova, arriscaram mais e foram ensaiar só com músicos norte-americanos. Foi assim que Colemann Hawkins e seu sax, se juntou a Barry Hawkins e Howard Collin nos violões, a Major Holley no baixo e a Eddie Locke, Tommy Flanagan e Willie Rodrigues na percussão para gravar "Desafinado", entre os dias 12 e 17 de setembro de 1962, ou seja, dois meses antes do famoso concerto.  

O texto do CD, que manteve os originais, afirma que a bossa nova "é uma mistura do samba afro-brasileiro com o jazz afro-americano. No que parece um tempo surpreendentemente curto, a bossa nova tornou-se uma tendência dominante no jazz - ou assim parece pela quantidade de atividade da bossa nova predominante no outono de 1962." 


Pois é, em curto espaço de tempo, a bossa nova começou a influenciar o jazz e se tornou uma espécie de novidade a que muita gente aquiesceu. Havia, a partir de 1962, escolas de dança abertas com o chamariz de ensinar a dançar bossa nova. Para quem conhece um pouco da história dos EUA, sabe que raramente aquele povo adere a algo cultural vindo de fora.  


O disco, para não deixar dúvida do que viria, começa com "Desafinado" que Dan Mopngernstern, comentando as músicas do CD classifica como "provavelmente o mais popular e certamente o mais bonito dos standards de bossa nova, é interpretado com um apropriado toque de romantismo por Hawkins e Co." Evidentemente Dan não sabia que a música, composta por Jobim e Newton Mendonça (música e letra dos dois), era uma gozação aos cantores desafinados que amigos tinham de acompanhar nas noites do Rio.  


A segunda música, "I'm Looking Over a Four Leaf Clover" (Dixon Woods) poderia parecer fora do foco do disco à época, mas Dan explica: "À primeira vista uma escolha improvável para este álbum, é um marco no repertório de João Gilberto, cantor-guitarrista que é um dos maiores expoentes da bossa nova no Brasil". Trata-se, pra quem não sabe, de "Trevo de 4 Folhas" na tradução para o português de Nilo Santos Pinto.  


"Samba para Bean" foi uma homenagem de Many Albam a Hawkins, que era conhecido por "Bean" no meio musical. É realmente um "sambinha" bossa nova, resultado já da influência no jazz norte-americano.  


A música seguinte, "I Remember You" (Johnny Mercer e Victor Schertzinger), também segue no mesmo tom: feita por americanos tentando fazer bossa nova. E, claro, se saem bem: a levada no violão e na bateria lembra muito criações brasileiras escritas ao pôr do sol em Copacabana. 

"One Note Samba", o nosso Samba de Uma Nota Só", é saudado por Dan como o vice-campeão em preferências da bossa nova nos EUA, logo após Desafinado. Diga-se que em 1962, "Garota de Ipanema" não tinha estourado no EUA, o que só foi acontecer dois anos depois, na gravação de Astrud Gilberto, com o marido João Gilberto, no disco de Stan Getz. Ela seria a obra bossanovista mais gravada do planeta, com mais de 500 gravações pelo mundo, só perdendo, dizem, para Yesterday, de Paul McCartney.  


"O Pato" (Jayme Silva e Neiva Teixeira) vem a seguir e o sóbrio sax de Hawkins poderia até tirar um pouco do brilho da música, que é divertida nas versões brasileiras. Mas o tom de sobriedade acaba sendo motivo para um ótimo improviso mais à vontade, tanto do sax quando do violão.  


A música seguinte é de João Gilberto, um tributo que ele prestou ao compositor e amigo Luiz Bonfá, uma música com uma estrutura complexa que a turma de gringos toca muito bem.  


Encerrando o álbum, uma música de autoria do próprio Coleman, "Stumpy Bossa Nova". "Stumpy" quer dizer "Atarracado" e talvez Hawkins, ao se aventurar pela bossa nova, julgou o resultado meio preso aos seus concentos musicais e botou esse nome com já a se desculpar. Mas, se foi isso mesmo, nem precisava. É muito gostosa de ouvir essa bossa nova "atarracada".  


Há algumas músicas do disco no YouTube, mas não encontrei o disco inteiro. Ele pode ser comprado ainda nos bons sites do ramo. 

Cavaleiro solitário

 Por Ronaldo Faria O bar está fechado. Parece há tempo. Mas Hermínio não se dá por vencido. Enquanto houver uma sede por beber, beber-se-á. ...