terça-feira, 15 de julho de 2025

Charlie Byrd e a música brasileira *

Por Edmilson Siqueira


 
Que a bossa nova encantou os músicos de jazz dos Estados Unidos todo mundo sabe. Eles não só gostaram muito do que ouviram, como perceberam ali uma vertente jazzística digna desse nome. E, claro, entraram com tudo naquele "jazz" malemolente com lindas melodias. 
Charlie Byrd foi um desses músicos que se apaixonaram pela bossa nova. Mas ele foi além: Em 1961 veio ao Brasil, comprou, ou ganhou um monte de discos, participou de várias sessões com músicos brasileiros e voltou ao Estados Unidos carregados de boas lembranças daqui e disposto a transformá-las em disco. 
O disco acabou saindo em 1965 e se chama "Brazilian Byrd", com arranjos de Tom Newson, um saxofonista que também passeou pelo Brasil em 1962, com a orquestra de Benny Goodman e adorando a música brasileira que conheceu.
A gravação, só com músicas de Jobim e vários parceiros, acabou representando um dos momentos mais marcantes da união entre o jazz dos Estados Unidos e a bossa nova brasileira. Com arranjos refinados, técnica impecável e uma sensibilidade rara para os ritmos e harmonias do Brasil, Byrd mostra nesse álbum sua profunda admiração pela música brasileira, em especial pela obra de Jobim e seus parceiros que formaram a espinha dorsal da bossa nova.
Charlie Byrd não foi o primeiro músico norte-americano a se encantar com a música brasileira, mas foi um dos mais importantes na sua difusão no cenário jazzístico. Foi ele, inclusive, o responsável por apresentar a João Gilberto e Tom Jobim ao saxofonista Stan Getz, o que culminaria no antológico Jazz Samba (1962), um dos discos mais vendidos da história do jazz. "Brazilian Bird" é, em muitos aspectos, uma continuação desse projeto: fazer a ponte entre dois universos musicais distintos, mas complementares. 
Charlie Byrd era um guitarrista clássico de formação, com influência direta da escola espanhola e do violão erudito. Isso conferia a ele uma abordagem única dentro do jazz, que normalmente era dominado por guitarristas com palheta e linguagem mais próxima do blues ou do bebop. Ao tocar com os dedos, Byrd conseguia um som mais quente e articulado, ideal para as sutilezas da bossa nova.
 

Em Brazilian Byrd, ele evita o virtuosismo exibicionista. Seu foco é na melodia e na dinâmica. Cada nota soa clara, pontual, com atenção ao fraseado — como se a guitarra respirasse junto à música.
O álbum surge num momento de grande fascínio da cena de jazz norte-americana pela música brasileira. Nomes como Cannonball Adderley, Dizzy Gillespie, Herbie Mann e Paul Winter também estavam experimentando fusões com a bossa nova e o samba. Mas, entre todos, Charlie Byrd foi o mais consistente e talvez o mais respeitoso nas suas releituras. 
Diz a crítica especializada que "ao longo dos anos, o disco ganhou status de cult e permanece como um dos melhores exemplos do que hoje se chamaria de world jazz. A abordagem de Byrd influenciaria não apenas outros músicos de jazz interessados na música brasileira, mas também guitarristas brasileiros que perceberam, com ele, novas possibilidades para o violão dentro do jazz."
Assim, "Brazilian Byrd" é um álbum essencial para quem deseja entender como o Brasil entrou para o mapa afetivo do jazz internacional. Mais do que um disco instrumental, é um gesto de amor e reverência, em que um músico americano, com talento e sensibilidade, consegue captar a alma brasileira em sua forma mais musical.
São essas as 13 faixas (uma delas é uma gravação alternativa):
Só Danço Samba (Tom e Vinicius de Moraes)
Corcovado (Tom Jobim)
Este Seu Olhar (Tom Jobim)
Garota de Ipanema (Tom e Vinicius de Moraes)
Samba do Avião (Tom Jobim)
Engano (Tom Jobim e Luiz Bonfá)
O Amor em Paz (Tom e Vinicius de Moraes)
Dindi (Tom e Aloysio de Oliveira)
Canção do Amor Demais (Tom e Vinicius de Moraes)
As Praias Desertas (Tom Jobim)
Samba Torto (Tom e Aloysio de Oliveira)
Se Todos Fossem Iguais a Você (Tom e Vinicius de Moraes)
Engano (Tom e Luiz Bonfá - gravação alternativa)
O CD pode ser encontrado por aí, nos bons sites do ramo e pode ser ouvido no Spotify (https://open.spotify.com/intl-pt/album/1gPDlIt0HuXWNN9GDDItPu) e no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=s9SxWBm_WM8). No Spotify está completo. 
 
*A pesquisa para este artigo foi feita com auxilio da IA do ChatGPT.

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