quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Poemiseta (coisa de velho)

 Por Ronaldo Faria



Parcimônia que cheira que nem rara amônia.
Canção derramada em gotas na beira do rio.
Esperança que a mulher desperte nua para o cio.
Esperas na fera que se acalenta de quase nada.
Simbologia da orgia tardia e afugentada daqui.
Fotografia sem grafia de quem se esqueceu de grafar.
Epifania daquele que é apenas refugiado de si.
Plural em sevícias frígidas e trágicas no anoitecer.
Talvez uma tez famélica de ser tocada e beijada.
Aquela que o poeta concretiza em cada verso.
Canção perpétua e dúbia, algoritmo sem fim.
Talvez o crivo do crível descobrir no incrível desamor.
Na poesia contínua do lugar, o coração a bater no arfar.
Na saudade sem maldade, um eterno divagar.
Mas em qual lugar iremos um dia ou momento chegar?
Com certeza e experiência da ciência pessoal, nenhum.
Mas há onde o bote de naufrágios aportar o leme de chegar?
Entre segundos e fugidios minutos, o lar de Iemanjá.
Daqui, longe da Bahia, o tardio glamour de saber só ser.
No viés das ondas plurais, o mistério do entardecer.
Entre o eu mesmo e o eu de quem sabe o quê, o fim.
Erva doce a queimar no lugar e se largar no céu.
No fel de cada paixão, onde poder parar e crer?
No próximo dia, prostrado de ressaca, a cândida canção.
A esperança do ar rarefeito feito unção de torpor.
E talvez, quem sabe, no canto do sabiá entorpecerá.
Embriagado, abrigado em si, o poeta tenta se eternizar.
No vento parado no tempo, um livro de livre sexo.
E surge e urge o grito que esconde o condito urgir do mundo.
Falsas elegrias tardias e dispersas feito relicário de amor.
Como a cama que corre o quarto no frigir de gozos e odor.
Madrugadas naufragadas em elegias ternas de torpor.
Mas agora, na fauna e na flora, apenas se faz eólico fim.

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