Por Ronaldo Faria
Acabou! Acabou o Carnaval, o sal da areia colado no corpo, o suor que escorreu entre perfumes falsos e tresloucados beijos. Terminou a busca pela sereia com gosto de cereja, a benfazeja loucura dos quatro dias, a orgia fatídica e idílica. Findou a profética magia que determinava que haveria o dia da centelha do querer. O bloco desceu a ladeira mas esqueceu de subir de novo. A galinha gemeu e não colocou o ovo.
Acabou! Acabaram os dias de Momo, rei destronado, que esquentaram os corpos trágicos e cômicos ao mormaço de quase 50 graus. Nada mais de bebidas e energéticos, intrépidos foliões e rejeitados amantes que dormiram sós na solidão de uma escola que erra o enredo. Os vendedores com seus grandes isopores já estão roucos de tanto gritar. As falsas baianas retomam sua rotina de voltar a retornar.
Acabou! Chega de “está cedo”, onde a madrugada ainda diz que falta muito para o sol tornar a raiar. O sol já ressurgiu rei no calendário e no lunário. E veio senhor de tudo, resoluto em terminar com amores descabidos, cabides que seguram as roupas íntimas e molhadas, dádivas que só surgem na entrega eterna da paixão. Como renegados e execrados no amor, surgem parceiros perdidos nas estórias inglórias da ilusão.
Acabou! A hora agora é de brindar a realidade, a frágil e fácil verdade, a famélica crença de que o amanhã será além de uber ou metrô. De abrir a janela ao som do recomeço, no apreço de querer ser. De descer no elevador e dar bom dia sonolento ao vizinho que, igualmente, lamenta o mecanismo da máquina que o coloca no chão. Nesse momento, se isso for alento, sopra a brisa de vento. No ar, a emoção parece ser de domingo. De um domingo distante em que a folia poderá retornar.
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