terça-feira, 29 de julho de 2025

Mel Tormé & Tony Bennett: os estilistas da canção *

Por Edmilson Siqueira



Juntar dois cantores geniais num mesmo disco não é tarefa fácil, embora muitos disco com duplas notáveis já tenham sido produzidos. O normal é que ambo cantem as faixas (ou a maioria delas) juntos, em arranjos novos para sucessos de cada um ou até alguma música inédita.  
Mas há também um outro modo de apresentar dois grandes cantores num mesmo disco sem que estejam juntos nas faixas. Foi o que fez a Charly Records em sua coleção Classic Jazz: gravou dez faixas de cada um, separados e fez um CD com vinte faixas divididas entre Mel Tormé e Tony Bennet.  
E o disco "Mel Tormé & Tony Bennett: The Song Stylists" acabou reunindo duas das vozes mais distintas e reverenciadas da música vocal norte-americana do século XX. Com isso, a série da Charly acabou ganhando uma coletânea que ao juntar as 20 músicas, se tornou um documento sonoro notável que destaca a maestria de Mel Tormé e Tony Bennett como intérpretes ou, como o título sugere, "estilistas da canção". 
Essa expressão, “song stylist”, é mais do que uma simples etiqueta de marketing: define cantores cuja assinatura está não apenas na beleza da voz, mas principalmente na forma como interpretam e transformam uma música. Tanto Tormé quanto Bennett se encaixam perfeitamente nessa definição, cada um à sua maneira, com personalidade marcante, sensibilidade e uma profunda conexão com o repertório do jazz e da canção popular americana. 
Mel Tormé, conhecido como "The Velvet Fog", (apelido que ele detestava) construiu sua reputação com uma voz aveludada e um fraseado absolutamente refinado. Músico completo — cantor, compositor, baterista e arranjador —, Tormé era uma figura admirada não apenas por sua voz sedosa, mas por sua compreensão profunda da música. E foi um bom escritor também. 
Nas faixas que compõem sua parte no álbum, Tormé brilha com sua costumeira elegância. Ele não apenas canta: ele molda cada canção como um escultor molda sua obra, exibindo um domínio técnico impressionante, utilizando-se de variações melódicas e dinâmicas vocais sutis que dão nova vida a standards conhecidos. 
Já Tony Bennett representa uma outra vertente do "song stylist": mais visceral, mais direto, mais emocionalmente carregado. Dono de uma voz calorosa, com timbre robusto, Bennett é um mestre da interpretação apaixonada, sempre cantando com o coração na garganta. 
Mesmo nas canções mais simples, Bennett consegue extrair nuances de emoção que transformam a experiência auditiva. Ao contrário de Tormé, que frequentemente usa a sutileza como sua principal ferramenta, Bennett prefere a exposição emocional — ele se entrega por inteiro, com uma intensidade que beira o teatral, mas nunca ultrapassa os limites do bom gosto. 



O grande mérito de "The Song Stylists" está na capacidade de oferecer um retrato comparativo de duas escolas distintas de interpretação vocal, sem que se possa dizer que uma é melhor que a outra. Se Tormé representa o refinamento técnico e um cuidado jazzístico com as notas e com o tempo, Bennett é o expoente da emoção direta, da entrega apaixonada e da comunicação com o público. 
Por fim, é interessante notar que os dois artistas também tinham grande apreço um pelo outro. Em entrevistas, Tony Bennett expressou diversas vezes sua admiração por Mel Tormé, considerando-o um dos maiores cantores que já ouviu. Tormé, por sua vez, reconhecia em Bennett um intérprete autêntico, cuja paixão pela música era evidente em cada apresentação. 

As primeiras dez músicas são interpretadas por Mel Tormé:
1 - I'm Getting Sentimental Over Your (Bassman e Washington)
2 - I Can't Believe That You're In Love With Me (McHugh e Gaskill)
3 - Prelude To A Kiss (Ellington e Mills)
4 - You've Got The World In A String (Arlen e Koehler)
5 - (You've Got Me Between) The Devil And The Deep Blue Sea (Koehler e Arlen)
6 - I Surrender Dear (Cliford e Barris)
7 - I Let A Song Go Out Of My Heart (Ellington, Mills e Nema)
8 - Don't Worry About Me (Koehler e Bloom)
9 - One Morning In May (Carmichael e Parish)
10 - I Can't Give You Anything But Love (Fields e McHugh)
As 10 seguintes, cantadas por Tony Bennet:
11 - I've Grown Accustomed To Her Face (Lowe e Gaylemmer)
12 - Jeepers Creepers (Warren e Mercer)
13 - Growing Pains (Stone)
14 - Poor Little Rich Girl (Coward e Ascherberg)
15 - Are You Having Any Fun? (Yellen)
16 - I Guess I'll Have To  Change My Plans (Dietz e Schwartz)
17 - Chicago (Von Heusen e Cohn)
18 - With Plenty Of Money And You (Dubin e Warren)
19 - Anything Goes (Porter)
20 - Life Is A Song (Ahlet e Young)
O CD pode ser comprado nos bons sites do ramo. Atenção aos preços que são bem diferentes. Não consegui nenhum site que desmobilizasse o CD para ouvir. 

*A pesquisa para este artigo foi auxiliada pela IA do ChatGPT.

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