Por Ronaldo Faria
Zeus! Isso é nome de colocar
numa criança? Fazê-la desde o início ser um deus? Obrigar o pobre pequeno a dar
ordens em todos os outros deuses da mitologia desde o primeiro choro e a primogênita
mamada? Pra puta que pariu os pais que isso determinaram...
-- Zeus, e aí, vamos pra balada?
-- Vai ter birita?
-- Claro que vai!
-- Então estou nessa...
Zeus, brasileiro da gema, era desse jeito: ser multiforme em constante deformidade. Para ele, tanto valia o agora ser de grandiosidade de salões performáticos ou feito às vielas mais combalidas e diminutas. Se houvesse o que beber e viver, seu endereço estava ali. Todos pegaram o rumo, seguiram o prumo e colocaram a bússola no destino taciturno. Tudo, no fim, sabiam, vira fim de turno.
-- Que horas são?
-- Sei lá. Como ainda tem estrela no céu, deve ser tarde pra ser dia e cedo pra ser madrugada.
-- Bem pensado.
-- Se é escuro, vamos seguir o desejo. Afinal, um dia ele não existirá. Num caixão fechado e colocado debaixo de tudo, só a certeza de que se fez, fez. Se não fez, não mais fará!
Nas calçadas e esquinas, casas e janelas que rodeavam os amigos na busca de viver, olhares e suores, mãos e respirar sôfrego se misturavam com as gargalhadas do pequeno e grande exército de retintos e brancos leões.
-- Será que a Carolina vai estar lá?
-- Não sei. Mas deve estar. Ela não perde festa que tenha erva e cerveja.
Esse era o amor maior de Zeus: Carolina, Carol para uns e Lina pra outros mais. Mulher de cabelos que voavam negros entre a pela branca e os olhos que misturavam verdes e azuis todos límpidos, corpo que nem mesmo Michelangelo saberia esculpir, boca de lábios vermelhos em carne e prazer, era a musa que nem mesmo o próprio Zeus terá encontrado em Atenas ou Tróia. Carolina, vaticínio que o Vaticano assinaria como determinante e digno de alfarrábios bíblicos, era sua razão de existir.
-- Zeus, você é vidrado nessa mina...
-- Vidrado? Não. Vidro quebra. E ela é muito mais.
Por fim o grupo chega ao folguedo na pequena casa que se escondia numa rua pequena, pacata, estrábica à loucura da cidade, impávida no seu nenhum colosso.
-- Porra, encheu pra caralho! Como essa moçada toda soube do que ia rolar aqui?
Para Zeus, pouco importava. O importante era cruzar com Carolina. E assim se foi, a esbarrar com loucos desvairados, transviados, alucinados, calcinados de tanto queimar, bastardos e futuros contadores de histórias que se vale relembrar. E assim, de repente, de frente a frente, se dá com a amada. Sob a luz das velas que enlevam a cena, a agarra de presto. A beija com carinho e saciez como se logo mais não houvesse resto. E se deixam partir ao quintal que respira brisa e maresia ao luar que afugenta o tempo de passar. Neste momento, sem pecado, lamento ou perdão, se entregam em desvario e servidão. Dentro da casa, cálices se veem atirados no chão ao escaparem de mãos trêmulas e incertas. Alheio a tudo, o universo, em verso poético, pede que o mundo pare de girar.
(A ouvir Caetano Veloso em seus/meus Anos 80)
-- Zeus, e aí, vamos pra balada?
-- Vai ter birita?
-- Claro que vai!
-- Então estou nessa...
Zeus, brasileiro da gema, era desse jeito: ser multiforme em constante deformidade. Para ele, tanto valia o agora ser de grandiosidade de salões performáticos ou feito às vielas mais combalidas e diminutas. Se houvesse o que beber e viver, seu endereço estava ali. Todos pegaram o rumo, seguiram o prumo e colocaram a bússola no destino taciturno. Tudo, no fim, sabiam, vira fim de turno.
-- Que horas são?
-- Sei lá. Como ainda tem estrela no céu, deve ser tarde pra ser dia e cedo pra ser madrugada.
-- Bem pensado.
-- Se é escuro, vamos seguir o desejo. Afinal, um dia ele não existirá. Num caixão fechado e colocado debaixo de tudo, só a certeza de que se fez, fez. Se não fez, não mais fará!
Nas calçadas e esquinas, casas e janelas que rodeavam os amigos na busca de viver, olhares e suores, mãos e respirar sôfrego se misturavam com as gargalhadas do pequeno e grande exército de retintos e brancos leões.
-- Será que a Carolina vai estar lá?
-- Não sei. Mas deve estar. Ela não perde festa que tenha erva e cerveja.
Esse era o amor maior de Zeus: Carolina, Carol para uns e Lina pra outros mais. Mulher de cabelos que voavam negros entre a pela branca e os olhos que misturavam verdes e azuis todos límpidos, corpo que nem mesmo Michelangelo saberia esculpir, boca de lábios vermelhos em carne e prazer, era a musa que nem mesmo o próprio Zeus terá encontrado em Atenas ou Tróia. Carolina, vaticínio que o Vaticano assinaria como determinante e digno de alfarrábios bíblicos, era sua razão de existir.
-- Zeus, você é vidrado nessa mina...
-- Vidrado? Não. Vidro quebra. E ela é muito mais.
Por fim o grupo chega ao folguedo na pequena casa que se escondia numa rua pequena, pacata, estrábica à loucura da cidade, impávida no seu nenhum colosso.
-- Porra, encheu pra caralho! Como essa moçada toda soube do que ia rolar aqui?
Para Zeus, pouco importava. O importante era cruzar com Carolina. E assim se foi, a esbarrar com loucos desvairados, transviados, alucinados, calcinados de tanto queimar, bastardos e futuros contadores de histórias que se vale relembrar. E assim, de repente, de frente a frente, se dá com a amada. Sob a luz das velas que enlevam a cena, a agarra de presto. A beija com carinho e saciez como se logo mais não houvesse resto. E se deixam partir ao quintal que respira brisa e maresia ao luar que afugenta o tempo de passar. Neste momento, sem pecado, lamento ou perdão, se entregam em desvario e servidão. Dentro da casa, cálices se veem atirados no chão ao escaparem de mãos trêmulas e incertas. Alheio a tudo, o universo, em verso poético, pede que o mundo pare de girar.
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