Por Ronaldo Faria
“Como juntar uma porção
esquisita de metonímia e uma pitada de metáfora, fazer um bolo recheado de mil
emoções e depois cortá-lo com uma faca serrilhada e cega só para ti?”
O pensamento do amado delira em vórtices mentais e voltas de palavras em lavras e rimas cretinas. Sobra-lhe emoção, falta-lhe creatina. “Mas, para que tanto ser insólito a voar no ar? Que turvas imagens são essas que permeiam minha vista e meu pecado?”
Os delírios mentais da amada se travestem de pensamento e lamento indolor transbordado de dor. Resta-lhe desejo, sobra-lhe muito medo. “De que forma, mesmo deformada, poderei mandar-lhe uma fada madrinha? Como matar um galo que sempre viveu na rinha?”
“Como deixar o acaso viver ao ocaso, rastilho de fogo que não espocou na lenha queimada na madrugada, e ser a eternidade do nada? Pegar a caçarola para cozinhar ou deixar tudo cru?”
Nas loucuras soltas e roucas dos dois, passos e braços se entrecortam no caminho que para na esquina onde o pó dá nó no peito. Faltam-lhes carícias, sobram-lhes poemas de Vinicius de Moraes. Restam-lhes a verve dos ensandecidos e faltam-lhes a insana fala do que dizer.
II
Corpos nus no desnudar onde só a pele e as penugens podem vestir o amor. Olhares que brilham e tornam em centelhas meras performances de se juntar. Coisa tão milimétrica que nem a métrica poética sabe explicar. Onde está o demônio que não desaparta? Onde está o pai que não vê pecado no tal desenrolar? Por detrás da cortina de uma tela de LCD, o poeta profetiza nas músicas e no violão de um cantor o coração a sorrir e sambar na etérea batucada...