Por Ronaldo Faria
Bossa Nova a tocar no piano
virtual. Entre a realidade e o desejo, um sinal. Uma praia distante, sangrada
de mares imaginários e verdes matas madrigais e infinitas, fatais. Morros
diversos que perfazem o sol que cai detrás deles em poemas e versos, todos
solares e prestos. E tem a morena a andar pela areia quente cheia de pedaços de
suores e cheiros dos amantes do fim do dia. Lá longe, defronte entre o nada e a
mentira, tem uma tira de tragédia antecipada, nuvem dissipada, carreira
cheirada pelo louco que dorme solitário e derradeiro.
No mais, um entardecer obscuro
e soturno, um cálido desaguar de olhares às coxas das moças, um esquálido
propor de amor e dor. Casais a se acasalarem nos corpos frágeis e ágeis que
correm pela calçada da zona que virou o sul. E se azucrinou de porres voláteis
e perdidos entre dedos e medos que percorrem lugares escondidos entre biquínis
mínimos e mimos que o bronze do sol derrete em dias que dão no que der. No
beijo entre línguas, o cabelo negro do rosto branco da mulher. A cena, pano
final do ato derradeiro qualquer.
No alto do morro, de dois
irmãos, uma bananeira se joga ao céu de pedra e perdão. Uma luz aqui e outra lá
se acende à chegada do escuro que esconde as ondas abaixo para o fim do mar. No
tudo, em turbilhão e canção, fica o barulho do que quebra quieto e se deita
entre as rochas e o oceano cadente e profano. Ao fim do horizonte, o desmonte.
No quadro que se enquadra aos olhos, a volta de barcos e navegantes cheios de marejar e vagas
espumas que esbranquiçam a pintura que se emoldura à gasta rotunda que volteia
brilhos e trilhos nunca alcançados.
No mar, no fundo mais fundo e
profundo que se faz ou fará, o desejo do amor se desfaz fugaz. Meras palavras
ao vento mormo que bate a noroeste. O começo de uma epidemia que vem sem peste.
Que se veste de peles entrecortas de desejos e recortadas de delírios que febre
nenhuma faz secar. Como féretro regado a berimbau e segredos, degredos, ensejos
e seixos. Ladeiras serpenteadas de paralelepípedos, subidas e descidas. Canções
acrescidas de formicidas e sinais que nem o maior dos arqueólogos saberá
decifrar à desmedida sina...
(Ao som da Cia. Estadual de Jazz)
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